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Palavra do leitor

Desconectar – se para conectar – se

Desconectar – se para conectar – se



Os historiadores traçam a descoberta do fogo, da roda, da escrita, da imprensa, como também o surgir da indústria e, mais recentemente, da informática como revoluções responsáveis por estabelecer modos singulares na maneira de o homem fazer uma leitura da vida.

Mais recentemente, vamos colocar, os últimos cinquenta anos, encabeçado pela tecnologia, a maneira de interpretamos, tudo alderedor, sofreu e tem sofrido alterações significativas. Ultimamente, trilhamos, cada vez mais, pela cultura da conexão, da informação em tempo real, do imediato como carro chefe para um suposto mundo globalizado. De certo, a internet abriu as portas para as pessoas adentrarem em uma pletora de universos e o watshap aponta para uma conectividade integral, vinte e quatro horas. Basta atentar para as pessoas, seja qual for o lugar, se encontram interligadas, aparentemente.

É bem verdade, os benefícios são inquestionáveis, entretanto, não incorremos no malefício crônico e endêmico de evitar o silêncio, o diálogo, a ponderação, a tolerância e a reflexão minuciosa? Sinceramente, somos partes das engrenagens de um sistema devorador e de aquisição, sem o verbo parar, pausar e partilhar. Tudo deságua na dimensão de resultados, de satisfações, de atender aos impulsos fomentados por uma ditadura das imagens, pelo qual somos bombardeados, diariamente.

Por consequência, abrimos as páginas e estamos diante de uma fé atordoada, longe do silêncio, da solidão, de ouvir a palavra, em nosso ser, de caminhar pelas verdades da Graça, sem aquela corrida patológica por provar e comprovar se Deus está ou não comigo. Tristemente, mesmo diante de toda uma avalanche de informações e conclusões sobre Cristo, continuamos inquietos, a procura de algo a mais, sem conceber beleza e bondade na vida. Nada disso, prevalece o dualismo (Deus e o diabo, o bem e o mal, o certo e o errado, a luz e a escuridão) para, verdadeiramente, ancorados em belas justificativas.

Noutro lado, não necessitamos de uma espiritualidade permeada pelo silêncio para ir a palavra, por meio do Espírito Santo, e remover os excessos de notícias, de expectativas, de vontades, de incertezas, de dilemas para sermos submergidos na Graciosa Fecundidade do Carpinteiro dos Recomeços e haver, então, inspiração e criação para ouvir e não escutar apressadamente, distraidamente e ritualisticamente?

Deveras, tornamo – nos adeptos de um sistema ditatorial de conexão, com orações pré-formatadas por um discurso positivista travestido com a Cruz de Cristo, por um discurso de batalha espiritual que não desnuda o mais letal e funesto dos satanistas (a começar: eu mesmo), com seus farisaísmos, com suas predileções, com suas segregações, com suas mazelas, com suas torpezas, com sua sede por vilipendiar o próximo, com sua fome doentia por explorar até a ultima gota, com suas convicções egoístas?

Para a piorar a situação, afastamos da inter – relação cristã o contexto da convivência e a substituímos pela coexistência, em outras palavras, delimitamos a ajuntamentos, pelo qual cada um leva seus interesses, debaixo do braço, escuta uma exposição e, por fim, vai embora, sem olhar para os lados. Em meio a tudo isso, confundimos a oportunidade de silêncio, de ouvir e de dialogar com deserto, com o arrefecer da presença de Deus e o levante colossal dos conluios demoníacos.

Não para por aqui, cultuamos um Cristo reduzido a simbologias (da água, do manto, da folha e sei lá mais o que) e, expressamente, fugimos da concomitante conjugação entre a palavra e o silêncio, a comunhão e a solidão, o eu e o nós. Ao invés disso, optamos por estarmos conectados, como se isso trouxesse alguma relevância para uma espiritualidade livre, saudável, útil e benéfico, por onde pessoas são servidas, transformadas e abençoadas, com atos e práticas.

Vou adiante, se não nos desconectarmos, abrimos a porta do nosso quarto, permitirmos ao Espírito Santo franquear todo o nosso ser, diante da Graciosa Fecundidade do Carpinteiro dos Recomeços, limitar – nos – emos a apregoar um evangelho que nos estimula para continuar na superficialidade, sem o desafio de sermos restaurados e reconciliados. Aliás, pontuo esse encontro entre a palavra e o silêncio, a comunhão e a solidão como uma via imprescindível para romper os êxtases das massas desesperanças, com as promessas sem a capacidade de gerar compromisso e comprometimento com o próximo.

Observa – se também, a humanidade carece de retornar para os trilhos do ouvir, sem esperar nada em troca, do silêncio, sem descambar em delírios, do dialogar, sem a ânsia de impor sua verdade, e, simplesmente, perceber a cadencia poética, a narrativa de mistérios e descobertas dos poemas do universo, o quanto o semelhante não se constitui num objeto para ser usado e descartado e como a fé cristã vai além de ir a um culto, escutar uma revelação, conseguir um benção e uma satisfação.
São Paulo - SP
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