Palavra do leitor
- 05 de junho de 2014
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Artigo publicado em resposta a Carta a um ex-gay tentado a voltar atrás
Carta de um homossexual ao seu pastor
(esta carta, como a anterior, é fictícia)
Amado Irmão Nicodemus.
Obrigado pela sua correspondência. Como tenho sentido falta de amizades verdadeiras e puro amor cristão!
Lembro-me diariamente da minha conversão. Colocar em palavras a multidão de sentimentos é impossível: ordená-los em ordem de importância seria colocar um como superior ao outro, e não foi assim a experiência. Afirmo: minha vida se transformou por completo. Nunca pensei que conseguiria ter bons pensamentos e perdoar os que me prejudicaram no passado! Num piscar d’olhos ressentimento e ódio foram lavados. Nunca pensei que me preocuparia com o bem-estar do meu próximo, com a sua alegria; que ser ético nas relações sociais e comerciais fosse tão espontâneo! É fácil fazer o certo e recusar o errado!
Que certeza gloriosa é o testemunho do Espírito com o meu de que sou Seu filho.
Há um equívoco na sua carta. Não tenho desejo por outros homens! Esta fase da minha vida, de promiscuidade, saunas gays, programas, está, graças ao nosso Pai, enterrada. Dela fui liberto pelo Seu precioso sangue!
A terrível angústia é a percepção de que, apesar de todo amor da minha esposa, e dos frutos de nossa união, o interesse sexual mingou. Gradativamente percebi que (isto está me matando) mentia para ela ao dizer que a desejava. A cada relação sinto que a traio, ou que voltei à época dos programas sexuais. Isto eu não tive coragem de compartilhar com ela – ela não merece!
Revi minha história tentando encontrar respostas. Sabe por que mudamos de igreja? Porque naquela onde minha conversão foi publicamente manifestada o pastor me usou para alavancar seu ministério. Quantas vezes me chamou para dar testemunho! Confesso, envergonhado, tê-lo feito algumas vezes de modo mecânico.
Quando conheci Rita e começamos a namorar, fui sutilmente (às vezes acho que nem foi tão sutil assim) pressionado a demonstrar minha completa mudança de vida deixando a homossexualidade de lado. Não bastava deixar a promiscuidade, a imoralidade, a prostituição – a homossexualidade tinha que acabar. Se assim não fosse, minha conversão não seria genuína!
Quando chegamos na nossa igreja, fomos muito bem recebidos, graças a Deus. Pouquíssimas pessoas sabem do meu passado, e todas são discretíssimas. Meu pastor nunca me usou, nem me chamou para dar testemunho. Discipulou-me, tornando-me professor da escola dominical.
Rita é companheira especial, adoro estar ao seu lado. Compartilhamos sonhos, nos apoiamos nas nossas desilusões, fortalecemos nossos filhos. Mas – e tenho tomado consciência disto de modo gradual e com grande dor – como amigos, não como casal.
Verdadeiramente sonho com um companheiro que tenha as características dela. Não o procurei. Mas é a mais pura verdade que este é o desejo do fundo do meu coração.
Sei que temos que cultivar os frutos do Espírito, e que não devemos satisfazer os desejos carnais. Sei que é com esforço que vamos sendo santificados, que a eleição é irrevogável, e que a graça é irresistível – afinal, foi isto que experimentei em minha vida.
O ensino de Paulo aos romanos me pesa no coração. É a única passagem das Escrituras que questiona a certeza crescente: sou homossexual não por escolha, mas o sou. Talvez por contingências da vida (os cientistas não chegam a uma conclusão e as exposições e teorias deles são tão desprovidas de evidências decentes que dá dó).
Divaguei um tempo sobre os frutos do Espírito e da carne. Vi o presbítero X, 120 kg e 160 cm. Não é a glutonaria um pecado? Não é a obesidade resultante do comer em excesso, desnecessariamente? Não está o seu pecado, então, evidente aos olhos de todos?
A Sra. Y está em tratamento para cleptomania. Cito este segredo porque roubo é pecado. E as Escrituras não dizem que glutonaria ou roubo ou imoralidade sexual ou o que for não são pecados se forem consideradas doenças!
É natural para o Sr. X comer, é natural para mim desejar um companheiro, para formarmos um casal monogâmico e fiel.
Não sou honesto perante meu Senhor e Salvador Jesus se lhe escondo tudo isto; estou sem coragem de terminar meu casamento – é a atitude correta, pois estou permanentemente cometendo o pecado da mentira com minha esposa.
Repito, para não deixar dúvida no seu espírito: não estou apaixonado por ninguém. Se estivesse, encontraria forças extras.
Deveria deixá-la discretamente, afastar-me da escola dominical e procurar uma comunidade de cristãos onde ser homossexual não fosse motivo de orgulho, como não é o ser heterossexual; onde o centro da pregação seja a cruz e a ressurreição, e não a situação sexual; onde todos possam dizer “Senhor Jesus me chego a ti. Tua ira santa mereci. Oh, dá-me alívio mesmo aqui. Aceita um pecador. Eu venho como estou”; onde possa ter uma união abençoada se o Pai o permitir, ou viver celibatariamente em paz, sem pressão.
