É leproso, mas é o meu marido

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Uma coisa entre muitas, que há na Bíblia, são os personagens. São de todos os tipos, pessoas simples, reis, camponeses, soldados, generais, mestres, profetas, sacerdotes, enfim, um aglomerado de histórias, com destinos invejáveis, e infelizmente outros, que em nada pode ser copiado. Mas é a Palavra de Deus, não estou dizendo com isso que tudo o que eles falaram tornou-se a Palavra do próprio Deus, pois com isso estaria declarando que até as palavras do diabo são as de Deus, nada disso, mas os fatos, as situações, e até em muitos casos o que falaram, realmente tornou-se a Palavra de Deus. E neste contexto de personagens, gente que em muitos casos é o omitido o próprio nome (como muito bem tratou desse assunto o Pr. Bartolomeu Severino de Andrade em seu livro "Personagens Anônimos da Bíblia"), tornando-se anônimos nas páginas sagradas, mas que deixaram um grande legado como exemplo de vida.

Trago agora a vida de uma mulher, primeiramente ela não era judia, creio que também desconhecedora da adoração a Deus, vivia na Síria (no momento em questão, a Síria exercia o papel de dominadora sobre Israel), ela era a esposa de Naamã, o grande general do exército sírio, mencionado até pelo próprio Senhor Jesus (Lucas 4:27 - haviam muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Elizeu, mas nenhum deles foi curado, senão Naamã, o sírio). Sempre nas narrativas, pregações, sermões, escritos, a vida de Naamã é que está em ênfase, até eu mesmo já fiz isso. Naamã era leproso, se vivesse em Israel teria que viver exilado, afastado da família, esposa e filhos, não importava a situação social, teria que viver longe de todos. Entretanto, isso era no contexto de Israel, não na Síria.

A grande questão agora é o que leva uma mulher a conviver com um leproso? Além de leproso, era soberbo e mergulhado num orgulho doentio. Desconheço as leis e formas de convívio da antiga Síria, há um distanciamento quanto a este fato. Mas a atitude desta mulher ultrapassa leis, dogmas, ritos, ela decidiu conviver com um leproso.

Ela sabia que por trás da armadura do grande general, havia um homem leproso, que a cada dia sua carne definhava. Ao tirar o capacete militar, arranhado pelas batalhas, enxergavam a tristeza profunda de um herói nacional que sabia que em sua batalha final sairia derrotado, pois a morte era certa. Esta anônima nos traz um grande exemplo, de amor, amizade e companheirismo, não apenas convivia com as glórias do general, mas com o odor de carne podre de um moribundo. Diariamente removia as ataduras nas mãos, pés, cabeça, feridas pela lepra, sem poder beijá-lo, abraçá-lo.

Nossa vida dita como cristã, fica muito longe ao comparar com a vida desta pagã, pois estamos esperando o primeiro sintoma de lepra naquele, ou naquela que convive conosco, para abandoná-los, pois existe um desculpa, um fato que torna nossa decisão certa diante de nossos olhos. Maridos e mulheres de nossos dias disputam e se digladiam por um espaço, e quando não se acertam culpam o mau gênio do outro. Não sabemos suportar, esperar, não honramos nossos votos feitos diante do Senhor de vivermos até que a morte nos separe. Creio que o milagre na vida de Naamã não veio por causa da vida dele, mas por causa de sua esposa, ao saber através da menina escrava que havia em Israel um profeta, ela é a primeira a crer que seu marido seria curado se estivesse diante de tal profeta.

Quem conhece as lepras de um pastor, pregador, escritor, ministro, profeta, etc., não é o povo que lhe da crédito, mas a sua esposa, aquela que está ao seu lado, a que vê o grande homem, guerreiro de Deus, muitas vezes destruído, medroso, tímido, sem esperança, que o conhece muito bem, cada parte da sua vida onde a lepra ainda vive. Esta mulher muitas vezes esquecida pelos nossos generais de hoje, não aparecem nos DVD´s, nas fotos, nas revistas, não aparece junto dele antes de subir ao púlpito para ser instrumento de Deus, e nem sequer é feita uma mera menção a sua existência ou ao seu nome.

Pare, reflita e tome uma atitude.

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Opinião do leitor