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Palavra do leitor

Dividindo as águas

Quando Moisés levantou a vara e estendeu a mão sobre o mar, este, de maneira maravilhosa, se abriu permitindo que Israel saísse definitivamente do Egito em direção à Terra Prometida. Quando o exército do Faraó tentou seguir pelo mesmo caminho, o mar se fechou, tragando os egípcios.

Esta passagem apresenta duas fases importantes do povo de Israel: antes e depois da escravidão no Egito. Antes da passagem Israel não era um povo livre, não tinha líder, não tinha esperança. Após a passagem ele passou a ser livre, ter líder, Moisés, mas principalmente tinha esperança; esperança de poder chegar à Terra Prometida por Deus.

Este início de nossa reflexão teve o objetivo de “adubar” o terreno para que se entenda melhor o caminho que desejamos trilhar com nossos leitores.

Existe uma passagem na Bíblia, mais exatamente no início do Novo Testamento, que costumo chamá-la de “divisor de águas”. No meu entender, não é no início de Mateus, mas nesta passagem que realmente está a divisão do Livro Santo nas duas partes. Antes dela teríamos o Velho Testamento, ou a Velha Aliança, como fica melhor chamar. Depois dela teríamos o Novo Testamento, ou a Nova Aliança. Mas, que passagem curiosa é esta?

É a seguinte, que se encontra em Lucas 16, versículos 16 e 17: “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele. E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei.”

Vemos que a Velha Aliança (a lei e os profetas) teve como último personagem João Batista. A partir dele entra em cena o personagem central da Nova Aliança, Jesus Cristo, anunciando a Boa Nova da chegada do Reino de Deus a todo homem. Mesmo quem não pertence ao povo eleito, agora pode se tornar filho de Deus, pois, “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.12-13).

O texto de Lucas 16 mostra também que, sem distinção, todo homem tem como objetivo inato, o desejo de entrar no reino de Deus, sem excessão. Mesmo aqueles que buscam a Deus da maneira errada, são motivados para a entrada no Paraíso. Consciente ou inconscientemente o homem se esforça por “merecer”, por sua luta, por seu sacrifício, por sua força, o reino de Deus. Nem mesmo o ateu está isento deste sentimento, ainda que lute contra ele. Se não acreditasse na Eternidade (ou eternidade) simplesmente se entregaria ao acaso, senão, lutar porquê? O ateu pode até não crer em Deus, mas, com certeza, não deixa de crer na Eternidade.

Mas, esta luta para ganhar o reino de Deus é em vão! Ninguém merece o Céu pois “Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Näo há quem faça o bem, näo há nem um só” (Rm 3.12). Todas as obras humanas, perante a Justiça de Deus são “como trapo de imundícia” (Is 64.6).

No entanto, “Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (II Co 5.21). Nossa justiça só terá valor se vier pelos méritos de Jesus.

Apesar da quase nula importância que se dá a este texto bíblico, Lucas 16.16 é no meu modesto entender, o balizador da fé cristã, um verdadeiro divisor de águas! Qualquer proposta teológica verdadeiramente cristã que não perceber que este texto de Lucas deve ser levado em conta máxima está fadada a se tornar mais uma tentativa teológica que criará apenas outra opção, não uma base segura de fé.

Quando Jesus pronunciou aquelas palavras Ele estava, na realidade, promulgando um decreto, talvez o mais importante que Ele jamais tenha feito! Parece-me que, em importância, este “decreto” só perde para aquele dado na cruz, o qual lhe complementa: “Está consumado”!

Mas, será que não está havendo exagero? Tentaremos, em poucas palavras, elucidar esta questão.

Uma leitura cuidadosa do texto parece nos revelar uma certa “incoerência” de Jesus. Por que será que Ele disse no início que a lei e os profetas duraram até João, ou seja, que ali eles perderam a validade para no final dizer o oposto: “E é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei”? Exatamente porque, para quem aceitou Jesus Cristo como Salvador e Senhor a lei e os profetas perdem seu valor: “Este é o meu Filho amado; a Ele ouvi!” Assim, não vigora mais, para estes, nenhuma lei do Velho Testamento; sejam cerimoniais ou não. Porém, para quem não aceitou Jesus Cristo como Salvador e Senhor, a lei e os profetas continuam a vigorar, pois, para estes “é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til da lei”.

Muitos se decepcionarão ao descobrir que lutou em vão tentando fazer sua própria justiça, não aceitando a justiça de Deus, Jesus Cristo!

“Mas agora, sem lei, tem-se manifestado a justiça de Deus, que é atestada pela lei e pelos profetas; isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que crêem; pois não há distinção.” (Rm 3.21-22)
Juiz De Fora - MG
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