Palavra do leitor
- 09 de abril de 2008
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De frente para o espelho
A humanidade, consciente ou inconscientemente, está mergulhada no mundo da iconografia. Vivemos cercados de símbolos, figuras ou imagens. Provocamos, com as nossas ações, imagens que expressam nossa personalidade e até mesmo o nosso caráter. A liderança também se desenvolve dessa forma, permeada de um imaginário fictício ou verídico, ela vai atuando na sociedade por meio de diversas representações. Se o seu estilo de liderança fosse colocado diante de um espelho, quais as imagens que seriam refletidas? Você está satisfeito com o que vê?
Convido você agora a refletir sobre alguns possíveis reflexos de sua liderança.
Reflexo 1: a aparência
O primeiro reflexo a ser pensado se refere à aparência. Se você é um líder que se preocupa demasiadamente com a aparência, saiba que essa preocupação pode lhe levar a viver numa eterna crise existencial. Existe uma verdade que deve prevalecer na mente de qualquer líder: a de que a sua tarefa não é causar uma boa impressão naqueles que lidera, mas provocar neles um impacto transformador, pois o máximo que uma boa aparência pode causar é o convencimento de idéias, ou seja, na superficialidade posso convencer o outro de que estou certo, entretanto, por ser superficial jamais conseguirei produzir uma mudança significativa na vida dele. Liderança, contudo, não é apenas convencimento de idéias ou pessoas, mas transformação de vidas, e esse impacto transformador só é possível por meio da prática de uma verdadeira essência e não de uma verossímil aparência. A crise existencial nasce, justamente, pelo fato de o líder não se preocupar com a transformação de vidas, mas apenas com o convencimento de idéias.
Apesar de todo o discurso que há sobre a valorização do ser, parece que no final das contas o líder está preocupado somente com os resultados. Em busca de resultados imediatos nos tornamos apáticos com aqueles que lideramos. Então, imagine, se agimos assim com os que estão sob a nossa liderança, o que será dos outros que estão à margem da nossa atuação? O custo da manutenção da aparência é justamente a busca imediata pelos resultados, pois eles garantem momentaneamente o nosso status quo. Quero ressaltar que no processo de liderança, as pessoas são fundamentais; não como meros mecanismos que garantem a realização dos nossos desejos, mas como seres que podem tornar real a transformação de um lugar, uma sociedade ou até mesmo uma nação.
Para isso, todo líder no desempenho de sua liderança deve evitar a preocupação com o estereótipo e focalizar a essência, compreendendo o outro e a si mesmo, buscando por meio da compreensão uma mudança significativa e prática de idéias, atitudes e pessoas.
Reflexo 2: o medo
O segundo reflexo está ligado ao medo. Para compreendermos o medo como sendo um reflexo influenciador na liderança é necessário voltarmos um pouco ao sentido da iconografia citado no início deste artigo. O termo grego eikonographía(iconografia), eikon(imagem) e graphia(escrita) era utilizado também para a representação dos heróis gregos através de imagens e símbolos. Essa caracterização permeou a história para sustentar a ilusão de heroísmo presente no imaginário do ser humano. Em pleno século XXI, a iconografia é tão real como foi no mundo grego. Na liderança, essa caracterização ainda existe para legitimar o poder do qual os líderes estão revestidos. Criamos os líderes heróis cristãos, e ainda mais, assim como no mundo grego, cultuamos esses líderes.
Contudo, para o herói ou o líder manter-se como ícone na história, há um preço a ser pago. Um dos mais notáveis historiadores da atualidade, Jean Delumeau, em seu livro História do medo no Ocidente, o qual analisa a existência do medo situada entre os séculos XIV e XVIII, ressalta que “os homens no poder fazem de modo a que o povo – essencialmente os camponeses – tenha medo” (1990, p.15), essa afirmação é real no momento em que esse medo eterniza os mais simples a viverem acomodados no sofrimento e escravos a uma ideologia vergonhosa e distante de qualquer ideal libertador e de uma vida plena e abundante.
