Palavra do leitor
- 28 de fevereiro de 2010
- Visualizações: 2445
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?
Peter Rollins, no livro "How (not) to speak of God" (Paraclet press), tece interessantes comentários sobre o sábado de aleluia. Inicia comentando como a Paixão tem que ser vista como uma unidade, pois a crucificação e a ressurreição se completam, não só enquanto drama histórico, mas como teologia. Uma não subsiste sem a outra, em nenhuma das duas vertentes. Contudo, as horas que separam estes dois eventos são pouco usadas como reflexão, apenas como um momento de espera. Ele propõe a seguinte estória:
No dia em que Jesus foi crucificado, um grupo de seguidores embalou seus pertences e saíram em busca de um novo lar, pois o abalo emocional sofrido pela crucificação tornavam impossível a permanência deles onde Cristo havia sido sacrificado. Saíram da Palestina, e nunca mais retornaram. Viajaram por milhares de quilômetros até encontrarem um lugar remoto e isolado, onde construíram uma vila. Juraram proteger a memória de Jesus e viver segundo os seus ensinamentos.
Após 300 anos de isolamento, um grupo de missionários cristãos os encontrou e ficou maravilhado em encontrar uma vila onde todos viviam o modo sacrificial ensinado por Jesus, apesar de desconhecer Suas ressurreição e ascenção. Imediatamente convocaram a todos e os ensinaram o que havia ocorrido, após a partida dos seus pais fundadores.
Naquela noite houve uma grande festa. Um dos jovens missionários notou a ausência do líder da comunidade e saiu a sua busca. Encontrou-o, afinal, em um barraco na periferia do território da vila, orando e chorando. Surpreso, questionou toda aquela tristeza frente à grande notícia trazida. Agachado, em dor, o ancião respondeu:
"Um dia de grande celebração e grande dor. Por 300 anos temos seguido o caminho que Cristo nos ensinou. O seguimos fielmente, apesar do grande custo, e nos mantivemos resolutos apesar do medo da morte tê-lo vencido e de que, um dia, nos venceria."
O ancião levantou-se e fitou o jovem missionário compassivamente.
"Diariamente renunciamos às nossas vidas por ele, porque o consideramos completamente digno de receber este sacrificio, de receber nosso ser. Mas agora estou preocupado porque minhas crianças e as crianças de minhas crianças podem seguí-lo não pelo valor implícito que Ele tinha, mas pelas promessas que Ele fez."
Com isto, o ancião deixou o barraco, se dirigindo para a festa, e deixando o jovem com seus pensamentos.
O horror da cruz não foi a morte pela tortura lenta, nem a suprema humilhação pública (os condenados eram expostos nus), mas a possibilidade de Deus ter abandonado Deus - este é o inimaginável, o impensável, o intolerável. Entre outras coisas, é o fracasso.
Nesta estória somos apresentados a uma comunidade que seguia Cristo não por causa da ressurreição, mas pela sedução. Eles sabiam o verdadeiro significado daquele brado na cruz, pois viveram com ele até onde sua memória permitia.
É neste local de radical incerteza que nós, como esta comunidade, devemos nos perguntar por que lutamos para sermos fiéis a Cristo. Aqui podemos nos perguntar se é por causa das promessas e segurança, ou se o nosso compromisso com Ele as transcende.
A fé não nasce no sábado de aleluia, mas é nele que ela é testada.
--
Postado também no Crer é Pensar
No dia em que Jesus foi crucificado, um grupo de seguidores embalou seus pertences e saíram em busca de um novo lar, pois o abalo emocional sofrido pela crucificação tornavam impossível a permanência deles onde Cristo havia sido sacrificado. Saíram da Palestina, e nunca mais retornaram. Viajaram por milhares de quilômetros até encontrarem um lugar remoto e isolado, onde construíram uma vila. Juraram proteger a memória de Jesus e viver segundo os seus ensinamentos.
