Palavra do leitor
- 03 de janeiro de 2012
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Cordel evangélico: o encontro de Jesus e Judas... no céu!
Por um desses desencontros com a terra, a comunicação chegara trocada: DESCER virou SUBIR. E lá foi Judas para onde não deveria ir nem estar e muito menos aparecer.
Seria apenas desencontro, comunicação inadequada ou a vida é mesma cheia de certas nuances que não há teologia que dê conta do recado? A coisa parece ter acontecido mais ou menos assim...
Abrem-se as portas das Mansões Celestiais, à porta, Judas. Ainda consegue ver que a descrição que o ex-amigo de apostolado fizera estava certo: as ruas eram de ouro mesmo, as portas de pérola, e os muros de jaspe recém-incrustados!
Não ocorrera a Judas que aquele não era o seu lugar? Que batera na porta errada, mais uma vez?
JUDAS: (com outro delicado beijo) "Quanta beleza para um pobre tesoureiro arruinado. Agradeço a generosidade Cristã e tomo posse das Mansões como sempre sonhei! Minha Casa minha Vida!".
JESUS: "Aqui não, Judas! Teu lugar é bem mais embaixo! Você não entende de administração financeira e muito menos de geografia teológica. Se pelo menos tivesse feito algum uso adequado para com as 30 moedas de prata! Dado para alguma ONG evangélica em Jerusalém. Você, tirando uma de arrependido falso, vai e devolve? Que loucura! Cai fora!".
JUDAS: "Olha aí o filho do carpinteiro falando grosso!"
Judas percebeu que as palavras e o tom da voz, a lembrança desajeitada de coisas passadas, a pusilanimidade e o jeito desastrado de abordar uma questão séria, não casavam com o momento propício nem o avançado da hora.
Afinal, mentiroso que sempre fora, seria capaz de mentir em quatro fusos horários na terra, ao mesmo tempo, e sempre ao vivo! Mudaria de tática. E mandou ver. Indo direto ao assunto.
JUDAS: “Não fi-lo porque quilo!”, tentando reprisar a fala de certo brasileiro, mato-grossense, ex-presidente que renunciara ao mandato na República de Banânia, “se eu traí, como alegam, isso não corresponde aos fatos e muito menos à verdade. Fui compelido a fazê-lo!”.
JESUS: “Cai fora ou eu chamo Pedro com a espada!”, ameaçou o Santíssimo. “Que sujeito desaforado você, Judas, não? Na casa de meu pai há muitas moradas, mas na minha casa, na minha vida não há lugar para você, vamos, cai fora!”.
Judas permaneceria ali por algum tempo e ainda ameaçou argumentar, agora mudando o tom da conversa para algo com ‘jeito-de-sopro-de-algodão-doce’ com a sonora humildade política que o momento exigia.
JUDAS: “Ah! Mestre, acho que não é bem por aí. Afinal, os registros bíblicos apontam para o fato cabal de que se fiz o que fiz, é porque estava escrito, e desde a fundação do mundo! Segundo muitos de seus seguidores, se Deus, teu Pai, sabia de tudo, então eu fiz o que fiz sem chance de dizer que não queria ou não poderia deixar de fazê-lo. Cumpri parte do plano de tua Família! Estava escrito! Ou Vossa Majestade não sabia?” E continuou a destilar teologia, “se pelo menos fosse um ato voluntarioso de minha parte, eu até poderia pensar melhor, mas...”.
O “mas...” foi a gota d’água na paciência divina. Agora já não tinha mais aquela de cumprir o Plano de Deus e morrer na cruz, obediente que sempre fora. Estava tudo consumado. A conversa agora seria outra.
A essa altura alguém ouvira tudo e percebendo, correu a chamar Santo Agostinho. O velhinho Agostinho estava pescando, posto que durante a vida não tivera oportunidade de fazer o que mais gostava, ele agora curtia uma eternidade de peixes, os mais vistosos e grandes possíveis.
SECRETÁRIO-GERAL: “Agostinho, veja se você consegue explicar para esse, esse...”, o próprio nome ‘Judas’ já lhe causava urticária, mas o santo Africano entendera tudo.
Agostinho, como o seu sucessor mais tarde em certa Reforma Protestante, lembraria o secretário geral da Santíssima Trindade, era o tipo do teólogo que só estava errado quando pensava que estava errado.
Afinal, Agostinho diria com todas as letras (teológicas) aquilo que o Chefe dele dissera de Judas, de que ele, Judas, melhor seria se jamais tivesse nascido. Bem que Pelágio poderia estar aí para ajudar a esquentar o debate, alfinetou a si próprio o Secretário.
O inusitado, porém, aconteceu naquele instante. Agostinho desistiu de atender ao pedido da Trindade Excelsa! Julga a chegada de Judas no Céu algo incompreensível!
Justificaria sua decisão mais tarde, quando os maiorais, já alçados às Mansões Celestiais, confabulavam no ‘chá-eterno-das-três’: “se todas as coisas estavam feitas e pré-determinadas, por quais cargas d’água Judas teria ido bater no Céu?”.
E emendava, entre um pão de queijo e outro carregado de colesterol (PS. Nas Mansões essas coisas não provocam entupimento coronariano), “... ora, Se Deus é perfeito, e tudo bem pensado antes, durante e depois, não poderia um absurdo desses acontecer, Judas aparecer por aqui!”.