Permita-me ser contundente e perguntar se podemos observar tal reflexo em nossas lideranças eclesiásticas. Será que não estamos utilizando uma representação de herói para marginalizar o povo e conduzi-lo a uma vida viciada na comercialização de bênçãos em nossos sistemas cristonômicos? Amedrontamos as pessoas por meio de vários fenômenos para que elas estejam cotidianamente presas aos nossos programas eclesiásticos e sigam corretamente um manual de conduta cristã. Se a pessoa não participa de “tal” campanha, ou não cumpre “certas” normas, possivelmente a necessidade dela não será suprida. Esse é um fenômeno que, conseqüentemente, aterroriza a mente daqueles que muitas vezes não têm o discernimento para perceber as façanhas mirabolantes da liderança. A imagem do herói exerce um poder de coesão e manipulação do fiel.
O historiador Delumeau ainda afirma que o medo, nos tempos antigos, era um perigo ocasionado pela natureza. Assim, a seca, os terremotos, as inundações e as pestes eram quem aterrorizavam as sociedades. Atualmente, entretanto, quem amedronta a sociedade é o próprio homem em virtude de seus ideais materialistas e insanos, os quais acabam por legitimar sua figura de herói.
Reflexo 3: o poder
O último reflexo a ser tratado aqui está relacionado ao poder. Você deve ter percebido que os dois últimos reflexos são alguns dos meios que muitos líderes têm utilizado para alcançar o poder.
Não quero argumentar agora sobre as questões técnicas do poder, entretanto, pretendo abordar um princípio bíblico para pensarmos sobre o assunto. Acredito que a atual crise vivenciada no contexto da liderança deve-se ao fato de não compreenderem a importância que os meios têm no processo da caminhada do líder até o seu objetivo final. Há uma preocupação excessiva com os títulos e nenhuma ética para alcançá-lo.
O princípio bíblico remete ao Antigo Testamento. Davi, conforme registra 2 Sm 6, foi estabelecido rei em Israel, mas a arca da aliança não estava em Jerusalém. O novo rei deveria levar a arca para o centro daquela nação, pois esta simbolizava a aliança de Deus para com aquele povo. Jerusalém, por sua vez, simbolizava a força econômica, política e social da nação, conseqüentemente, a arca, em Jerusalém, devolvia a autoridade que todo o Israel necessitava naquele momento. Diante disso, Davi elabora sua primeira tentativa para conduzir aquele símbolo de volta e, como a história narra, Deus desagradou-se do meio utilizado para fazer o transporte. Houve irreverência, falta de temor por parte daqueles que estavam transportando a arca. Deus estava ensinando naquele momento que mais importante do que levar a arca para Jerusalém, era o como levar.
Nós, líderes cristãos, na busca pelo triunfalismo espiritual, muitas vezes esquecemos dos meios que temos utilizado para alcançá-lo. Não percebemos que estamos agindo sem temor diante das nossas obrigações em relação a Deus e ao seu povo. Contudo, Davi retoma sua caminhada, mas agora era diferente, pois “sucedeu que, quando os que levavam a arca do Senhor tinham dado seis passos, sacrificava ele bois e carneiros” (2 Sm 6.13). Imagine quão longa seria a viagem se a cada seis passos eles paravam para sacrificar ao Senhor. Enfim, esse princípio nos ensina que o mais importante não é simplesmente chegar, mas quais meios estamos utilizando para atingir nosso objetivo.
Conclusão
Posso afirmar que, para sustentar a aparência no poder, muitos líderes, infelizmente, têm amedrontado o povo com vários programas e obrigações eclesiásticas. É um ciclo vicioso, pois os programas eclesiásticos garantem momentaneamente o nosso status quo e, por incrível que pareça, a execução do medo é o meio pelo qual os líderes mantêm o poder baseado na aparência, afinal de contas, os medrosos são covardes e não possuem coragem para contestar o que quer que seja, ainda mais as práticas daqueles que se denominam heróis.
