Palavra do leitor
- 28 de janeiro de 2009
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Deito, mas não pego no sono
Creio que todos nós temos lugares em que não gostaríamos de voltar: um dia na infância, quando fomos humilhados; na adolescência, quando não fomos compreendidos(como se fosse possível sermos adolescentes e compreendidos ao mesmo tempo); na juventude, quando aquela bela moça zombou do amor singelo (essa parte é difícil!); mesmo agora, no trabalho, no casamento, na igreja, acontecem coisas que gostaríamos que não acontecessem, mas que acontecem. E então lutamos, inglóriamente para não lembrar.
Tenho muitos lugares para onde não quero voltar, momentos de dor e de solidão que procuro enterrar o mais fundo possível, deletar. Passei muitos anos tomando medicamentos para passar do estado de alerta para o estado de sono profundo, o psiquiatra afirmava que se eu conseguisse livrar-me dos pesadelos, eu teria umas chance de uma vida próxima do normal.
Meus pesadelos e a minha insônia já fazem parte do "folclore" das igrejas; todas as guerras de rua, todos os confrontos com a polícia, todas as noites do isolamento: "cinco meses, vinte e oito dias e quatorze horas", todas as vezes que me penduraram e me bateram, muito. Todas as noites andando pela noite, atrás de drogas, sem paz, sem luz, sem rumo, sem um lugar prá ir, sem ninguém prá visitar, sem ninguém me esperando em casa, não havia mais casa. Cheguei ao absurdo de tomar dezenove medicamentos diferentes, todos relacionados com os distúrbios do sono.
Sempre esperava dormir e sonhar com o céu; ouví muitos testemunhos de pessoas que tinham sonhado com DEUS, com o céu ou com anjos, como invejei furiosamente aquelas pessoas; e quando elas caíam durante o culto?! E depois voltavam contando como tudo foi lindo; como eu sofrí todas aquelas noites, como eu torci prá cair também, eu só ia lá prá isso; mas eu nunca caía, entrei na fila várias vezes, nunca caí lá, nem nunca vi DEUS.
Por estes tempos eu sempre olhava para o chão; cacoete de cadeeiro, preso só olha para o chão; crente que não é arrebatado, olha para o chão, é ralé do céu. Mas, eu ia dizendo que tenho muitos lugares para os quais não pretendo retornar, a prisão é um deles, óbvio.
Só que, de todos os lugares ruins que já visitei ou viví, o pior deles não tem ligação com meu passado subtudo, tem ligação com os ditos bons tempos de crente novo, quando troquei de bom grado a felicidade simples que me estava proposta por outra, cheia de holofotes e platéias; "superstar" dos testemunhos mirabolantes para pessoas que não estavam nem aí para o superior milagre do novo nascimento mas estavam interessadíssimas em ouvir as crueldades de um ex- monte de lixo.
Não consigo sentir saudades de todo o dinheiro que ganhei, nem das namoradas; várias ao mesmo tempo; das viagens, do tratamento vip. Sinto saudades de ser crente novo, deslumbrado com Jesus e com o amor dos crentes.
Quando olho prá tudo aquilo é que consigo ver, onde e quando começou minha tragédia, a Bíblia nunca se equivoca, DEUS nunca inspirou um provérbio que não fosse verdadeiro e saibam, é verdade, a soberba precede a queda.
Ninguém pense que de um dia para outro eu saí da igreja, do seminário, do emprego, do noivado, de casa e fui manguear em frente ao posto do SUS, na rua campos salles em BH. Levou tempo, e se quisesse, neste tempo eu poderia ter voltado, tive chances, inúmeras, de tantas que pensei que sempre as teria, que DEUS jamais me deixaria, eu dava "ibope", enchia templos, lotava ginásios e auditórios, me achava imprescindível.
Mas DEUS moveu a mão e sob a PERMISSÃO de DEUS eu me tornei infinitamente mais sujo, só, mais triste, amargurado e violento do que fôra antes de conhecer JESUS e experimentar uma vida limpa.
