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Palavra do leitor

Crackolândia, os atentados na Noruega e a perda de sentido

A Gaveta

a gaveta
ensurdecida
ao verberar de mais

uma partícula a menos

fecho a gaveta
páginas enlouquecidas
ao veredicto de mais

uma certeza a mais

abro
palavras petrificadas
miríades de crendices

fecho
palavras resignadas
embalsamadas nas reminiscências

a vida se fecha
no porto das panacéias,

a morte se abre
na solidão da verdade.


Na última terça – feira, em 19 de Julho de 2011, alinhei-me aos discursos do pensador Paul Tillich sobre a perda de sentido.

Devo salientar, cheguei a essa redundante conclusão, após assistir o programa exibido pela Rede Globo sobre a trágica e mórbida trajetória de crianças e adolescentes submersos no uso de substancias entorpecente.

Nem houve a necessidade de esmiuçar tanto o assunto, em virtude de que me deparo com essa realidade ‘’crua e nua’’, aqui no centro da paulicéia desvairada, ou de São Paulo.

Mais especificamente, os subterrâneos da Crakolândia, ainda vista e interpretada pelos gestores da sociedade institucionalizada com intervenções paliativas. Pra não dizer ações anódinas e inócuas!

Lamentavelmente, dá-nos uma percepção de um embate com eminente desfecho de derrota. Por mais articulações oriundos de vários setores da sociedade, prosseguiremos a enfrentar um malefício endêmico, uma versão singular da peste bubônica do Séc. XXI.

Então, poderia verter uma pletora de culpados e responsáveis por correspondentes calamidades. Mesmo assim, ao vasculharmos esse funesto contexto de crianças desfiguradas, de autênticas caricaturas de uma perda de sentido, de reflexos de inter-relações humanas desestruturadas.

É bem verdade, as drogas se espraiam por todas as capilaridades socioeconômicas e culturais. Negar seria uma temeridade ou enfocar a apologia de ser uma desgraça que atinge, tão somente, os desafortunados. Tristemente, as drogas têm exercido uma espécie de caudilho ditatorial e assolado jovens, adolescentes, crianças, adultos e idosos.

Nessa linha de raciocínio, uns defendem, com unhas e dentes, a descriminalização imediata das drogas e para tanto se valem da tese dos direitos humanos e do princípio da liberdade de expressão com o fito de fazer valer os seus interesses e desideratos espúrios.

No entanto, nem sequer ou nunca estiveram nos mosaicos de zumbis, como presencio na Crakolândia. Parto dessas ponderações e como cristãos somos chamados a fim de sermos a Igreja visível de Cristo.

Noutro lado do mundo, numa considerada sociedade imbuída de ser um referencial aos direitos do cidadão, ou seja, a Noruega, acabamos surpreendidos por uma espécie de genocídio, com o contingente de mais de noventa um mortos, além de um atentado ocorrido na sua capital, na última sexta-feira.

Sem titubear, são situações, tanto a reportagem de crianças e adolescente vitimados pelas drogas quanto as vidas ceifadas abruptamente na Noruega, que nos afligem, ou, no mínimo, deveriam.

Mormente toda cacofonia do cotidiano, das exigências do fazer e fazer, ainda assim, não podemos deixar a peteca cair e olhar com lágrimas por tais acontecimentos.

Sei muito bem, ultimamente, a Igreja tem sido palco de imensuráveis críticas. Diga-se de passagem, execráveis e até munidas de um teor violento. Ora, ninguém aqui se pauta em discorrer metáforas, ou soerguer um evangelho subjetivista escorada numa visão idealista de Cristo que beira a mais patética fantasia.

Opostamente, convido-lhes a irmos ao Cristo voltado a caminhar a realidade concreta da existência humana, com a tenção de nos levar a vontade de Deus, com o foco de nos ajudar a discernirmos o mover da vida, ou seja, da Graça.

Faço tais e urgentes colocações, em função de que essa perda de sentido tem nos alcançado e provocado uma espécie de resignação, diante do vazio do presente século. Deveras, a Crakolândia tem sido o retrato cru e nu de uma geração estigmatizada pela perda de sentido, pela perda de noção de que há um tempo no porvir, de que há um tempo de libertação e criação.

Evidentemente, tornar-me-ia falacioso e um falastrão, caso incorresse na crença de que a Igreja alterará abissais anomalias gestadas por um estado de rejeição do homem no tocante a Deus.

Agora, embora com o fato inexorável de nossas delimitações, ainda assim, Cristo nos comissiona para aceitarmos o discipulado do serviço, da tolerância e do ouvir.

Eis aqui as espinhas dorsais de um evangelho, pelo qual as pessoas são vestidas de Cristo e acreditam na esperança de não nos conformarmos com os itinerários da humanidade, cada vez mais, eqüidistante de um recomeçar, num deplorável processo de vácuo espiritual e humano.

Por fim, a Igreja de Cristo, pessoas, eu e você, até que ponto verberamos e proporcionamos aos homens esse encontro de sentido, de destino e de motivo?
São Paulo - SP
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