É preciso descer para depois subir

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Há muitas coisas que Deus faz e que não entendemos no momento, ou nunca vamos entender.

Me considero um cronista, mais do que um poeta ou um contista, mas ás vezes também sou memorialista, pois gosto de lembrar fatos e divagar sobre acontecimentos próximos ou distantes que ficam pairando de forma instigante e até revoltante.

E com este material componho textos que enriquecem e trazem á mente situações diversas e adversas que mostram uma realidade passada e ao mesmo tempo presente. Gosto da prática mais do que da teoria, escrevo aquilo que sinto, evito citar outros autores - isto não significa que não os leio ou não concordo com eles. É apenas uma opção pessoal.

Como eu dizia em epígrafe: há coisas que Deus faz e que não entendemos no momento, ou nunca vamos entender. Fui Presbítero durante mais de 17 anos, embora poucas vezes eu tenha de fato desempanhado o meu cargo. Talvez por ser um livre pensador, alguém que escreve "sem pedir licença" e gosta de expor suas ideias ás vezes meio malucas, tive alguma dificuldade com a cúpula da igreja. E isto acabou prejudicando a minha carreira ministerial. Mas vamos ao que mais interessa dentro deste contexto.

No dia 5 de agosto de 2012, numa rápida reunião, fui informado pelo meu pastor que tinha sido afastado do meu cargo, mas até agora eu não sei o verdadeiro motivo desta decisão que considero arbitrária. A sensação, no entanto, não foi de perda, mas de aprendizado e de resignação. Afinal, vivemos numa hierarquia e "obedecer é melhor do que sacrificar". Não tive opção a não ser concordar com a decisão repentina. No momento pensei: será uma experiência nova para mim. Depois de tantos anos "enfeitando o púlpito" agora vou ficar no meio do povão onde certamente poderei aprender muito mais e me relacionar melhor. Não fui humilhado e nem diminuido, me senti exaltado diante de Deus e não dos homens. E isto tem sido uma experiência única, útil e maravilhosa.

Estou aproveitando para refazer alguns conceitos e tentando tirar algum proveito. De repente, quem me mandou para baixo deve estar se sentindo por cima como no poema da gangorra do genial poeta Gióia Júnior. Mas alguém terá que descer quando eu tiver que subir. Esta ideia de subir e descer é meio paradoxal. Jesus não veio para ser servido, mas para servir. Nós somos servos, escravos ou serventes... Portanto, ficar no meio do povão pode ser considerado uma promoção e uma oportunidade de ouro para crescer na graça e no conhecimento. Já frequentei muitos púlpitos e sei como são as coisas por lá.

Na vida, já tive o privilégio de conhecer muita gente famosa, pessoas simples e pessoas extremamente discretas. É surpeendente quando se conhece verdadeiramente essas pessoas. Há uma inversão de valores e ficamos surpresos com as diferenças em meio as aparências. Imagino o Senhor Jesus andando por aqui no meio dos fariseus, escribas, doutores, religiosos e políticos da época. A Bíblia está cheia de exemplos, mas nem sempre queremos aprender e praticar. Desde a mulher samaritana, a mulher pecadora, a viúva que colocou tudo o que tinha no gazofilácio até o ladrão que foi salvo na cruz, muitos personagens nos mostram o valor das coisas desprezíveis e consideradas pequenas em relação á grandeza e o orgulho humano dos herodes. Vou ficar sentadinho no banco junto com este pessoal sem "pedigree" conhecido como "membros de banco", pois temos que primeiro descer para depois subir. Afinal, Deus faz muitas coisas que não entendemos no momento, ou nunca vamos entender. Mas Ele tem um propósito para todos e devemos esperar com paciência, pois Ele sempre tem o melhor para os seus filhos, independente de cargos ministeriais, anéis de formatura ou medalhas no peito. Ele, só Ele, nos conhece e sabe o que se passa em nosso coração e em nossa mente. Muita gente poderá ficar decepcionada quando chegar lá no céu. Se chegar lá, é claro.

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Opinião do leitor