Palavra do leitor
- 26 de novembro de 2010
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E agora, Lula?
E AGORA, LULA?
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
...
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
Dentro de pouco mais de trinta dias Lula virará José. O “José” no poema de Carlos Drummond de Andrade é o nosso Lula. Lá dos cafundós do interiorzão de Pernambuco, sacolejando num pau-de-arara empoeirado, o moço e familiares deram com os costados nessa gigante que não adormece chamada São Paulo.
Chegou no momento mais apropriado quando a indústria automobilística clamava por profissionais. Tornou-se torneiro mecânico. Perdeu um dedo. Casou, separou, casou de novo. Envolveu-se na política sindical. Eram anos de ditadura. Foi preso. Torturado, não. De lá para cá a trajetória levou-o até a presidência da república. Arrastou multidões. Chegado numa 'branquinha'. Discurso fácil, simples, pontual, voz de barítono, o ardor com que defendia os trabalhadores, levou tudo isso para a presidência. E fez o seu substituto.
Não levou com ele, porém, todo um universo apropriado e historicamente fundamentado a respeito do Brasil, das pessoas, do trato político, da coisa pública. Da democracia. Subiu e desceu na onda. Não se afez nem ao jeito nem ao ritual do cargo.
Melhorou o português, apurou o raciocínio, sentou-se ao lado de reis e rainhas, conheceu a glória facilitada pela rapidez de um ‘aerolula’. Ternos bem cortados. Mas o Brasil que séculos de história se somam até o presente, ele desdenhou na pessoa de seu antecessor. O Brasil começaria com Luiz Inácio Lula da Silva.
Por desprezar o ensino formal, a cultura, a história do Brasil através do aprimoramento, tentou construir um Brasil só seu. Todo seu. Com características próprias suas. ‘Nunca na história desse país’ correu o país como marca do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil não nascera por volta de 1500, mas em 2003.
Se quisesse ler ou tivesse lido Raymundo Faoro, OS DONOS DO PODER, para entender a formação do Brasil sob a égide do patrimonialismo português com a sua estrutura de dominação sobre o Brasil, esse Estado burocrático, por excelência; se tivesse bebido nas fontes que formaram um Fernando Henrique Cardoso; se instruído politicamente com um Tancredo Neves, para não ir muito longe; conhecido um cidadão de bem como Mario Covas, administrador por excelência... que Brasil e que Lula teríamos tido na Presidência da República Federativa do Brasil?
E agora, José? E agora, Lula?
Alguns anos atrás ouvi um pai contar que o filho mais velho dissera a ele, já comido pelos anos, ‘cheguei aonde cheguei por méritos próprios’, desdenhando o velho pai. Lula desdenhou de tudo o que o Brasil somou ao longo destes longos anos, mormente aqueles que vão dos tempos da ditadura até o presente, e tentou criar um Brasil com as marcas e características próprias de um Lula onde faltaram os ingredientes que mencionei acima.
Mas ninguém chega lá por méritos próprios, somente. Este Brasil que passa dos 500 anos tem uma herança e não há o que se re-inventar.
E agora, José? E agora, Lula?
Qual a herança, qual o legado de Luiz Inácio Lula da Silva?
Lula foi e é um homem da esquerda, diferente da esquerda de um PSDB ou de um Fernando Henrique Cardoso. Nunca foi leitor de obra alguma. A esquerda de Lula é aquela que tentou tirar milhões da pobreza na busca de uma igualdade social. Só o fez, e em parte, e deve-se reconhecer isso, graças ao ‘trabalho de casa’ feito pelo seu antecessor que procurou e alcançou a estabilidade. Sua linguagem política ao longo desses oito anos foi e é de divinizar o Estado, porém. Não foi uma esquerda herbívora nem carnívora.
Tenho comigo que a marca deixada pelo Presidente que sai é de ter maculado uma democracia nascente que poderia ter amadurecido um pouco mais, resultando em um perverso componente populista, posto que o populismo não necessita de instituições republicanas fortes, justiça e um Estado de direito, das quais o quase ex-presidente desdenha.
O escritor Mário Vargas Llosa entende que são fundamentos para uma biografia de uma estadista os mesmo do liberalismo: a democracia política, a economia de mercado e a defesa do indivíduo frente ao Estado. Eu acrescentaria: a propriedade privada. Não se pode dizer, creio eu, que o quase ex-Presidente seria, então um estadista, mas um simulacro de. Mistificador por excelência.
Faço minhas as palavras de Ricardo Vélez-Rodríguez “... um populista é um demagogo cínico que apregoa a salvação do povinho destruindo as instituições democráticas. Isto é, nem mais nem menos, o que Lula tem feito: desmoralizar as instituições de direito, a começar pela representação política, pela Justiça, pela imprensa livre, pelos Tribunais de Contas e pela vida político-partidária, para, sobre as cinzas da anomia, erguer a sua figura de salvador da Pátria”.
