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Palavra do leitor

Deus não precisa de defensor público (nem privado)

O nosso senso de justiça é muitas vezes indisfarçadamente tendencioso. Ficamos indignados com muitas coisas que julgamos ser erradas e, se fôssemos legisladores, algumas leis seriam instituídas com muito rigor para legitimar os nossos mais profundos anseios por justiça.

Talvez alguns defendessem, por exemplo, a cadeira elétrica como sentença para os crimes bárbaros e hediondos (para mim, a prisão perpétua já é de bom tamanho, pois, à luz do que se depreende a partir da leitura do Novo Testamento, inclusive das Palavras proferidas por Jesus Cristo, não vemos base teológica para defendermos esta sentença penal).

Quando se fala de justiça divina, a coisa muda de figura e o caldo engrossa em muitas discussões sobre o ser de Deus. Há quem questione e rejeite a revelação de Deus a partir das Escrituras Sagradas (como também a sua inspiração) por achar que a bondade divina não se coaduna com a maneira do Deus da Bíblia julgar e castigar o pecador (aí surgem as perguntas de sempre: se Deus é bom, por que permite isto ? por que permite aquilo ?)

Para muitos, a existência do inferno parece algo fictício. Estranho é perceber que muitos, de maneira velada, não confessada, já desejaram que algum desafeto fosse parar lá no inferno (até o compositor Roberto Carlos já fez rima com esta palavra: “só quero que você me aqueça neste inverno e que tudo mais vá pro inferno”).

Eu deixo Deus ser Deus, mesmo sem entender muitas coisas, pois o que é, é, e jamais deixará de ser. Além do que, Deus não me deve explicações e nem precisa de defensor público (ou privado).

As visitações divinas ao povo Hebreu, por meio dos profetas, às vezes vinham carregadas de sentenças de juízo, incluindo mortes trágicas sobre parte do povo de israel como também a povos estrangeiros. Nos dias de hoje, muitas pessoas ainda não suportam ler ou ouvir falar dessas passagens bíblicas, achando indissociável o comportamento divino explicitado nos escritos do Antigo Testamento com as falas e ações de Jesus Cristo, pela forma como pregava sobre amor e misericórdia. O fato é que talvez muitos ainda não saibam ou não estejam lembrados que, pela boca de Jesus, a palavra inferno foi proferida várias vezes (só no Evangelho Segundo São Mateus, encontrei oito versículos).

Para mim, depois de ter visto o sofrimento impetrado pelo Pai ao seu Filho Unigênito (para que eu pudesse ser salvo), entendo um pouco melhor a dimensão da malignidade dos nossos pecados, que foram castigados em Jesus: “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias; e o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão” (Isaias 53:10) ... “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Coríntios 5:21).

Que o inferno é um lugar real, eu não tenho dúvida. Entretanto, não sou juiz de vivos e mortos para definir quem lá está ou quem ainda vai para lá.

Certa ocasião, perguntaram a Caio Fabio “por que Deus matava os humanos pelas mãos dos heróis no Antigo Testamento ?”. Com muita propriedade, ele respondeu: “Deus é Deus, e todos têm que aprender a dormir com este barulho. Além disso, a morte de um homem na Terra não é nada além da cessação da existência dele na Terra. Crente tem mania de botar no inferno todos os assassinados, mortos em batalha, e vítimas de calamidade. Se Deus, pelas mãos de juízes, estava erradicando povos e dando aquele chão a Israel, isso nada tem a ver com a perdição eterna dos erradicados. Aquele foi apenas um acontecimento histórico. Mas para quem só pensa na existência nos horizontes desta vida, tais ações parecem bárbaras. Esse escândalo só acontece em humanistas que perderam a visão da eternidade”.
Recife - PE
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