Palavra do leitor
- 19 de setembro de 2008
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Cultura, Jardim do Édem e Apocalipse
Segundo Rubem Alves1 a cultura é uma conseqüência da imaginação do homem, o único animal que não é o seu corpo, mas o possui; cultura, ou mundo imaginário, que somente surge porque há uma ausência básica, que se manifesta através do desejo. Este, como nunca é satisfeito, torna-se representado pelos símbolos. O mundo real tem de fazer sentido, por isso o homem atribui valores a diferentes aspectos deste real, buscando na dureza da realidade, torná-la mais humana.
Apesar de teólogo por formação inicial, Rubem Alves não parte, naquele livro, do ponto de vista bíblico. Mas não posso deixar de pensar no relato de Gênesis tendo a hipótese dele em mente.
E o que vejo é um desafio para o primeiro casal: construir um mundo imaginário que, de certa forma, se tornasse um pouco deles mesmos, e não algo que lhes fosse completamente externo. Para alguns crentes, é sempre bom lembrar algumas lições que o Éden traz: Deus não é suficiente para o homem! Ele necessita de algo que a Trindade não lhe pode dar, porque assim Ela o definiu ao criar o homem do material da terra. "Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe CORRESPONDA" (2.18) Por livre e soberana decisão, Deus dá ao homem a constituição de só ser completo na presença de um igual.
E o homem, enquanto comunidade, tem a ORDEM de dar nome aos animais, de coordená-los, e Deus se ausenta do jardim. Para que o homem possa construir um mundo que o retrate / espelhe de algum modo, o Senhor Deus voluntariamente o deixa só, apenas eles, homem e mulher, para tomarem as decisões que julgarem acertadas.
O texto sagrado diz que, ao final da tarde, Deus PASSEAVA pelo jardim; Ele não estava fiscalizando o andamento das obras, verificando se tudo estava conforme a Sua vontade. Passeia quem está se deleitando, relaxando, "curtindo a vida". Na tarefa de criar mundos, Deus se sente tranqüilo e aguarda que Seus filhos lhe tragam, por prazer, os frutos da independência que Ele lhes deu!
Talvez a ausência da constante permanência divina seja a ausência citada por Rubem Alves. Talvez o fruto da árvore da vida represente, seja o símbolo, da ausência voluntária, por decisão unilateral, de Jeová. A outra grande lição é que a ausência não é, necessariamente, um mal, porque ela foi plantada no mundo por Aquele que o planejou e executou. A ausência é divina na sua origem, e é a partir dela que a humanidade deveria ter torneado a natureza.
A cultura humana é um mandato divino - ou melhor, faz parte da constituição do homem por decisão soberana do Criador. Ser homem / mulher é ter a necessidade vital de construir mundos que transcendem o indivíduo, abrangendo a comunidade. Cultura humana é realização divina.
E se o pecado desvirtua o propósito original (e aqui pode ser entendido como a decisão humana de dizer que não aceita o vazio que Deus dá; o homem prefere criar, ele mesmo, a ausência que vai guiá-lo doravante), não o anula. No primeiro grande empreendimento humano, a Torre de Babel, o erro está no desejo da uniformidade: um único projeto, mega-projeto, com um único objetivo. E Deus força o homem a diversidade, impondo-lhe línguas diferentes, para que seu desejo de diversidade e criatividade prevalecesse.
Não é isto que o número de espécies de seres vivos, maior que o número das estrelas do céu, ou dos grãos de areia da praia, demonstra?
Criatividade, diversidade cultural, são intenções divinas. Neste momento me questiono se a constante fragmentação do mundo evangélico não seria uma tosca realização deste mandato divino...
