Palavra do leitor
- 18 de abril de 2008
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Deus ídolo
"Deus é o criador, Deus é eterno, Deus é todo-poderoso, Deus é bom, Deus é sabedoria, Deus é vida, Deus vê tudo, Deus ouve tudo, Deus governa tudo, Deus julga tudo, Deus..." Imagino que você concordaria com cada uma destas afirmações e talvez até acrescentasse algumas mais, por que não? Mas se eu lhe dissesse que o contexto destas afirmações representam uma atitude fascista, idólatra e até mesmo sádica? Imagino que você pudesse replicar que, em se tratando de Deus, as afirmações continuariam válidas. É possível que eu lhe respondesse como o personagem Pedro Pedreira (Francisco Milani) da escolinha do professor Raimundo que diante de um suposto impasse sacava o seu bordão: Há controvérsias! Sim, por cortesia, descartaria o seu "não me venha com chorumelas".
Será que Deus se torna mais Deus somente porque verbalizamos e lhe dedicamos uma cascata de atributos? Jesus, acompanhado de Isaías (29.13), Ezequiel (33.31) e Jeremias (12.2) parece acreditar que há certas pessoas, a quem chamou de hipócritas (Mc 7.6), que honram a Deus com os lábios, mas seus corações estão longe dEle (Mt 15.8). Mas quem julgará o coração? Os frutos deste trigo ou joio darão uma boa pista. Mesmo nos mais ardorosos praticantes da religião.
Explico-me por este começo meio enviesado. O livro "O livreiro de Cabul" de Asne Seierstad que na capa traz a frase apelativa "campeão nas listas de mais vendidos do The New York Times", é um relato da repórter norueguesa que passou três meses com uma típica família afegã logo depois da derrubada dos Talibãs do poder. Nele ela descreve a intimidade e o dia-a-dia da casa de Sultan Kan. Um relato cru de uma sociedade patriarcal marcada pela intolerância religiosa e por costumes ancestrais que a nós parecem totalmente estranhos, até mesmo cruéis.
A frase com que começo este texto é o que o pobre Fazil, 11 anos, deveria copiar (dez vezes) como castigo por não saber responder se Deus morria ou não. Isto depois de ter tomado umas reguadas nos dedos do "simpático" professor de islam. A certa altura da aula, Fazil recebeu orientações sobre o que é pecado. Comer carne de porco e beber álcool é haram. Pecar é haram. Já halal é uma boa coisa. Mubah não é bom, mas não é pecado. Exemplo. Comer carne de porco para não morrer de fome. Fazil tremia de medo, se respondesse errado o castigo seria certo.
É estranho que vivamos um período religioso tão fértil. Uma espécie de renascimento da religião em todos os cantos do mundo. Mas não nos soa esquisito o tipo de deus que anda por aí, um deus que não passa de um ídolo, dependendo da versão? Foi-se o tempo do silêncio contido e ao mesmo tempo alumbrado diante do Altíssimo. Não é que não houvesse palavras de louvor, havia uma tal reverência que qualquer palavra pareceria demais. Ouvia-se gemidos extasiados. Segundo Paulo aos Romanos (8.26), a forma de oração em que o sujeito da prece é atalhado pelo Espírito Santo quando toda palavra se tornou inútil ou indizível.
Será que Deus se torna mais Deus somente porque verbalizamos e lhe dedicamos uma cascata de atributos? Jesus, acompanhado de Isaías (29.13), Ezequiel (33.31) e Jeremias (12.2) parece acreditar que há certas pessoas, a quem chamou de hipócritas (Mc 7.6), que honram a Deus com os lábios, mas seus corações estão longe dEle (Mt 15.8). Mas quem julgará o coração? Os frutos deste trigo ou joio darão uma boa pista. Mesmo nos mais ardorosos praticantes da religião.
Explico-me por este começo meio enviesado. O livro "O livreiro de Cabul" de Asne Seierstad que na capa traz a frase apelativa "campeão nas listas de mais vendidos do The New York Times", é um relato da repórter norueguesa que passou três meses com uma típica família afegã logo depois da derrubada dos Talibãs do poder. Nele ela descreve a intimidade e o dia-a-dia da casa de Sultan Kan. Um relato cru de uma sociedade patriarcal marcada pela intolerância religiosa e por costumes ancestrais que a nós parecem totalmente estranhos, até mesmo cruéis.
A frase com que começo este texto é o que o pobre Fazil, 11 anos, deveria copiar (dez vezes) como castigo por não saber responder se Deus morria ou não. Isto depois de ter tomado umas reguadas nos dedos do "simpático" professor de islam. A certa altura da aula, Fazil recebeu orientações sobre o que é pecado. Comer carne de porco e beber álcool é haram. Pecar é haram. Já halal é uma boa coisa. Mubah não é bom, mas não é pecado. Exemplo. Comer carne de porco para não morrer de fome. Fazil tremia de medo, se respondesse errado o castigo seria certo.
É estranho que vivamos um período religioso tão fértil. Uma espécie de renascimento da religião em todos os cantos do mundo. Mas não nos soa esquisito o tipo de deus que anda por aí, um deus que não passa de um ídolo, dependendo da versão? Foi-se o tempo do silêncio contido e ao mesmo tempo alumbrado diante do Altíssimo. Não é que não houvesse palavras de louvor, havia uma tal reverência que qualquer palavra pareceria demais. Ouvia-se gemidos extasiados. Segundo Paulo aos Romanos (8.26), a forma de oração em que o sujeito da prece é atalhado pelo Espírito Santo quando toda palavra se tornou inútil ou indizível.
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