Após 300 anos de isolamento, um grupo de missionários cristãos os encontrou e ficou maravilhado em encontrar uma vila onde todos viviam o modo sacrificial ensinado por Jesus, apesar de desconhecer Suas ressurreição e ascenção. Imediatamente convocaram a todos e os ensinaram o que havia ocorrido, após a partida dos seus pais fundadores.
Naquela noite houve uma grande festa. Um dos jovens missionários notou a ausência do líder da comunidade e saiu a sua busca. Encontrou-o, afinal, em um barraco na periferia do território da vila, orando e chorando. Surpreso, questionou toda aquela tristeza frente à grande notícia trazida. Agachado, em dor, o ancião respondeu:
"Um dia de grande celebração e grande dor. Por 300 anos temos seguido o caminho que Cristo nos ensinou. O seguimos fielmente, apesar do grande custo, e nos mantivemos resolutos apesar do medo da morte tê-lo vencido e de que, um dia, nos venceria."
O ancião levantou-se e fitou o jovem missionário compassivamente.
"Diariamente renunciamos às nossas vidas por ele, porque o consideramos completamente digno de receber este sacrificio, de receber nosso ser. Mas agora estou preocupado porque minhas crianças e as crianças de minhas crianças podem seguí-lo não pelo valor implícito que Ele tinha, mas pelas promessas que Ele fez."
Com isto, o ancião deixou o barraco, se dirigindo para a festa, e deixando o jovem com seus pensamentos.
O horror da cruz não foi a morte pela tortura lenta, nem a suprema humilhação pública (os condenados eram expostos nus), mas a possibilidade de Deus ter abandonado Deus - este é o inimaginável, o impensável, o intolerável. Entre outras coisas, é o fracasso.
Nesta estória somos apresentados a uma comunidade que seguia Cristo não por causa da ressurreição, mas pela sedução. Eles sabiam o verdadeiro significado daquele brado na cruz, pois viveram com ele até onde sua memória permitia.
É neste local de radical incerteza que nós, como esta comunidade, devemos nos perguntar por que lutamos para sermos fiéis a Cristo. Aqui podemos nos perguntar se é por causa das promessas e segurança, ou se o nosso compromisso com Ele as transcende.
A fé não nasce no sábado de aleluia, mas é nele que ela é testada.
--
Postado também no Crer é Pensar
Os artigos e comentários publicados na seção Palavra do Leitor são de única e exclusiva responsabilidade
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
- 28 de fevereiro de 2010
- Visualizações: 2445
- comente!
- +A
- -A
- compartilhar
QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI.
Ultimato quer falar com você.
A cada dia, mais de dez mil usuários navegam pelo Portal Ultimato. Leem e compartilham gratuitamente dezenas de blogs e hotsites, além do acervo digital da revista Ultimato, centenas de estudos bíblicos, devocionais diárias de autores como John Stott, Eugene Peterson, C. S. Lewis, entre outros, além de artigos, notícias e serviços que são atualizados diariamente nas diferentes plataformas e redes sociais.
PARA CONTINUAR, precisamos do seu apoio. Compartilhe conosco um cafezinho.
Opinião do leitor
Para comentar é necessário estar logado no site. Clique aqui para fazer o login ou o seu cadastro.
Ainda não há comentários sobre este texto. Seja o primeiro a comentar!
Escreva um artigo em resposta
Para escrever uma resposta é necessário estar cadastrado no site. Clique aqui para fazer o login ou seu cadastro.
Ainda não há artigos publicados na seção "Palavra do leitor" em resposta a este texto.
Revista Ultimato
- +lidos
- +comentados
- Por quê?
- O salário do pecado é a morte, em várias versões!
- É possível ser cristão e de "esquerda"?
- Não andeis na roda dos escarnecedores: quais escarnecedores?
- A democracia [geográfica] da dor!
- Os 24 anciãos e a batalha do Armagedom
- Mergulhados na cultura, mas batizados na santidade (parte 2)
- A religião verdadeira é única, e se tornou uma pessoa a ser seguida
- Não nos iludamos, animal é animal!
- Até aqui ele não me deixou