Palavra do leitor
- 28 de outubro de 2008
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Deus é humano
Meu pai faleceu há pouco mais de dois anos. Ele era um homem culto e bem informado, mas não era convertido. Gostava muito de ler, mas gastou boa parte do seu tempo lendo livros que questionavam a existência de Deus, os ensinamentos de Jesus, a vida cristã.
Tivemos alguns embates por causa dos seus comentários baseados nas teorias céticas nas quais ele acabou acreditando. Um deles, a respeito da oração de Jesus, no Monte das Oliveiras. Numa certa ocasião, meu pai afirmou que Jesus pediu a Deus para passar dEle o cálice que O aguardava, porque estava com medo de morrer.
Evidentemente, para mim era impossível que o Deus Filho sentisse medo. Afinal, Ele era Deus! Restringi-me a responder assim: que Deus não sente medo. E não me lembro do rumo que a discussão tomou, depois.
Acreditei estar representando muito bem o meu papel de cristã, naquele momento, ao defender a divindade de Jesus. Anos mais tarde foi que entendi que, na verdade, era Jesus, enquanto vivia a extrema angústia pelo Seu fim, no Getsêmani, que defendia a minha humanidade, com aquela oração.
Tenho trinta anos de idade e já experimentei dores horríveis, ao longo da minha vida. Uma delas, a de perder meu pai, que era tão saudável que me fez acreditar que ele seria “imortal”. Em todas as situações de sofrimento, fui levada a acreditar que a dor que ele me causava não era legítima, que a alegria necessariamente deveria suplantar o choro, principalmente porque tudo era um propósito do Senhor. Em secreto, pensava que Deus desaprovava as minhas lágrimas e se envergonhava da minha fraqueza. As pregações que insistiam que Deus estava no controle faziam-me crer que eu não tinha licença para lamentar minhas perdas.
Mas, num certo dia, percebi que meu pai tinha razão. Jesus sabia dos detalhes da tortura que enfrentaria e temia pelo sofrimento que iria experimentar. Apesar de conhecer bem o propósito pelo qual Deus O trouxera em carne a esta terra, Cristo, por um momento, desejou não cumpri-lo, por medo. E chegou ao ponto de suar sangue, dada a angústia em que Se encontrou, por causa disso.
Eu já chorei muito, já perdi as esperanças muitas vezes, já fiquei sem comer, já perdi o ânimo para trabalhar e já desejei morrer pelas dores que a vida me causou. Mas nunca cheguei perto de suar sangue, apesar de toda a angústia que senti. O sofrimento de Jesus pelo porvir foi maior que o meu, no meu pior momento, e isso me fez compreender que alegrar-me em Deus não significa que eu deva ser capaz de sentir prazer na desgraça. O fato de Deus estar no controle pode ser um consolo, mas não me torna insensível às intempéries da vida.
Num momento de dor e temor intensos, no Getsêmani, Jesus ensinou-me que eu tenho o direito de me sentir em frangalhos, porque isso faz parte da natureza humana; que admitir uma tristeza não é falta de fé no poder de Deus; que as máscaras da felicidade plena não precisam compor o meu figurino, para o culto de domingo. Jesus ensinou-me que ter bom ânimo para vencer o mundo não significa estar “de bem com a vida” todos os dias, mas apenas ter disposição para continuar, quando a vida decidir, em algum momento, não estar de bem comigo.
Tivemos alguns embates por causa dos seus comentários baseados nas teorias céticas nas quais ele acabou acreditando. Um deles, a respeito da oração de Jesus, no Monte das Oliveiras. Numa certa ocasião, meu pai afirmou que Jesus pediu a Deus para passar dEle o cálice que O aguardava, porque estava com medo de morrer.
Evidentemente, para mim era impossível que o Deus Filho sentisse medo. Afinal, Ele era Deus! Restringi-me a responder assim: que Deus não sente medo. E não me lembro do rumo que a discussão tomou, depois.
Acreditei estar representando muito bem o meu papel de cristã, naquele momento, ao defender a divindade de Jesus. Anos mais tarde foi que entendi que, na verdade, era Jesus, enquanto vivia a extrema angústia pelo Seu fim, no Getsêmani, que defendia a minha humanidade, com aquela oração.
Tenho trinta anos de idade e já experimentei dores horríveis, ao longo da minha vida. Uma delas, a de perder meu pai, que era tão saudável que me fez acreditar que ele seria “imortal”. Em todas as situações de sofrimento, fui levada a acreditar que a dor que ele me causava não era legítima, que a alegria necessariamente deveria suplantar o choro, principalmente porque tudo era um propósito do Senhor. Em secreto, pensava que Deus desaprovava as minhas lágrimas e se envergonhava da minha fraqueza. As pregações que insistiam que Deus estava no controle faziam-me crer que eu não tinha licença para lamentar minhas perdas.
Mas, num certo dia, percebi que meu pai tinha razão. Jesus sabia dos detalhes da tortura que enfrentaria e temia pelo sofrimento que iria experimentar. Apesar de conhecer bem o propósito pelo qual Deus O trouxera em carne a esta terra, Cristo, por um momento, desejou não cumpri-lo, por medo. E chegou ao ponto de suar sangue, dada a angústia em que Se encontrou, por causa disso.
Eu já chorei muito, já perdi as esperanças muitas vezes, já fiquei sem comer, já perdi o ânimo para trabalhar e já desejei morrer pelas dores que a vida me causou. Mas nunca cheguei perto de suar sangue, apesar de toda a angústia que senti. O sofrimento de Jesus pelo porvir foi maior que o meu, no meu pior momento, e isso me fez compreender que alegrar-me em Deus não significa que eu deva ser capaz de sentir prazer na desgraça. O fato de Deus estar no controle pode ser um consolo, mas não me torna insensível às intempéries da vida.
Num momento de dor e temor intensos, no Getsêmani, Jesus ensinou-me que eu tenho o direito de me sentir em frangalhos, porque isso faz parte da natureza humana; que admitir uma tristeza não é falta de fé no poder de Deus; que as máscaras da felicidade plena não precisam compor o meu figurino, para o culto de domingo. Jesus ensinou-me que ter bom ânimo para vencer o mundo não significa estar “de bem com a vida” todos os dias, mas apenas ter disposição para continuar, quando a vida decidir, em algum momento, não estar de bem comigo.
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