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Palavra do leitor

Dois pesos, duas medidas?

‘’A ética a ser seguida pelos discípulos de Cristo, com seus ensinamentos e valores, sempre se remete ao ato e a prática do servir, logo, diante de tal sentença, as demais questões são secundárias. ’’

Se observarmos a parábola do filho pródigo, sejamos sinceros, não estamos diante de uma manifestação de injustiça. Ora, quem no lugar do filho que permaneceu com o pai, cumpriu as exigências, levantou ao espertar de cada manhã e se deparou com as contingências do suor de cada dia, não procederia da mesma forma ou com a mesma postura de indignação?

Afinal de contas, eis, então, o fanfarrão, o espertalhão, o aproveitador, o dilapidador de volta e ainda recebido com pompas de um estadista, de uma figura sublime e digno de todos os reconhecimentos.

Não bastasse, ainda teve um banquete e todas as iguarias, enquanto o outro permanecia numa condição de simplesmente engolir tudo a seco.

Parto dessas colocações e estabeleço uma narrativa de algo, ao qual me inquietava na respectiva parábola, porque parece haver uma ausência de consequências e efeitos nas lambanças do filho aventureiro. Devo admitir, sobre uma ótica do certo e errado, do aqui se faz, aqui se paga, há um desfecho incoerente; entretanto, acredito, piamente, na intenção de Jesus de ensinar aos discípulos, aos ouvintes e com maior ênfase aos fariseus e escribas, em função de que os pertencentes a tais nichos sociais pintavam o quadro de um amor de exigências, de recompensas, de critérios e preceitos a serem seguidos.

Em outras palavras, um Deus voltado a pesar e sopesar o amor com relação ao ser humano. Eis o olhares estupefatos e o estado de cólera dos apologistas de um Deus de dois pesos e duas medidas, de um amor que traz uma cartilha para ser aceito e se for, apos ouvirem a parábola do filho pródigo.

Lamentavelmente, quantos, ultimamente, não enfrentam algo semelhante e se enveredam numa profusão de exigências para quem sabe vivenciarem o perdão de escolhas já firmadas?

Muitos, domingo após domingo, nos redutos de sua alma, prosseguem a carregar uma culpa e condenação por uma ruptura conjugal, por uma gestação na adolescência, por uma decisão por não constituir uma família e outras peculiaridades de situação que marcam pessoas.

O interessante na parábola do filho pródigo se pauta no abraço, na alegria, no lenitivo, no êxtase e no viver do pai, com relação a uma parte de sua filiação perdida, um outrora andarilho, abaixo de um pedinte, esquecido nas kracolândias dos banidos, dos marginalizados, dos excluídos, dos indigentes e dos órfãos de esperança, de justiça, de misericórdia, de esperança e de fé.

Sem pestanejar, o pai o acolhe e faz uma festa de arromba. Deveras, os fariseus e os escribas encarnavam um amor de atos e práticas enredado por inúmeras condições. Em direção oposta, o pai põe de lado os pesos e as medidas para simplesmente receber e permitir o recomeçar ao filho.

Em tempos de uma procura tresloucada por encontrar meios de preencher nosso vazio existencial, ao qual muitos creem na fantasia de uma teologia ufanista e triunfalista, somos chamados para deixar de lado os pesos, a balança, as condições, os critérios, as classificações e conceder a Palavra e ao Espírito Santo provocar vida em nosso ser e no próximo.

Dou mais uma pincelada, ‘’Eu vos amei’’, ou seja, o Cristo Ressuscitado alcançou o nosso passado, perpassa pelo nosso presente e vai até os fins dos tempos. Atentemos, ‘’Eu vos amei, independentemente de ser um usuário de drogas, de ter vivenciado uma gravidez precoce, de um casamento frustrado, de uma perda ministerial, de um momento de acusação de outros, de um abraço e outras cenários’’. Por enquanto, possamos ir a direção do evangelho da aceitação e inclusão, ao qual não representa nenhuma banalização da Graça, mas a sua plena compreensão.
São Paulo - SP
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