Palavra do leitor
- 24 de março de 2009
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Deus não mentiu
Esperei por mais de vinte anos por uma resposta de Deus; os distúrbios do sono me acompanharam, após a conversão; no centro da minha fé eu acreditava que, se Deus quisesse, eu voltaria a dormir, era simples. Eu queria muito dormir; puxa vida! Até propus um acordo: "Se o Senhor me deixar dormir, nunca mais o aborreço, nem vai lembrar que existo, amém!". E deitava...
O dia clareava, me encontrando alerta, pronto pra dormir; recusava-me a aceitar que tem coisas que Deus não pode fazer. O problema era comigo, a insônia era sequela dos muitos anos de drogas, noites em claro, fui cão de guarda de barão, era o meu ganha-pão; ou ganha-drogas.
Alguns textos eu evitava a todo custo, Salmos 4: 8, meu mais completo desespero: ““Em paz me deito e logo pego no sono, por que, Senhor, só Tu me fazes repousar seguro. Salmos 3: 5, minha ““certidão de “orfandade: “ Deito-me e pego no sono, acordo, por que o Senhor me sustenta. ”” Pensa que não pode piorar? Durma com um barulho desses, “ Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeaste, aos seus amados ele o dá enquanto dormem.”
Passaria a noite anotando passagens: “ Sentir-te-ás seguro, porque haverá esperança; olharás em derredor e dormirás tranqüilo.” Jó 11: 18, de cada uma destas promessas eu me lembrava, todas as noites, sem esquecer nenhuma, temia o pior, não ser filho de DEUS. Acaso alguém faz idéia do que seja conhecer as promessas de DEUS e ter à sua frente duas décadas provando que não são promessas pra você?
Lembra do episódio no qual o Senhor ordena e a tempestade obedece? O que o Senhor fazia? “... Entretanto, Jesus dormia.” Em meio a uma baita tempestade. Mateus 8: 24; e eu me matando de tanto tomar medicamentos em troca de duas horas de sono, de péssima qualidade. Se Ele quisesse, eu dormiria.
E Jonas? Desobedece, faz tudo na contramão de DEUS, desce para dormir. Comecei a não dormir na prisão; ali ninguém se sente seguro, expectativa de horror, a constante sensação de que algo muito ruim está para acontecer. Velava. Quanto a Jonas, certamente perdeu o sono na barriga do peixe.
Quando cheguei ao centro de recuperação de mendigos – Missão Vida, vinha de um período de rua, onde só bêbado dorme; tinha muito trabalho durante a noite, era ladrão de mendigos de ponto fixo; estes sempre têm dinheiro e cachaça. Na fazenda passei noites inacabáveis racionando minha reserva de ansiolíticos e antidepressivos.
Na noite da minha reconciliação, eu não pedi pra dormir, só voltei a tocar no assunto com DEUS muito tempo depois, quando Dª Cleide e Dª Joana me aconselhavam a lutar contra a absurda dependência de dezenove comprimidos por dia. Tomava os medicamentos receitados pelo psiquiatra especializado em distúrbios do sono, a idéia era me passar direto para o estado de sono profundo, evitando assim os pesadelos, provável razão para o meu cérebro se recusar a desligar.
No entanto, os efeitos colaterais me obrigavam a tomar mais medicamentos, e estes traziam outros efeitos e assim... Comecei orando duas horas por noite, na época eu fui convencido de que a fila era menor durante as madrugadas, DEUS tinha tempo livre, (!) fila menor; “peço perdão por afrontar-Te, ó Soberano!”
Acostumei-me a testar minha fé, afinal, com duas horas de oração, tinha créditos com DEUS; deixava os medicamentos sobre a cômoda do quarto 06 e ficava vigiando, a qualquer momento chegaria minha vez, a qualquer momento eu dormiria, “duas horas de oração, puxa vida! Agora não tem jeito, DEUS não tem mais motivos pra me ferrar!” Anoiteci e amanheci por 22 noites, olhando para os comprimidos e desesperando: “Se eu não dormir sem os remédios, não tenho fé, se eu tomar o remédio e dormir, afirmo que DEUS mentiu.” Me estrepei de vez. E Paulo se achava um homem miserável!
Fui transferido para Uberlândia-MG, e numa devocional, o pr. Alexandre decidiu orar para DEUS acabar com minhas noites de zumbi, me estressei terrivelmente, mas não disse palavra, ele orava com a expressão tão boa! Parecia acreditar. Ocorreu algo estranho naquela noite, peguei no sono, antes dos medicamentos. Complicou mais ainda, de manhã perdi a hora de acordar os internos, por quatro dias isso aconteceu; lembrei-me de uma parte da oração: “Ó DEUS, se for preciso eu esmurro a porta, derrubo a porta, não tem problemas, mas faz com que meu irmão durma bem.”
Está pagando a língua até hoje; é verdade, já não tomo medicamentos, durmo facilmente, ainda perco a hora. Dormir parece simples, mas é melhor que comer, beber água, se eu não fosse crente, diria, é mágico. Quando me lembro das duas últimas décadas, nas quais não dormi, anoiteci; não acordei, amanheci, envergonho-me por duvidar, por desistir, pela amargura que tomou conta da minha fé. Recito os textos que antes me desesperavam, humilhavam, e choro não mais de desalento, de desencanto, choro agradecido, DEUS não mentiu.