Repensar a forma como estamos caminhando na liderança é um primeiro passo para buscarmos medidas efetivas de mudanças que agradem a Deus. Conseqüentemente, será possível cumprir o Seu querer em nossas vidas por meio de um bom desempenho enquanto líderes.
www.bomlider.com.br
Convido você agora a refletir sobre alguns possíveis reflexos de sua liderança.
Reflexo 1: a aparência
O primeiro reflexo a ser pensado se refere à aparência. Se você é um líder que se preocupa demasiadamente com a aparência, saiba que essa preocupação pode lhe levar a viver numa eterna crise existencial. Existe uma verdade que deve prevalecer na mente de qualquer líder: a de que a sua tarefa não é causar uma boa impressão naqueles que lidera, mas provocar neles um impacto transformador, pois o máximo que uma boa aparência pode causar é o convencimento de idéias, ou seja, na superficialidade posso convencer o outro de que estou certo, entretanto, por ser superficial jamais conseguirei produzir uma mudança significativa na vida dele. Liderança, contudo, não é apenas convencimento de idéias ou pessoas, mas transformação de vidas, e esse impacto transformador só é possível por meio da prática de uma verdadeira essência e não de uma verossímil aparência. A crise existencial nasce, justamente, pelo fato de o líder não se preocupar com a transformação de vidas, mas apenas com o convencimento de idéias.
Apesar de todo o discurso que há sobre a valorização do ser, parece que no final das contas o líder está preocupado somente com os resultados. Em busca de resultados imediatos nos tornamos apáticos com aqueles que lideramos. Então, imagine, se agimos assim com os que estão sob a nossa liderança, o que será dos outros que estão à margem da nossa atuação? O custo da manutenção da aparência é justamente a busca imediata pelos resultados, pois eles garantem momentaneamente o nosso status quo. Quero ressaltar que no processo de liderança, as pessoas são fundamentais; não como meros mecanismos que garantem a realização dos nossos desejos, mas como seres que podem tornar real a transformação de um lugar, uma sociedade ou até mesmo uma nação.
Para isso, todo líder no desempenho de sua liderança deve evitar a preocupação com o estereótipo e focalizar a essência, compreendendo o outro e a si mesmo, buscando por meio da compreensão uma mudança significativa e prática de idéias, atitudes e pessoas.
Reflexo 2: o medo
O segundo reflexo está ligado ao medo. Para compreendermos o medo como sendo um reflexo influenciador na liderança é necessário voltarmos um pouco ao sentido da iconografia citado no início deste artigo. O termo grego eikonographía(iconografia), eikon(imagem) e graphia(escrita) era utilizado também para a representação dos heróis gregos através de imagens e símbolos. Essa caracterização permeou a história para sustentar a ilusão de heroísmo presente no imaginário do ser humano. Em pleno século XXI, a iconografia é tão real como foi no mundo grego. Na liderança, essa caracterização ainda existe para legitimar o poder do qual os líderes estão revestidos. Criamos os líderes heróis cristãos, e ainda mais, assim como no mundo grego, cultuamos esses líderes.
Contudo, para o herói ou o líder manter-se como ícone na história, há um preço a ser pago. Um dos mais notáveis historiadores da atualidade, Jean Delumeau, em seu livro História do medo no Ocidente, o qual analisa a existência do medo situada entre os séculos XIV e XVIII, ressalta que “os homens no poder fazem de modo a que o povo – essencialmente os camponeses – tenha medo” (1990, p.15), essa afirmação é real no momento em que esse medo eterniza os mais simples a viverem acomodados no sofrimento e escravos a uma ideologia vergonhosa e distante de qualquer ideal libertador e de uma vida plena e abundante.