Destes lugares aos quais denomino "zonas de conforto" é que não quero me lembrar, pois tudo que se relaciona com aquele lugar no tempo, relaciona-se proporcionalmente aos anos como mendigo e ladrão de mendigos.
Se DEUS AUTORIZAR, "Quero trazer à memória aquilo que me pode dar esperança!"
(ex-interno do centro de recuperação de mendigos - Missão Vida )
Visite-nos www.mvida.org.br
Tenho muitos lugares para onde não quero voltar, momentos de dor e de solidão que procuro enterrar o mais fundo possível, deletar. Passei muitos anos tomando medicamentos para passar do estado de alerta para o estado de sono profundo, o psiquiatra afirmava que se eu conseguisse livrar-me dos pesadelos, eu teria umas chance de uma vida próxima do normal.
Meus pesadelos e a minha insônia já fazem parte do "folclore" das igrejas; todas as guerras de rua, todos os confrontos com a polícia, todas as noites do isolamento: "cinco meses, vinte e oito dias e quatorze horas", todas as vezes que me penduraram e me bateram, muito. Todas as noites andando pela noite, atrás de drogas, sem paz, sem luz, sem rumo, sem um lugar prá ir, sem ninguém prá visitar, sem ninguém me esperando em casa, não havia mais casa. Cheguei ao absurdo de tomar dezenove medicamentos diferentes, todos relacionados com os distúrbios do sono.
Sempre esperava dormir e sonhar com o céu; ouví muitos testemunhos de pessoas que tinham sonhado com DEUS, com o céu ou com anjos, como invejei furiosamente aquelas pessoas; e quando elas caíam durante o culto?! E depois voltavam contando como tudo foi lindo; como eu sofrí todas aquelas noites, como eu torci prá cair também, eu só ia lá prá isso; mas eu nunca caía, entrei na fila várias vezes, nunca caí lá, nem nunca vi DEUS.
Por estes tempos eu sempre olhava para o chão; cacoete de cadeeiro, preso só olha para o chão; crente que não é arrebatado, olha para o chão, é ralé do céu. Mas, eu ia dizendo que tenho muitos lugares para os quais não pretendo retornar, a prisão é um deles, óbvio.
Só que, de todos os lugares ruins que já visitei ou viví, o pior deles não tem ligação com meu passado subtudo, tem ligação com os ditos bons tempos de crente novo, quando troquei de bom grado a felicidade simples que me estava proposta por outra, cheia de holofotes e platéias; "superstar" dos testemunhos mirabolantes para pessoas que não estavam nem aí para o superior milagre do novo nascimento mas estavam interessadíssimas em ouvir as crueldades de um ex- monte de lixo.
Não consigo sentir saudades de todo o dinheiro que ganhei, nem das namoradas; várias ao mesmo tempo; das viagens, do tratamento vip. Sinto saudades de ser crente novo, deslumbrado com Jesus e com o amor dos crentes.
Quando olho prá tudo aquilo é que consigo ver, onde e quando começou minha tragédia, a Bíblia nunca se equivoca, DEUS nunca inspirou um provérbio que não fosse verdadeiro e saibam, é verdade, a soberba precede a queda.
Ninguém pense que de um dia para outro eu saí da igreja, do seminário, do emprego, do noivado, de casa e fui manguear em frente ao posto do SUS, na rua campos salles em BH. Levou tempo, e se quisesse, neste tempo eu poderia ter voltado, tive chances, inúmeras, de tantas que pensei que sempre as teria, que DEUS jamais me deixaria, eu dava "ibope", enchia templos, lotava ginásios e auditórios, me achava imprescindível.
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Destes lugares aos quais denomino "zonas de conforto" é que não quero me lembrar, pois tudo que se relaciona com aquele lugar no tempo, relaciona-se proporcionalmente aos anos como mendigo e ladrão de mendigos.
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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