Esta conversa, com qualquer outra pessoa, causaria repulsa e escândalo. Mas conto com sua amizade e vocação pastoral para não me deixar só, falando e meditando, e sofrendo, sozinho.
nEle,
Sandro
Amado Irmão Nicodemus.
Obrigado pela sua correspondência. Como tenho sentido falta de amizades verdadeiras e puro amor cristão!
Lembro-me diariamente da minha conversão. Colocar em palavras a multidão de sentimentos é impossível: ordená-los em ordem de importância seria colocar um como superior ao outro, e não foi assim a experiência. Afirmo: minha vida se transformou por completo. Nunca pensei que conseguiria ter bons pensamentos e perdoar os que me prejudicaram no passado! Num piscar d’olhos ressentimento e ódio foram lavados. Nunca pensei que me preocuparia com o bem-estar do meu próximo, com a sua alegria; que ser ético nas relações sociais e comerciais fosse tão espontâneo! É fácil fazer o certo e recusar o errado!
Que certeza gloriosa é o testemunho do Espírito com o meu de que sou Seu filho.
Há um equívoco na sua carta. Não tenho desejo por outros homens! Esta fase da minha vida, de promiscuidade, saunas gays, programas, está, graças ao nosso Pai, enterrada. Dela fui liberto pelo Seu precioso sangue!
A terrível angústia é a percepção de que, apesar de todo amor da minha esposa, e dos frutos de nossa união, o interesse sexual mingou. Gradativamente percebi que (isto está me matando) mentia para ela ao dizer que a desejava. A cada relação sinto que a traio, ou que voltei à época dos programas sexuais. Isto eu não tive coragem de compartilhar com ela – ela não merece!
Revi minha história tentando encontrar respostas. Sabe por que mudamos de igreja? Porque naquela onde minha conversão foi publicamente manifestada o pastor me usou para alavancar seu ministério. Quantas vezes me chamou para dar testemunho! Confesso, envergonhado, tê-lo feito algumas vezes de modo mecânico.
Quando conheci Rita e começamos a namorar, fui sutilmente (às vezes acho que nem foi tão sutil assim) pressionado a demonstrar minha completa mudança de vida deixando a homossexualidade de lado. Não bastava deixar a promiscuidade, a imoralidade, a prostituição – a homossexualidade tinha que acabar. Se assim não fosse, minha conversão não seria genuína!
Quando chegamos na nossa igreja, fomos muito bem recebidos, graças a Deus. Pouquíssimas pessoas sabem do meu passado, e todas são discretíssimas. Meu pastor nunca me usou, nem me chamou para dar testemunho. Discipulou-me, tornando-me professor da escola dominical.
Rita é companheira especial, adoro estar ao seu lado. Compartilhamos sonhos, nos apoiamos nas nossas desilusões, fortalecemos nossos filhos. Mas – e tenho tomado consciência disto de modo gradual e com grande dor – como amigos, não como casal.
Verdadeiramente sonho com um companheiro que tenha as características dela. Não o procurei. Mas é a mais pura verdade que este é o desejo do fundo do meu coração.
Sei que temos que cultivar os frutos do Espírito, e que não devemos satisfazer os desejos carnais. Sei que é com esforço que vamos sendo santificados, que a eleição é irrevogável, e que a graça é irresistível – afinal, foi isto que experimentei em minha vida.
O ensino de Paulo aos romanos me pesa no coração. É a única passagem das Escrituras que questiona a certeza crescente: sou homossexual não por escolha, mas o sou. Talvez por contingências da vida (os cientistas não chegam a uma conclusão e as exposições e teorias deles são tão desprovidas de evidências decentes que dá dó).
Divaguei um tempo sobre os frutos do Espírito e da carne. Vi o presbítero X, 120 kg e 160 cm. Não é a glutonaria um pecado? Não é a obesidade resultante do comer em excesso, desnecessariamente? Não está o seu pecado, então, evidente aos olhos de todos?
A Sra. Y está em tratamento para cleptomania. Cito este segredo porque roubo é pecado. E as Escrituras não dizem que glutonaria ou roubo ou imoralidade sexual ou o que for não são pecados se forem consideradas doenças!
É natural para o Sr. X comer, é natural para mim desejar um companheiro, para formarmos um casal monogâmico e fiel.
Não sou honesto perante meu Senhor e Salvador Jesus se lhe escondo tudo isto; estou sem coragem de terminar meu casamento – é a atitude correta, pois estou permanentemente cometendo o pecado da mentira com minha esposa.
Repito, para não deixar dúvida no seu espírito: não estou apaixonado por ninguém. Se estivesse, encontraria forças extras.
Deveria deixá-la discretamente, afastar-me da escola dominical e procurar uma comunidade de cristãos onde ser homossexual não fosse motivo de orgulho, como não é o ser heterossexual; onde o centro da pregação seja a cruz e a ressurreição, e não a situação sexual; onde todos possam dizer “Senhor Jesus me chego a ti. Tua ira santa mereci. Oh, dá-me alívio mesmo aqui. Aceita um pecador. Eu venho como estou”; onde possa ter uma união abençoada se o Pai o permitir, ou viver celibatariamente em paz, sem pressão.
Esta conversa, com qualquer outra pessoa, causaria repulsa e escândalo. Mas conto com sua amizade e vocação pastoral para não me deixar só, falando e meditando, e sofrendo, sozinho.
nEle,
Sandro
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