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Palavra do leitor

Crente não religioso

Com relação ao tema da prova de redação do ENEM 2016, o historiador e pós-doutor em História da Educação Paulo de Assunção (*), afirmou que "seria preciso incitar o pensamento crítico antes de propor respostas: ‘Assim não se coloca em jogo ideias reflexivas. O que seria essa intolerância? Como entender esse fenômeno? ’". A análise existente é que a realidade ofusca o argumento acadêmico, não por excesso ou falta de qualificação de quem argumenta, mas pela contrapartida motivacional da sociedade.

Qual é a motivação de alguém que recorre à prática da intolerância a qualquer pessoa, grupo ou ideia? Neste tempo de proclamação dos direitos humanos tal comportamento deveria ser discutido a partir dos próprios religiosos. A mídia contribui, tomando a iniciativa, mas trata de maneira tendenciosa, sobretudo, em programas de Radio e TV. Alguns canais tecem críticas à intolerância utilizando, dissimuladamente, o preconceito; raposas criticando o comportamento do galinheiro. De que maneira os adolescentes terão pensamento crítico se nem seus professores são isentos para tratarem o assunto?

É sofrível ouvir sobre protestantismo e suas divisões (os insumos de controvérsias). O substantivo intolerância é jogado no ventilador da cristandade ao juntar palavras como evangélico e Igreja, dentro ou fora de contexto. Embora haja relação entre os termos, ser Igreja não é ser evangélico. O evangélico se identifica pelo nome que deram ao fundarem sua assembleia, contrariando o Novo Testamento que não denomina, mas associa Igreja à cidade: Igreja em Éfeso, em Filipos, em Corinto. Um contestador, aqui na seção do leitor, define evangélico como idiota. E, preconceituoso, o faz de maneira preconcebida por ignorar Mateus 5:22. E, se no cristianismo, tão diverso, ocorre intolerância, quando é que professores esotéricos, católicos, protestantes (e os ateus) serão isentos? No ENEM?

Enquanto o historiador menciona ideias reflexivas, nosso próprio quintal abriga o que ele chama de contexto amplo; a via é de mão dupla: o Judeu é intolerante em relação ao católico; este não tolera os protestantes, que são sectários. E no caso de alguém que se apraz idiotizando crença alheia comprova-se que preconceito é motivação. Um mortal que se digna a ofender confirma que a religião propõe algo utópico e que o argumento acadêmico é apenas idealista. Somente quando uma pessoa desfruta Cristo como Pão e Agua da Vida pode reconhecer que o problema são suas motivações (Hebreus 4:12); e isso vale para qualquer pessoa, inclusive para os céticos e tendenciosos. Mas, nem todo crente quer se alimentar de Cristo, a Palavra de Deus, muito menos os incrédulos: um gosta de ingerir argumentos religiosos, e o outro, de eructar a sofisma que ama digerir.


(*) Integrou a Mesa Temática 6 - Religião e os desafios da sociedade contemporânea durante o I COINCIRE Congresso Internacional de Ciências da Religião da Universidade Mackenzie, em entrevista à Amanda de Almeida, editorial web da Ultimato.
Goiânia - GO
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