Melhor continuar a pescar. Tinha muito mais futuro, quer dizer, eternidade pela frente. Afinal, ele era (ou é?) um pescador nato!
E voltou para o rio do qual seu amigo João descrevera no Apocalipse! Agora cheio de peixes grandes, também.
Seria apenas desencontro, comunicação inadequada ou a vida é mesma cheia de certas nuances que não há teologia que dê conta do recado? A coisa parece ter acontecido mais ou menos assim...
Abrem-se as portas das Mansões Celestiais, à porta, Judas. Ainda consegue ver que a descrição que o ex-amigo de apostolado fizera estava certo: as ruas eram de ouro mesmo, as portas de pérola, e os muros de jaspe recém-incrustados!
Não ocorrera a Judas que aquele não era o seu lugar? Que batera na porta errada, mais uma vez?
JUDAS: (com outro delicado beijo) "Quanta beleza para um pobre tesoureiro arruinado. Agradeço a generosidade Cristã e tomo posse das Mansões como sempre sonhei! Minha Casa minha Vida!".
JESUS: "Aqui não, Judas! Teu lugar é bem mais embaixo! Você não entende de administração financeira e muito menos de geografia teológica. Se pelo menos tivesse feito algum uso adequado para com as 30 moedas de prata! Dado para alguma ONG evangélica em Jerusalém. Você, tirando uma de arrependido falso, vai e devolve? Que loucura! Cai fora!".
JUDAS: "Olha aí o filho do carpinteiro falando grosso!"
Judas percebeu que as palavras e o tom da voz, a lembrança desajeitada de coisas passadas, a pusilanimidade e o jeito desastrado de abordar uma questão séria, não casavam com o momento propício nem o avançado da hora.
Afinal, mentiroso que sempre fora, seria capaz de mentir em quatro fusos horários na terra, ao mesmo tempo, e sempre ao vivo! Mudaria de tática. E mandou ver. Indo direto ao assunto.
JUDAS: “Não fi-lo porque quilo!”, tentando reprisar a fala de certo brasileiro, mato-grossense, ex-presidente que renunciara ao mandato na República de Banânia, “se eu traí, como alegam, isso não corresponde aos fatos e muito menos à verdade. Fui compelido a fazê-lo!”.
JESUS: “Cai fora ou eu chamo Pedro com a espada!”, ameaçou o Santíssimo. “Que sujeito desaforado você, Judas, não? Na casa de meu pai há muitas moradas, mas na minha casa, na minha vida não há lugar para você, vamos, cai fora!”.
Judas permaneceria ali por algum tempo e ainda ameaçou argumentar, agora mudando o tom da conversa para algo com ‘jeito-de-sopro-de-algodão-doce’ com a sonora humildade política que o momento exigia.
JUDAS: “Ah! Mestre, acho que não é bem por aí. Afinal, os registros bíblicos apontam para o fato cabal de que se fiz o que fiz, é porque estava escrito, e desde a fundação do mundo! Segundo muitos de seus seguidores, se Deus, teu Pai, sabia de tudo, então eu fiz o que fiz sem chance de dizer que não queria ou não poderia deixar de fazê-lo. Cumpri parte do plano de tua Família! Estava escrito! Ou Vossa Majestade não sabia?” E continuou a destilar teologia, “se pelo menos fosse um ato voluntarioso de minha parte, eu até poderia pensar melhor, mas...”.
O “mas...” foi a gota d’água na paciência divina. Agora já não tinha mais aquela de cumprir o Plano de Deus e morrer na cruz, obediente que sempre fora. Estava tudo consumado. A conversa agora seria outra.
A essa altura alguém ouvira tudo e percebendo, correu a chamar Santo Agostinho. O velhinho Agostinho estava pescando, posto que durante a vida não tivera oportunidade de fazer o que mais gostava, ele agora curtia uma eternidade de peixes, os mais vistosos e grandes possíveis.
SECRETÁRIO-GERAL: “Agostinho, veja se você consegue explicar para esse, esse...”, o próprio nome ‘Judas’ já lhe causava urticária, mas o santo Africano entendera tudo.
Agostinho, como o seu sucessor mais tarde em certa Reforma Protestante, lembraria o secretário geral da Santíssima Trindade, era o tipo do teólogo que só estava errado quando pensava que estava errado.
Afinal, Agostinho diria com todas as letras (teológicas) aquilo que o Chefe dele dissera de Judas, de que ele, Judas, melhor seria se jamais tivesse nascido. Bem que Pelágio poderia estar aí para ajudar a esquentar o debate, alfinetou a si próprio o Secretário.
O inusitado, porém, aconteceu naquele instante. Agostinho desistiu de atender ao pedido da Trindade Excelsa! Julga a chegada de Judas no Céu algo incompreensível!
Justificaria sua decisão mais tarde, quando os maiorais, já alçados às Mansões Celestiais, confabulavam no ‘chá-eterno-das-três’: “se todas as coisas estavam feitas e pré-determinadas, por quais cargas d’água Judas teria ido bater no Céu?”.
E emendava, entre um pão de queijo e outro carregado de colesterol (PS. Nas Mansões essas coisas não provocam entupimento coronariano), “... ora, Se Deus é perfeito, e tudo bem pensado antes, durante e depois, não poderia um absurdo desses acontecer, Judas aparecer por aqui!”.
Melhor continuar a pescar. Tinha muito mais futuro, quer dizer, eternidade pela frente. Afinal, ele era (ou é?) um pescador nato!
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