E no Apocalipse, o apóstolo João conta que a realização humana é plenamente incorporada nos novos céus e terra. O que ele vê descendo do céu: um novo Éden? Não, uma cidade. Cidade é idealização humana, construção humana. A vida eterna não é um regresso ao paraíso perdido, mas a redenção de tudo aquilo que construímos, enquanto humanidade, na nossa trajetória.2
1 Alves R O que é religião, 2a ed, Editora Brasiliense, SP, 1981
2 Ellul Jacques Apocalipse, Estrutura em movimento, Editora Paulinas, SP, 1979
publicado em crerpensar.blogspot.com
Apesar de teólogo por formação inicial, Rubem Alves não parte, naquele livro, do ponto de vista bíblico. Mas não posso deixar de pensar no relato de Gênesis tendo a hipótese dele em mente.
E o que vejo é um desafio para o primeiro casal: construir um mundo imaginário que, de certa forma, se tornasse um pouco deles mesmos, e não algo que lhes fosse completamente externo. Para alguns crentes, é sempre bom lembrar algumas lições que o Éden traz: Deus não é suficiente para o homem! Ele necessita de algo que a Trindade não lhe pode dar, porque assim Ela o definiu ao criar o homem do material da terra. "Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe CORRESPONDA" (2.18) Por livre e soberana decisão, Deus dá ao homem a constituição de só ser completo na presença de um igual.
E o homem, enquanto comunidade, tem a ORDEM de dar nome aos animais, de coordená-los, e Deus se ausenta do jardim. Para que o homem possa construir um mundo que o retrate / espelhe de algum modo, o Senhor Deus voluntariamente o deixa só, apenas eles, homem e mulher, para tomarem as decisões que julgarem acertadas.
O texto sagrado diz que, ao final da tarde, Deus PASSEAVA pelo jardim; Ele não estava fiscalizando o andamento das obras, verificando se tudo estava conforme a Sua vontade. Passeia quem está se deleitando, relaxando, "curtindo a vida". Na tarefa de criar mundos, Deus se sente tranqüilo e aguarda que Seus filhos lhe tragam, por prazer, os frutos da independência que Ele lhes deu!
Talvez a ausência da constante permanência divina seja a ausência citada por Rubem Alves. Talvez o fruto da árvore da vida represente, seja o símbolo, da ausência voluntária, por decisão unilateral, de Jeová. A outra grande lição é que a ausência não é, necessariamente, um mal, porque ela foi plantada no mundo por Aquele que o planejou e executou. A ausência é divina na sua origem, e é a partir dela que a humanidade deveria ter torneado a natureza.
A cultura humana é um mandato divino - ou melhor, faz parte da constituição do homem por decisão soberana do Criador. Ser homem / mulher é ter a necessidade vital de construir mundos que transcendem o indivíduo, abrangendo a comunidade. Cultura humana é realização divina.
E se o pecado desvirtua o propósito original (e aqui pode ser entendido como a decisão humana de dizer que não aceita o vazio que Deus dá; o homem prefere criar, ele mesmo, a ausência que vai guiá-lo doravante), não o anula. No primeiro grande empreendimento humano, a Torre de Babel, o erro está no desejo da uniformidade: um único projeto, mega-projeto, com um único objetivo. E Deus força o homem a diversidade, impondo-lhe línguas diferentes, para que seu desejo de diversidade e criatividade prevalecesse.
Não é isto que o número de espécies de seres vivos, maior que o número das estrelas do céu, ou dos grãos de areia da praia, demonstra?
Criatividade, diversidade cultural, são intenções divinas. Neste momento me questiono se a constante fragmentação do mundo evangélico não seria uma tosca realização deste mandato divino...
E no Apocalipse, o apóstolo João conta que a realização humana é plenamente incorporada nos novos céus e terra. O que ele vê descendo do céu: um novo Éden? Não, uma cidade. Cidade é idealização humana, construção humana. A vida eterna não é um regresso ao paraíso perdido, mas a redenção de tudo aquilo que construímos, enquanto humanidade, na nossa trajetória.2
1 Alves R O que é religião, 2a ed, Editora Brasiliense, SP, 1981
2 Ellul Jacques Apocalipse, Estrutura em movimento, Editora Paulinas, SP, 1979
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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