Palavra do leitor
- 17 de setembro de 2011
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Canudos: o Reino de Deus na cidade dos homens
Introdução
Canudos é uma a expressão de apocalipsismo ocorrido no Brasil do século XIX. E é uma das mais bem sucedidas manifestações apocalipsistas, pois seu movimento enfatizou tanto uma esperança celestial como também, e principalmente, uma redenção histórica e sociológica, porquanto procurou construir em termos reais e práticos a Cidade de Deus no agreste nordestino que tipificou diante dos olhos dos sertanejos uma esperança que as estruturas sociais injustas em vigência no país à época não conferiam.
Eis, então, o êxito de Canudos! A razão de seu sucesso! A expectativa não era apenas sobre o porvir. A redenção não era apenas para a alma. O Reino de Deus construído em Canudos abarcava a alma, mas também todas as dimensões da vida humana. Era um projeto que estabelecia uma nova ordem. Isto fora, sem dúvida, uma novidade nos movimentos apocalipsistas, pois os moradores de Canudos não almejavam uma vida tranqüila após a morte. Queriam a dignidade de vida ainda em vida. Não queriam uma redenção futura somente. Uma nova vida enquanto presente! Foi isso que Antônio Conselheiro pregou, ensinou, incentivou e lutou. Canudos foi a idealização de um sonho que não precisava ser e estar distante e Antônio Conselheiro e seus discípulos tudo fizeram para realizá-lo.
Nossa proposta nesta breve exposição sobre Canudos é conhecer um pouco de sua história, de seu enigmático líder, seu êxito enquanto proposta de uma nova comunidade, as causas de seu sucesso e os temores que Belo Monte despertou em todo o país.
1 - Antônio Vicente Mendes Maciel: O Conselheiro.
Não podemos começar a falar sobre o fenômeno de Canudos sem partir de seu líder e protagonista. Figura central e enigmática na importante história de Canudos, Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, nasceu em 1828, Quixeramobim, Ceará. Filho de Vicente Mendes Maciel e Maria Joana de Jesus. Ficou órfão de mãe aos seis anos de idade o que acarretou dificuldades, pois seu pai, ao casar-se novamente, o fez com uma mulher que impunha sofrimentos ao pequeno Antônio. Após aprender a ler e escrever foi matriculado em uma escola onde estudou aritmética, geografia, francês e latim.
Sua formação foi fortemente influenciada pela sangrenta história de sua família que rivalizava no sertão a posse da terra, onde moravam, com os Araújos. Das desavenças, vieram, como conseqüência, acusações falsas, traições, emboscadas e assassinatos. Tais experiências impactaram profundamente Antônio Conselheiro, pois percebeu logo cedo em sua vida que os fortes se impõem pela truculência e intimidação e, dependendo de sua posição social e econômica, as autoridades não tomavam partido dos mais fracos. Antes, pelo contrário, os desprestigiavam, não os defendendo.
Ao tornar-se adulto, assumiu o estabelecimento comercial de seu pai e casou-se com uma prima, mas não obteve êxito na vida conjugal, pois foi traído e abandonado por sua esposa.
Antes da separação já havia liquidado o negócio que herdara do pai, o que o levou a trabalhar como empregado no comércio. Sua carreira profissional foi instável, trabalhando como proprietário de escola, professor, caxeiro, advogado provisionado e juiz de paz. Os fracassos profissionais, o insucesso conjugal, as constantes mudanças de endereços que lhe propiciaram conhecer algumas cidades do interior do Nordeste brasileiro e, assim, conhecer a dura realidade que o sertanejo enfrentava, além do senso de injustiça que conhecera desde a infância e que agravara ao trabalhar como advogado provisionado, principalmente pelo fato de que o poder vigente negava a justiça ao pobre, embora discursasse sobre a mesma, