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Palavra do leitor

Conflitos e soluções

As vezes temos uma idéia um tanto romântica da vida de Jesus Cristo, não que seja totalmente despida de afetos, mas imaginamos o ambiente do primeiro século totalmente pacífico, repleto de pessoas boas e favoráveis ao manifestar do Messias. Muito pelo contrário, eram tempos turbulentos, repletos de violência e desumanidade, para se ter uma breve idéia haviam mais escravos do que cidadãos romanos. A forma de governo era a república romana que financiava o genocídio de qualquer nação que não curvasse aos pés da dita pax romana, havia um senado totalmente doentio preocupado unicamente com os seus deleites e orgias. A religião romana era basicamente o culto ao imperador e demais divindades do panteão romano. Na região da Judéia, ocupada pelos romanos, não era diferente, era o reflexo do império romano em tudo. A religião oficial, ainda não chamada de judaísmo, era uma mistura de ritos e política, ao ponto de dividir-se em vários partidos políticos, entre eles os fariseus que dominavam a interpretação da lei de Moisés e a vigilância do povo, e os saduceus que faziam do templo em Jerusalém a maior casa de câmbio da região, e somando a isso tudo, uma multidão de miseráveis, doentes, órfãos, famintos etc. Isso é um pequeno retrato do mundo do primeiro século, onde Deus iria revelar-se como homem, ou seja, encarnaria e viveria totalmente o que é ser humano.

Jesus Cristo, o Deus revelado, iria desde o anúncio do seu nascimento, enfrentar uma tamanha conflitividade em todos os aspectos de sua vida. E a cada conflito que se levantava, Ele sempre tinha uma saída pacífica. Um caso, entre muitos, que retrata essa questão é o fato narrado no evangelho de João (Jo 4.1-30).

O fato inicia com uma espécie de fofoca, onde os fariseus tinham ouvido que Jesus fazia e batizava mais que João Batista, ainda que na Bíblica não menciona em lugar algum Jesus batizando alguém, diz o texto (vs. 3): Jesus “deixou a Judéia, e foi outra vez para a Galiléia”. Como quem está querendo dizer sem palavra alguma: Nos conflitos envolvendo disse e não disse, a melhor solução é cair fora silenciosamente. Continuando o texto (vs. 4): “foi necessário passar por Samaria”. Aí surge outro tremendo conflito, o conflito político, pois judeus e samaritanos não se comunicavam, e ainda qualquer objeto pertencente a um era considerando imundo ao outro. Mais uma vez Jesus vence esse conflito político, ele literalmente entra em Samaria, mostrando que nesse caso a melhor solução para esse conflito é uma boa visita.

No decorrer do texto (vs. 7-15), ao meio dia, Jesus para junto a um poço, e sendo ele homem, tem sede e procura alguém para pedir um pouco de água. O interessante que quem surge para pegar água do poço é uma mulher samaritana, diferentemente das demais mulheres que costumavam ir em grupo pegar água no romper e no findar do dia, essa mulher surge sozinha e numa hora que nenhuma mulher costumava ir pegar água. Primeiramente Jesus se dirige a alguém de Samaria – os judeus achavam isso um ato imundo, logo ele pede um favor a uma mulher – homem nenhum que se prezasse agia dessa forma, e além de tudo uma mulher samaritana. Nesse fato, Jesus vence um conflito social, pois está inserindo num contexto de diálogo alguém completamente excluída socialmente, por ser mulher e samaritana. Um diálogo é o começo de um processo de restauração social, para ouvir, escutar, descer do degrau e estar horizontalmente igual a quem parecer ser uma ameaça para nós.

No diálogo de Jesus com a mulher samaritana, surge um novo conflito, um conflito moral e espiritual (vs. 16-19), por revelação de Deus, Jesus pede que a mulher chame o seu marido e venha estar com ela junto dele, sendo que a mulher declara que não tem marido, com isso Jesus lhe diz: “disseste bem: não tenho marido, por tivesse cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido”. A mulher atônita ao ver a declaração de Jesus, confessa que realmente a situação é verdadeira e vê em Jesus um profeta. Nos conflitos espirituais (alguém que não consegue se manter num só casamento) e moral (estar no quinto casamento) a solução de Jesus é revelação do que está acontecendo e confissão de quem está vivendo a situação.

Essa história real identifica em nós muitas situações que estamos vivendo. Sempre haverá conflitos, e conflitos que teremos que fugir, visitar, dialogar, algo a se revelar e confessar, no entanto, em todos esses e diversos outros conflitos, necessitamos da companhia de Cristo Jesus, o Salvador.
Araranguá - SC
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