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Palavra do leitor

Crentes seriam verdadeiramente livres?

Questionado sobre a expressão "natureza irremediavelmente pecadora do ser humano" que usei no último artigo, devolvo a pergunta: crentes seriam verdadeiramente livres? 

Se você respondeu que sim, errou, pois Jesus disse que não!

Dê uma olhada no evangelho do pescador capítulo oito, ali o mestre se dirige aos que "criam" nele dizendo: "Conhecerão a verdade, e a verdade os libertará". Existe um longo caminho a ser percorrido entre o crer, ser discípulo e então ser livre. Crentes não são necessariamente livres, por uma razão simples, a fé sem obras é morta. Note como Cristo fala das obras que Abraão fez no versículo 36.

Avancemos então um estágio a mais em nossa investigação: O que é ser livre?

Jesus fala da escravidão do pecado. Virou moda no mundo evangélico engrossar a voz para chamar "pecado de pecado"... Exalta-se quem tem essa pseudo ousadia. Esses arautos da moral, fariseus que se acham livres clamam: "Por que relativizar? Por que chamaríamos pecado de desvio de caráter ou problema psicológico? Por que falarmos que fulano simplesmente errou? Não é melhor usarmos o termo religioso, pecado?" Na melhor (ou pior) das hipóteses pecado para essa casta é algo relacionado a sexo, ou coisas exteriores como usar brincos, tatuagens ou piercing.

O pecado é algo a ser evitado, vencido, concordo. Quer pecado mais horroroso do que a inveja, ódio ou orgulho? Por exemplo, imagine um líder religioso muito influente que é ambicioso. Digamos que ele seja católico ou até mesmo um islâmico, budista ou da nova era, cheio de inveja e ódio. Quanto dano pode causar? Agora pense que esse líder seja cristão evangélico (da mesma denominação que a sua). Será que isso muda alguma coisa? Não, a gravidade e danos do pecado são os mesmos, talvez nesse caso até piores.

Assim a conclusão farisaica é: Nada melhor do que a coerção para banirmos o pecado. E nesse caso o medo do inferno se presta como instrumento ideal. Rubem Alves entendeu corretamente que o inferno é o parafuso teológico que sustenta o mecanismo religioso. De fato, as quatro "leis espirituais" apresentam o pecado como a segunda "grande lei" (o que é ridículo) que explicaria a desordem no mundo de um indivíduo. Assim Jesus apareceria como o grande "superman" salvador, trazendo ordem, beleza e santidade. Por que então vemos outra realidade envolvendo a igreja e os fiéis?

O problema não estaria antes na interpretação bíblica que nos foi passada do que nos indivíduos propriamente ditos? A verdade às vezes é dura pois tira-nos todo o mérito além de apontar-nos um caminho doloroso: não existem mágicos e nem passe de mágica na vida com Deus. Nosso mundo não fica bonitinho quando "aceitamos Jesus”, pelo contrário, normalmente vira um caos! Tomar diariamente a cruz e o negar-se a si mesmo é o que Jesus exige. Nossa tendência natural é rogarmos como Pedro, "afasta-se de mim de sou homem pecador". Talvez Pedro tinha a consciência que esse tipo de parceria custa e dói muito para os dois lados. Mas Jesus convida-o: "vem e segue-me". Sem forçar, ainda que ciente de seu monopólio sobre as palavras de vida eterna. Pois Ele sabe que só o amor é a força que pode ao mesmo tempo unir e libertar.

Ser livre é mais que não pecar. Uma criancinha de dois anos não peca e isso não a liberta. Um velho que sofre de Alzheimer, coitado, não pode pecar mais, mas nem por isso é livre. Aqui há uma inversão, pensa-se: não pecarei, logo serei livre. Enquanto que o raciocínio correto é sou liberto logo não pecarei. Nisso há uma grande diferença. Como grande é o contraste entre "viver pecando" e ter uma "natureza irremediavelmente pecadora". Jesus diz: "Todo aquele que vive pecando é escravo do pecado". Viver pecando é um estilo de vida e tenho que dizer, normalmente mais próximo da religião do que longe dela.

Dizer ou achar-se santo é uma coisa, ser santo é outra. Se ser santo fosse não pecar mais, não existiria e nunca existiu santo algum. Se não vejamos como São Paulo clama: "vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a esta morte?" Paulo não está falando aqui de uma situação passada, antes da conversão – como alguns pregadores de araque, triunfalistas, tentam ensinar. Mas ele fala de sua experiência diária, que deveria ser a de qualquer crente com um mínimo de consciência e honestidade.

Termos técnicos ou verdades teológicas não fazem discípulos é preciso vivenciá-las, pois a vida preenche o vazio do discurso, a vida é o lastro que dá o real valor das palavras bonitas e corretas, que muitas vezes não são nem tão bonitas e nem tão corretas assim. O viver prático da fé é o que faz de simples pecadores (pobres de espírito) pessoas separadas, herdeiras do Reino dos Céus. Essas não vivem atemorizadas mas chamam Deus de papaizinho.
 
www.fraternus.de
Fürth - EX
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Site: http://teologia-livre.blogspot.de/

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