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Palavra do leitor

De onde vêm as decepções?

"Talvez as pessoas não me decepcionem. Talvez o problema seja eu, que espero muito delas." Bob Marley

As decepções e suas causas. Estariam em nós, ou, nas pessoas? Eventualmente usamos um sinônimo; desilusão. Essa palavra, amiúde, sinaliza uma espécie de cura. Sendo a ilusão um engano, uma miragem aos olhos da alma, ser livre dela seria salutar. Entretanto, lamentamos as desilusões como se fossem perdas; nunca as vemos como feitoras de saúde psíquica. Noutras palavras: As desilusões não nos aliviam; pesam.

Parece que, para usar uma palavra da moda, não desapegamos de certo apego, mesmo que, os fatos demonstrem que era ele, doentio.

Facilmente me desiludo com as pessoas por atribuir a elas como preciosas coisas que são valiosas a mim. Mas, ao menor escrutínio de valores constato que, os bens que aquilato valiosos, nem sempre são assim ao apreço alheio.
Tipo; coerência; falar sempre a mesma coisa sobre determinado assunto; senão, expor o motivo da mudança; ou, honestidade intelectual; fazer concessões num debate respeitando aos fatos mais que as opiniões; mea culpa; a admissão do erro quando demonstrado de modo cabal sua incidência, etc.

Dizem que o diabo é mais perigoso por velho, que, por diabo. Quer dizer: Ao curso do tempo aprendemos um pouco, e, ao divisarmos em alguém esses lapsos morais desistimos de dar murros em ponta de faca. Simplificando: Não discutimos nem debatemos mais com gente desonesta.

Num pleito filosófico entre os gregos, por exemplo, um argumento bem posto era tido como um tijolo assentado e solidificado; não se mexia mais nele; antes, servia como tribunal de apelação, se, no curso do debate um fato novo contradissesse aquilo que, por ambos os litigantes fora tido como justo.

Se não fosse assim, "Sophia" se perderia na areia movediça das paixões. Há uma grande diferença entre buscar pela verdade e impor uma opinião. Aquela tem seu firme consórcio com os fatos; essa, apenas emerge fortuita dos pântanos inconstantes da índole particular.

Aí, aquele que tem uma mente filosófica atrelada às regras que a própria filosofia estabelece, caso tente debater com outrem que entra nos domínios do saber como moleque de tênis embarrados em sala limpa, sempre perderá; não o debate, que, sequer se estabelecerá, pois, um peso-pesado não lutaria contra um peso-pena; mas, perderá o seu tempo, sua paz, seus esforços em demonstrar luz ante uma toupeira.
Salomão ensinou: "Não respondas ao tolo segundo a sua estultícia; para que também não te faças semelhante a ele." Prov 26;4 Para um pretenso sábio, nivelar a um tolo seria uma perda enorme.

Há casos de ignorância legítima, onde, dissipadas as brumas pelo conhecimento o litigante cresce junto conosco; suas objeções derivam das limitações do saber, que, uma vez ampliado deixam de existir. Também, outros em que a escuridão está em nós, e, à luz de outrem que vê mais longe precisamos abdicar de algumas "certezas"; e, ainda sermos gratos a quem nos libertou da insipiência pontual.

Assim, num gládio onde os oponentes são honestos, sempre haverá o risco de "ferroadas" para ambos; de a razão estar do outro lado, digo; entretanto, há a certeza que compensa enfrentar tais "abelhas" pelo seu sumo; o néctar do conhecimento.

Por outro lado, disputar com os desregrados amantes das opiniões, aqueles, seria como buscar mel entre marimbondos. As ferroadas estão garantidas e são mais dolorosas que as das abelhas; porém, de mel, nenhum sinal haverá.

Nas faltas em jogos de futebol se permite o recurso da barreira, um arranjo para dificultar o objetivo do adversário. Pois, um apaixonado, num debate não vê ao oponente como legítimo litigante; antes, adversário; e, o calor da paixão acaba sendo a barreira que dificulta, ou, impede o livre curso da luz.

É proverbial que o tonel vazio faz mais barulho que o cheio; igualmente, nos domínios do saber. Uma vez mais, Salomão, o sábio: "O homem prudente encobre o conhecimento, mas, o coração dos tolos proclama a estultícia." Prov 12;23

A vida cada dia cunha suas lições em alto relevo para quem desejar aprender. Contudo, somos a geração vídeo; onde, tudo busca parecer; quase nada se importa em ser. Aí, mesmo as frases de conteúdo profundo que saltitam, nada mais são, que, "selfies" estudadas; caras, bocas e decotes da alma que quer parecer culta, invés de se esforçar para ser veraz.

Seria erro nosso impor às pessoas defeitos que não têm; ingênuo, presumi-las hospedeiras de qualidades que desconhecem.

Enfim, paixão é uma doença que todos padecem; uns, mais, outros, menos; a rigor, é fogo cujas chamas produzem calor sem o benefício da luz. E, como diz uma frase que circula por aí, chega uma hora na vida em que preferimos ter paz, a ter razão.
Tio Hugo - RS
Textos publicados: 328 [ver]
Site: http://ofarol21.blogspot.com.br

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