(ex-interno do centro de recuperação de mendigos - Missão Vida)
www.mvida.org.br
O dia clareava, me encontrando alerta, pronto pra dormir; recusava-me a aceitar que tem coisas que Deus não pode fazer. O problema era comigo, a insônia era sequela dos muitos anos de drogas, noites em claro, fui cão de guarda de barão, era o meu ganha-pão; ou ganha-drogas.
Alguns textos eu evitava a todo custo, Salmos 4: 8, meu mais completo desespero: ““Em paz me deito e logo pego no sono, por que, Senhor, só Tu me fazes repousar seguro. Salmos 3: 5, minha ““certidão de “orfandade: “ Deito-me e pego no sono, acordo, por que o Senhor me sustenta. ”” Pensa que não pode piorar? Durma com um barulho desses, “ Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeaste, aos seus amados ele o dá enquanto dormem.”
Passaria a noite anotando passagens: “ Sentir-te-ás seguro, porque haverá esperança; olharás em derredor e dormirás tranqüilo.” Jó 11: 18, de cada uma destas promessas eu me lembrava, todas as noites, sem esquecer nenhuma, temia o pior, não ser filho de DEUS. Acaso alguém faz idéia do que seja conhecer as promessas de DEUS e ter à sua frente duas décadas provando que não são promessas pra você?
Lembra do episódio no qual o Senhor ordena e a tempestade obedece? O que o Senhor fazia? “... Entretanto, Jesus dormia.” Em meio a uma baita tempestade. Mateus 8: 24; e eu me matando de tanto tomar medicamentos em troca de duas horas de sono, de péssima qualidade. Se Ele quisesse, eu dormiria.
E Jonas? Desobedece, faz tudo na contramão de DEUS, desce para dormir. Comecei a não dormir na prisão; ali ninguém se sente seguro, expectativa de horror, a constante sensação de que algo muito ruim está para acontecer. Velava. Quanto a Jonas, certamente perdeu o sono na barriga do peixe.
Quando cheguei ao centro de recuperação de mendigos – Missão Vida, vinha de um período de rua, onde só bêbado dorme; tinha muito trabalho durante a noite, era ladrão de mendigos de ponto fixo; estes sempre têm dinheiro e cachaça. Na fazenda passei noites inacabáveis racionando minha reserva de ansiolíticos e antidepressivos.
Na noite da minha reconciliação, eu não pedi pra dormir, só voltei a tocar no assunto com DEUS muito tempo depois, quando Dª Cleide e Dª Joana me aconselhavam a lutar contra a absurda dependência de dezenove comprimidos por dia. Tomava os medicamentos receitados pelo psiquiatra especializado em distúrbios do sono, a idéia era me passar direto para o estado de sono profundo, evitando assim os pesadelos, provável razão para o meu cérebro se recusar a desligar.
No entanto, os efeitos colaterais me obrigavam a tomar mais medicamentos, e estes traziam outros efeitos e assim... Comecei orando duas horas por noite, na época eu fui convencido de que a fila era menor durante as madrugadas, DEUS tinha tempo livre, (!) fila menor; “peço perdão por afrontar-Te, ó Soberano!”
Acostumei-me a testar minha fé, afinal, com duas horas de oração, tinha créditos com DEUS; deixava os medicamentos sobre a cômoda do quarto 06 e ficava vigiando, a qualquer momento chegaria minha vez, a qualquer momento eu dormiria, “duas horas de oração, puxa vida! Agora não tem jeito, DEUS não tem mais motivos pra me ferrar!” Anoiteci e amanheci por 22 noites, olhando para os comprimidos e desesperando: “Se eu não dormir sem os remédios, não tenho fé, se eu tomar o remédio e dormir, afirmo que DEUS mentiu.” Me estrepei de vez. E Paulo se achava um homem miserável!
Fui transferido para Uberlândia-MG, e numa devocional, o pr. Alexandre decidiu orar para DEUS acabar com minhas noites de zumbi, me estressei terrivelmente, mas não disse palavra, ele orava com a expressão tão boa! Parecia acreditar. Ocorreu algo estranho naquela noite, peguei no sono, antes dos medicamentos. Complicou mais ainda, de manhã perdi a hora de acordar os internos, por quatro dias isso aconteceu; lembrei-me de uma parte da oração: “Ó DEUS, se for preciso eu esmurro a porta, derrubo a porta, não tem problemas, mas faz com que meu irmão durma bem.”
Está pagando a língua até hoje; é verdade, já não tomo medicamentos, durmo facilmente, ainda perco a hora. Dormir parece simples, mas é melhor que comer, beber água, se eu não fosse crente, diria, é mágico. Quando me lembro das duas últimas décadas, nas quais não dormi, anoiteci; não acordei, amanheci, envergonho-me por duvidar, por desistir, pela amargura que tomou conta da minha fé. Recito os textos que antes me desesperavam, humilhavam, e choro não mais de desalento, de desencanto, choro agradecido, DEUS não mentiu.
(ex-interno do centro de recuperação de mendigos - Missão Vida)
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