Palavra do leitor
- 15 de maio de 2008
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Crentes seriam verdadeiramente livres?
Questionado sobre a expressão "natureza irremediavelmente pecadora do ser humano" que usei no último artigo, devolvo a pergunta: crentes seriam verdadeiramente livres?
Se você respondeu que sim, errou, pois Jesus disse que não!
Dê uma olhada no evangelho do pescador capítulo oito, ali o mestre se dirige aos que "criam" nele dizendo: "Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará". Existe um longo caminho a ser percorrido entre o crer, ser discípulo e então ser livre. Crentes não são necessariamente livres, por uma razão simples, a fé sem obras é morta. Note como Cristo fala das obras que Abraão fez no versículo 36.
Avancemos então um estágio a mais em nossa investigação: O que é ser livre?
Jesus fala da escravidão do pecado. Virou moda no mundo evangélico engrossar a voz para chamar "pecado de pecado"... Exalta-se quem tem essa pseudo ousadia. Esses arautos da moral, fariseus que se acham livres clamam: "Por que relativizar? Por que chamaríamos pecado de desvio de caráter ou problema psicológico? Por que falarmos que fulano simplesmente errou? Não é melhor usarmos o termo religioso, pecado?" Na melhor (ou pior) das hipóteses pecado para essa casta é algo relacionado a sexo, ou coisas exteriores como usar brincos, tatuagens ou piercing.
O pecado é algo a ser evitado, vencido, concordo. Quer pecado mais horroroso do que a inveja, ódio ou orgulho? Por exemplo, imagine um líder religioso muito influente que é ambicioso. Digamos que ele seja católico ou até mesmo um islâmico, budista ou da nova era, cheio de inveja e ódio. Quanto dano pode causar? Agora pense que esse líder seja cristão evangélico (da mesma denominação que a sua). Será que isso muda alguma coisa? Não, a gravidade e danos do pecado são os mesmos, talvez nesse caso até piores.
Assim a conclusão farisaica é: Nada melhor do que a coerção para banirmos o pecado. E nesse caso o medo do inferno se presta como instrumento ideal. Rubem Alves entendeu corretamente que o inferno é o parafuso teológico que sustenta o mecanismo religioso. De fato, as quatro "leis espirituais" apresentam o pecado como a segunda "grande lei" (o que é ridículo) que explicaria a desordem no mundo de um indivíduo. Assim Jesus apareceria como o grande "superman" salvador, trazendo ordem, beleza e santidade. Por que então vemos outra realidade envolvendo a igreja e os fiéis?
O problema não estaria antes na interpretação bíblica que nos foi passada do que nos indivíduos propriamente ditos? A verdade às vezes é dura pois tira-nos todo o mérito além de apontar-nos um caminho doloroso: não existem mágicos e nem passe de mágica na vida com Deus. Nosso mundo não fica bonitinho quando "aceitamos Jesus”, pelo contrário, normalmente vira um caos! Tomar diariamente a cruz e o negar-se a si mesmo é o que Jesus exige. Nossa tendência natural é rogarmos como Pedro, "afasta-se de mim de sou homem pecador". Talvez Pedro tinha a consciência que esse tipo de parceria custa e dói muito para os dois lados. Mas Jesus convida-o: "vem e segue-me". Sem forçar, ainda que ciente de seu monopólio sobre as palavras de vida eterna. Pois Ele sabe que só o amor é a força que pode ao mesmo tempo unir e libertar.
Ser livre é mais que não pecar. Uma criancinha de dois anos não peca e isso não a liberta. Um velho que sofre de Alzheimer, coitado, não pode pecar mais, mas nem por isso é livre. Aqui há uma inversão, pensa-se: não pecarei, logo serei livre. Enquanto que o raciocínio correto é sou liberto logo não pecarei. Nisso há uma grande diferença. Como grande é o contraste entre "viver pecando" e ter uma "natureza irremediavelmente pecadora". Jesus diz: "Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado". Viver pecando é um estilo de vida e tenho que dizer, normalmente mais próximo da religião do que longe dela.
Dizer ou achar-se santo é uma coisa, ser santo é outra. Se ser santo fosse não pecar mais, não existiria e nunca existiu santo algum. Se não vejamos como São Paulo clama: "vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?" Paulo não está falando aqui de uma situação passada, antes da conversão – como alguns pregadores de araque, triunfalistas, tentam ensinar. Mas ele fala de sua experiência diária, que deveria ser a de qualquer crente com um mínimo de consciência e honestidade.
Termos técnicos ou verdades teológicas não fazem discípulos é preciso vivenciá-las, pois a vida preenche o vazio do discurso, a vida é o lastro que dá o real valor das palavras bonitas e corretas, que muitas vezes não são nem tão bonitas e nem tão corretas assim. O viver prático da fé é o que faz de simples pecadores (pobres de espírito) pessoas separadas, herdeiras do Reino dos Céus. Essas não vivem atemorizadas mas chamam Deus de papaizinho.
www.fraternus.de
Se você respondeu que sim, errou, pois Jesus disse que não!