E agora, Lula?
E agora, Brasil?
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
...
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
Dentro de pouco mais de trinta dias Lula virará José. O “José” no poema de Carlos Drummond de Andrade é o nosso Lula. Lá dos cafundós do interiorzão de Pernambuco, sacolejando num pau-de-arara empoeirado, o moço e familiares deram com os costados nessa gigante que não adormece chamada São Paulo.
Chegou no momento mais apropriado quando a indústria automobilística clamava por profissionais. Tornou-se torneiro mecânico. Perdeu um dedo. Casou, separou, casou de novo. Envolveu-se na política sindical. Eram anos de ditadura. Foi preso. Torturado, não. De lá para cá a trajetória levou-o até a presidência da república. Arrastou multidões. Chegado numa 'branquinha'. Discurso fácil, simples, pontual, voz de barítono, o ardor com que defendia os trabalhadores, levou tudo isso para a presidência. E fez o seu substituto.
Não levou com ele, porém, todo um universo apropriado e historicamente fundamentado a respeito do Brasil, das pessoas, do trato político, da coisa pública. Da democracia. Subiu e desceu na onda. Não se afez nem ao jeito nem ao ritual do cargo.
Melhorou o português, apurou o raciocínio, sentou-se ao lado de reis e rainhas, conheceu a glória facilitada pela rapidez de um ‘aerolula’. Ternos bem cortados. Mas o Brasil que séculos de história se somam até o presente, ele desdenhou na pessoa de seu antecessor. O Brasil começaria com Luiz Inácio Lula da Silva.
Por desprezar o ensino formal, a cultura, a história do Brasil através do aprimoramento, tentou construir um Brasil só seu. Todo seu. Com características próprias suas. ‘Nunca na história desse país’ correu o país como marca do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil não nascera por volta de 1500, mas em 2003.
Se quisesse ler ou tivesse lido Raymundo Faoro, OS DONOS DO PODER, para entender a formação do Brasil sob a égide do patrimonialismo português com a sua estrutura de dominação sobre o Brasil, esse Estado burocrático, por excelência; se tivesse bebido nas fontes que formaram um Fernando Henrique Cardoso; se instruído politicamente com um Tancredo Neves, para não ir muito longe; conhecido um cidadão de bem como Mario Covas, administrador por excelência... que Brasil e que Lula teríamos tido na Presidência da República Federativa do Brasil?
E agora, José? E agora, Lula?
Alguns anos atrás ouvi um pai contar que o filho mais velho dissera a ele, já comido pelos anos, ‘cheguei aonde cheguei por méritos próprios’, desdenhando o velho pai. Lula desdenhou de tudo o que o Brasil somou ao longo destes longos anos, mormente aqueles que vão dos tempos da ditadura até o presente, e tentou criar um Brasil com as marcas e características próprias de um Lula onde faltaram os ingredientes que mencionei acima.
Mas ninguém chega lá por méritos próprios, somente. Este Brasil que passa dos 500 anos tem uma herança e não há o que se re-inventar.
E agora, José? E agora, Lula?
Qual a herança, qual o legado de Luiz Inácio Lula da Silva?
Lula foi e é um homem da esquerda, diferente da esquerda de um PSDB ou de um Fernando Henrique Cardoso. Nunca foi leitor de obra alguma. A esquerda de Lula é aquela que tentou tirar milhões da pobreza na busca de uma igualdade social. Só o fez, e em parte, e deve-se reconhecer isso, graças ao ‘trabalho de casa’ feito pelo seu antecessor que procurou e alcançou a estabilidade. Sua linguagem política ao longo desses oito anos foi e é de divinizar o Estado, porém. Não foi uma esquerda herbívora nem carnívora.
Tenho comigo que a marca deixada pelo Presidente que sai é de ter maculado uma democracia nascente que poderia ter amadurecido um pouco mais, resultando em um perverso componente populista, posto que o populismo não necessita de instituições republicanas fortes, justiça e um Estado de direito, das quais o quase ex-presidente desdenha.
O escritor Mário Vargas Llosa entende que são fundamentos para uma biografia de uma estadista os mesmo do liberalismo: a democracia política, a economia de mercado e a defesa do indivíduo frente ao Estado. Eu acrescentaria: a propriedade privada. Não se pode dizer, creio eu, que o quase ex-Presidente seria, então um estadista, mas um simulacro de. Mistificador por excelência.
Faço minhas as palavras de Ricardo Vélez-Rodríguez “... um populista é um demagogo cínico que apregoa a salvação do povinho destruindo as instituições democráticas. Isto é, nem mais nem menos, o que Lula tem feito: desmoralizar as instituições de direito, a começar pela representação política, pela Justiça, pela imprensa livre, pelos Tribunais de Contas e pela vida político-partidária, para, sobre as cinzas da anomia, erguer a sua figura de salvador da Pátria”.
E agora, Lula?
E agora, Brasil?
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