Permita-me ser contundente e perguntar se podemos observar tal reflexo em nossas lideranças eclesiásticas. Será que não estamos utilizando uma representação de herói para marginalizar o povo e conduzi-lo a uma vida viciada na comercialização de bênçãos em nossos sistemas cristonômicos? Amedrontamos as pessoas por meio de vários fenômenos para que elas estejam cotidianamente presas aos nossos programas eclesiásticos e sigam corretamente um manual de conduta cristã. Se a pessoa não participa de “tal” campanha, ou não cumpre “certas” normas, possivelmente a necessidade dela não será suprida. Esse é um fenômeno que, conseqüentemente, aterroriza a mente daqueles que muitas vezes não têm o discernimento para perceber as façanhas mirabolantes da liderança. A imagem do herói exerce um poder de coesão e manipulação do fiel.
O historiador Delumeau ainda afirma que o medo, nos tempos antigos, era um perigo ocasionado pela natureza. Assim, a seca, os terremotos, as inundações e as pestes eram quem aterrorizavam as sociedades. Atualmente, entretanto, quem amedronta a sociedade é o próprio homem em virtude de seus ideais materialistas e insanos, os quais acabam por legitimar sua figura de herói.
Reflexo 3: o poder
O último reflexo a ser tratado aqui está relacionado ao poder. Você deve ter percebido que os dois últimos reflexos são alguns dos meios que muitos líderes têm utilizado para alcançar o poder.
Não quero argumentar agora sobre as questões técnicas do poder, entretanto, pretendo abordar um princípio bíblico para pensarmos sobre o assunto. Acredito que a atual crise vivenciada no contexto da liderança deve-se ao fato de não compreenderem a importância que os meios têm no processo da caminhada do líder até o seu objetivo final. Há uma preocupação excessiva com os títulos e nenhuma ética para alcançá-lo.
O princípio bíblico remete ao Antigo Testamento. Davi, conforme registra 2 Sm 6, foi estabelecido rei em Israel, mas a arca da aliança não estava em Jerusalém. O novo rei deveria levar a arca para o centro daquela nação, pois esta simbolizava a aliança de Deus para com aquele povo. Jerusalém, por sua vez, simbolizava a força econômica, política e social da nação, conseqüentemente, a arca, em Jerusalém, devolvia a autoridade que todo o Israel necessitava naquele momento. Diante disso, Davi elabora sua primeira tentativa para conduzir aquele símbolo de volta e, como a história narra, Deus desagradou-se do meio utilizado para fazer o transporte. Houve irreverência, falta de temor por parte daqueles que estavam transportando a arca. Deus estava ensinando naquele momento que mais importante do que levar a arca para Jerusalém, era o como levar.
Nós, líderes cristãos, na busca pelo triunfalismo espiritual, muitas vezes esquecemos dos meios que temos utilizado para alcançá-lo. Não percebemos que estamos agindo sem temor diante das nossas obrigações em relação a Deus e ao seu povo. Contudo, Davi retoma sua caminhada, mas agora era diferente, pois “sucedeu que, quando os que levavam a arca do Senhor tinham dado seis passos, sacrificava ele bois e carneiros” (2 Sm 6.13). Imagine quão longa seria a viagem se a cada seis passos eles paravam para sacrificar ao Senhor. Enfim, esse princípio nos ensina que o mais importante não é simplesmente chegar, mas quais meios estamos utilizando para atingir nosso objetivo.
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Posso afirmar que, para sustentar a aparência no poder, muitos líderes, infelizmente, têm amedrontado o povo com vários programas e obrigações eclesiásticas. É um ciclo vicioso, pois os programas eclesiásticos garantem momentaneamente o nosso status quo e, por incrível que pareça, a execução do medo é o meio pelo qual os líderes mantêm o poder baseado na aparência, afinal de contas, os medrosos são covardes e não possuem coragem para contestar o que quer que seja, ainda mais as práticas daqueles que se denominam heróis.
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