Dê uma olhada no evangelho do pescador capítulo oito, ali o mestre se dirige aos que "criam" nele dizendo: "Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará". Existe um longo caminho a ser percorrido entre o crer, ser discípulo e então ser livre. Crentes não são necessariamente livres, por uma razão simples, a fé sem obras é morta. Note como Cristo fala das obras que Abraão fez no versículo 36.
Avancemos então um estágio a mais em nossa investigação: O que é ser livre?
Jesus fala da escravidão do pecado. Virou moda no mundo evangélico engrossar a voz para chamar "pecado de pecado"... Exalta-se quem tem essa pseudo ousadia. Esses arautos da moral, fariseus que se acham livres clamam: "Por que relativizar? Por que chamaríamos pecado de desvio de caráter ou problema psicológico? Por que falarmos que fulano simplesmente errou? Não é melhor usarmos o termo religioso, pecado?" Na melhor (ou pior) das hipóteses pecado para essa casta é algo relacionado a sexo, ou coisas exteriores como usar brincos, tatuagens ou piercing.
O pecado é algo a ser evitado, vencido, concordo. Quer pecado mais horroroso do que a inveja, ódio ou orgulho? Por exemplo, imagine um líder religioso muito influente que é ambicioso. Digamos que ele seja católico ou até mesmo um islâmico, budista ou da nova era, cheio de inveja e ódio. Quanto dano pode causar? Agora pense que esse líder seja cristão evangélico (da mesma denominação que a sua). Será que isso muda alguma coisa? Não, a gravidade e danos do pecado são os mesmos, talvez nesse caso até piores.
Assim a conclusão farisaica é: Nada melhor do que a coerção para banirmos o pecado. E nesse caso o medo do inferno se presta como instrumento ideal. Rubem Alves entendeu corretamente que o inferno é o parafuso teológico que sustenta o mecanismo religioso. De fato, as quatro "leis espirituais" apresentam o pecado como a segunda "grande lei" (o que é ridículo) que explicaria a desordem no mundo de um indivíduo. Assim Jesus apareceria como o grande "superman" salvador, trazendo ordem, beleza e santidade. Por que então vemos outra realidade envolvendo a igreja e os fiéis?
O problema não estaria antes na interpretação bíblica que nos foi passada do que nos indivíduos propriamente ditos? A verdade às vezes é dura pois tira-nos todo o mérito além de apontar-nos um caminho doloroso: não existem mágicos e nem passe de mágica na vida com Deus. Nosso mundo não fica bonitinho quando "aceitamos Jesus”, pelo contrário, normalmente vira um caos! Tomar diariamente a cruz e o negar-se a si mesmo é o que Jesus exige. Nossa tendência natural é rogarmos como Pedro, "afasta-se de mim de sou homem pecador". Talvez Pedro tinha a consciência que esse tipo de parceria custa e dói muito para os dois lados. Mas Jesus convida-o: "vem e segue-me". Sem forçar, ainda que ciente de seu monopólio sobre as palavras de vida eterna. Pois Ele sabe que só o amor é a força que pode ao mesmo tempo unir e libertar.
Ser livre é mais que não pecar. Uma criancinha de dois anos não peca e isso não a liberta. Um velho que sofre de Alzheimer, coitado, não pode pecar mais, mas nem por isso é livre. Aqui há uma inversão, pensa-se: não pecarei, logo serei livre. Enquanto que o raciocínio correto é sou liberto logo não pecarei. Nisso há uma grande diferença. Como grande é o contraste entre "viver pecando" e ter uma "natureza irremediavelmente pecadora". Jesus diz: "Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado". Viver pecando é um estilo de vida e tenho que dizer, normalmente mais próximo da religião do que longe dela.
Dizer ou achar-se santo é uma coisa, ser santo é outra. Se ser santo fosse não pecar mais, não existiria e nunca existiu santo algum. Se não vejamos como São Paulo clama: "vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?" Paulo não está falando aqui de uma situação passada, antes da conversão – como alguns pregadores de araque, triunfalistas, tentam ensinar. Mas ele fala de sua experiência diária, que deveria ser a de qualquer crente com um mínimo de consciência e honestidade.
Termos técnicos ou verdades teológicas não fazem discípulos é preciso vivenciá-las, pois a vida preenche o vazio do discurso, a vida é o lastro que dá o real valor das palavras bonitas e corretas, que muitas vezes não são nem tão bonitas e nem tão corretas assim. O viver prático da fé é o que faz de simples pecadores (pobres de espírito) pessoas separadas, herdeiras do Reino dos Céus. Essas não vivem atemorizadas mas chamam Deus de papaizinho.
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