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Palavra do leitor

Concreta transitoriedade

Concreta transitoriedade

Deus sem linhas

Debruço – me no ventre,
diria:

- de uma baleia ou nas cisternas
de que e de quem sou?

Ali, nas entrelinhas do silêncio,
para que as máscaras?

Simplesmente:

- sou um ao encontro de outro
para subverter meu eu,

e alderedor da nostalgia,
o retrato de uma torneira
ao verter gotas turvas,
que macula uma mão de vidro!

Pergunto:

- Sobre uma mesa, a misericórdia de uma aboboreira
urdida pelas lágrimas do deserto, pedaços de clemências
sorvidos por lábios banidos e corações petrificados!

Nada fiz,
a não ser soar a incógnita
e fugir pelos labirintos das sombras,
na companhia do Deus sem linhas...

A vida tem sido regida pelos segundos? Tudo ao nosso alderedor segue uma cartilha frenética, tresloucada e, em suma, a todo vapor. As vezes, percebo estar numa realidade, cada vez mais, receosa, para não dizer paranoica, do tempo presente. Diga – se de passagem, sem pausa, sem parada, sem intervalo ou outras palavras voltadas a demonstrar a importância de a vida dispor de cadência, de equilíbrio e de ócio.

Parto dessas colocações e me debruço na entrevista feita pela revista exame, publicado em 25 de Outubro de 2012, sobre o livro – ‘’Como Você Mede Sua Vida’’, da autoria do empresário americano – ‘’Clayton Christensen’’. Presumidamente, o autor, diante de um quadro de câncer, o mesmo ao qual vitimou seu pai, estabelece uma rota de reavaliação no que toca aos legítimos valores da vida.

Sem sobre de dúvida, longe de tecer um comentário ácido, mas não negar seria uma tolice, determinadas situações faz com que venhamos a encarar a nossa concreta transitoriedade. Ora, a partir do relato do autor, abordamos a velha e conhecida pergunta:

- O que realmente vale a pena?

Em tempos movidos impetuosamente pela satisfação e pelo reconhecimento, a todo e qualquer custo, há uma aceitação para nos constituirmos como partes de uma engrenagem de metas a serem alcançadas.

Não por menos, vivemos uma época marcada por uma noção de família semelhante a uma maquete, a uma ideia, a um sonho bonito e distante da realidade concreta de todos os dias. Na busca a torto e a direita em prol do sucesso, pais esquecem de que a maior herança a ser concedida se encontra nos valores inclinados a apontar a importância do próximo na nossa vida, na construção da felicidade, na busca pela convivência harmoniosa e digna entre as pessoas.

Quantas oportunidades descartadas, como acompanhar o filho no futebol; ou um jantar simples e apaixonado; como curtir a natureza, desconectado das parafernálias de uma cultura consumista; ou acompanhar o pôr do sol, o soar das gaivotas, a colisão rítmica das ondas nas rochas e por ai vai.

Muito embora venhamos a incorrer na ilusão de uma suficiência absoluta, de uma jovialidade duradoura (o que diga a ditadura das lipoaspirações, das plásticas e outras ferramentas direcionadas a criar uma tentativa de se esquivar de nossa irreversível condição efêmera), uma pergunta, por mais escondida que possa estar ainda se faz audível:

- O que realmente vale pena ou tem valido a pena?

De certo, essa pergunta pode incomodar, importunar, mexer com condições consideradas ideais e, acredito, particularmente, ter sido a mola propulsora da frase alcunhada por Salomão, com um gosto de decepção para consigo mesmo, – ‘’tudo é vaidade’’.

Devo dizer, a saga do homem mais afortunado do mundo agradaria a muitos. Agora, o apito final de sua história retrata os mosaicos de um pujante reinado despedaçado por conflitos internos e insatisfações infestadas. O denominado ‘’homem mais sábio do mundo’’ não conseguiu perpetuar a paz, a justiça e o respeito como verdades inquestionáveis a prosseguir com seus descendentes.

Aproveito a oportunidade, então, e faço mais uma pergunta:

- O que realmente vale ou tem valido a pena no Reino de Deus?

Quantos trilham anos a fio dentro de uma comunidade cristã e não se fazem essa pergunta. Por isso, as palavras do Apóstolo Paulo são pra lá de convidativas – ‘’examine – se a si mesmo’’. Afinal de contas, quer queiramos ou não, se a trombeta não tocar, um dia não passaremos de fagulhas nas memórias do passado de alguém ou de alguns.

Ora, longe de qualquer fatalismo ou um discurso deprimente com relação a existência humana, valho – me do pontuar de Jesus, alias – ‘’certeiro’’, sobre o que adianta ganhar o mundo e perder a alma.

É bem verdade, todas essas ponderações poderão parecer inúteis e reconheço o quão difícil representa enfrentar uma cultura hedonista e narcisista, do poder monetário como acesso a uma felicidade de aparências.

Não é fácil mesmo!

Mesmo assim, diante da concreta transitoriedade de nossa vida, o que, realmente, vale e tem valido a pena?
São Paulo - SP
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