Palavra do leitor
- 27 de maio de 2016
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Culto e prazer: o mundo mudou
Não se engane, o cristianismo está em plena mudança, pois o pensamento ocidental já não é o mesmo de séculos atrás. Nossa visão de mundo migrou do comunitário para o individualismo. As tradições e as filiações sociais estão em decadência, chegando ao fim todo o apego coletivo, para que apareça o indivíduo como um ser autônomo.
Antes, as tradições regionais, bem delimitadas nos territórios nacionais, onde o consumo humano era exclusivamente destinado para a composição da classe, davam um senso de pertencimento local, onde a identidade estava assegurada no corpo social. Seguiamos as tradições pois não nos entendiamos como um ser avulso do conjunto social. O dogma religioso, a união nacionalista, a família e a produção territorial levavam um senso de pertencimento. Narciso ainda não havia se emancipado do corpo humano.
Com o gnosticismo do iluminismo e com o romantismo cultural de Jean Jaque Rousseau, uma revolução do conjunto para o individual se iniciou. O rompimento com as tradições se inaugurou em favor da afirmação, não só da liberdade individual em relação a sociedade, mas como uma autonomia humana, onde cada indivíduo passa a ser visto como uma verdade em si mesmo. A verdade como conjunto de normas regionalmente estabelecidas morrem, para que com isso possa nascer a “minha verdade”. A era moderna resgata a libertação mental dos gregos antigos, desconstruindo as tradições, iluminando cada indivíduo por sua construção intimista da verdade, alcançado assim um patamar de “divindade” em si mesmo.
Mas não se engane, a revolução cultural não impulsionou sozinha esta alternância. A modernidade surgiu na classe artística, pontualmente, buscando a libertação do indivíduo, mas foi no capitalismo que a democratização, até o último particular, onde o individualismo se consagrou. O consumo intenso, baseado na sedução do consumidor, como nos mostra Lipovetsky, possibilitou a personalização do produto, emancipando os consumidores da tradição de consumo de classes. Agora todos os membros familiares compram satisfazendo suas próprias cobiças. A economia migrou da esfera da família, para a satisfação do indivíduo, aparecendo as diferenças de interesses, intensificando o isolamento do grupo.
Quando a visão de mundo alterna do conjunto para o indivíduo, também se altera o modo de se relacionar. Quando não se importam as tradições e sim o desejo particular, tudo vira consumo. Não há mais solidez de relações. Hoje os envolvimentos sentimentais são para satisfazer as carências hedonistas, onde o outro existe apenas como objeto para satisfazer minhas necessidades emocionais e sexuais: quando vejo que a mercadoria humana já não satisfaz minhas necessidades, busco no mercado um produto humano mais rentável.
As instituições tradicionais também sofrem. Em um mundo individualista e de consumo pela cobiça, quem deseja mesmo uma religião moralista? O cristianismo moderno já possui outra moral, mesmo que insistam no contrário os fundamentalistas. No cristianismo pós-moderno a lasciva e a sedução são permitidas na esfera econômica. Usa-se a publicidade para atrair consumidores religiosos, ativando os desejos mais sombrios da humanidade. A sedução do poder místico, chamando o cristão para ser um “homem de Deus” profético e milagreiro, não pela função, mas pela ascensão social é a regra. Propaga-se sem escrúpulos a idéia de um Deus manipulado e individualista, onde seu poder funciona como meio de se inserir novamente no mundo consumista, aquele que já não possui poder de compra. Barganha-se com Deus pelo desejo de casamento, pela vontade de se obter o carro, pela necessidade de afirmação individual e pela prosperidade hedonista.
O mundo mudou em todas as instâncias, pois o universal morreu em prol do particular. Somos uma sociedade politeísta, onde cada indivíduo conclama sua ambição de divinização.
Antes, as tradições regionais, bem delimitadas nos territórios nacionais, onde o consumo humano era exclusivamente destinado para a composição da classe, davam um senso de pertencimento local, onde a identidade estava assegurada no corpo social. Seguiamos as tradições pois não nos entendiamos como um ser avulso do conjunto social. O dogma religioso, a união nacionalista, a família e a produção territorial levavam um senso de pertencimento. Narciso ainda não havia se emancipado do corpo humano.
Com o gnosticismo do iluminismo e com o romantismo cultural de Jean Jaque Rousseau, uma revolução do conjunto para o individual se iniciou. O rompimento com as tradições se inaugurou em favor da afirmação, não só da liberdade individual em relação a sociedade, mas como uma autonomia humana, onde cada indivíduo passa a ser visto como uma verdade em si mesmo. A verdade como conjunto de normas regionalmente estabelecidas morrem, para que com isso possa nascer a “minha verdade”. A era moderna resgata a libertação mental dos gregos antigos, desconstruindo as tradições, iluminando cada indivíduo por sua construção intimista da verdade, alcançado assim um patamar de “divindade” em si mesmo.
Mas não se engane, a revolução cultural não impulsionou sozinha esta alternância. A modernidade surgiu na classe artística, pontualmente, buscando a libertação do indivíduo, mas foi no capitalismo que a democratização, até o último particular, onde o individualismo se consagrou. O consumo intenso, baseado na sedução do consumidor, como nos mostra Lipovetsky, possibilitou a personalização do produto, emancipando os consumidores da tradição de consumo de classes. Agora todos os membros familiares compram satisfazendo suas próprias cobiças. A economia migrou da esfera da família, para a satisfação do indivíduo, aparecendo as diferenças de interesses, intensificando o isolamento do grupo.
Quando a visão de mundo alterna do conjunto para o indivíduo, também se altera o modo de se relacionar. Quando não se importam as tradições e sim o desejo particular, tudo vira consumo. Não há mais solidez de relações. Hoje os envolvimentos sentimentais são para satisfazer as carências hedonistas, onde o outro existe apenas como objeto para satisfazer minhas necessidades emocionais e sexuais: quando vejo que a mercadoria humana já não satisfaz minhas necessidades, busco no mercado um produto humano mais rentável.
As instituições tradicionais também sofrem. Em um mundo individualista e de consumo pela cobiça, quem deseja mesmo uma religião moralista? O cristianismo moderno já possui outra moral, mesmo que insistam no contrário os fundamentalistas. No cristianismo pós-moderno a lasciva e a sedução são permitidas na esfera econômica. Usa-se a publicidade para atrair consumidores religiosos, ativando os desejos mais sombrios da humanidade. A sedução do poder místico, chamando o cristão para ser um “homem de Deus” profético e milagreiro, não pela função, mas pela ascensão social é a regra. Propaga-se sem escrúpulos a idéia de um Deus manipulado e individualista, onde seu poder funciona como meio de se inserir novamente no mundo consumista, aquele que já não possui poder de compra. Barganha-se com Deus pelo desejo de casamento, pela vontade de se obter o carro, pela necessidade de afirmação individual e pela prosperidade hedonista.
O mundo mudou em todas as instâncias, pois o universal morreu em prol do particular. Somos uma sociedade politeísta, onde cada indivíduo conclama sua ambição de divinização.
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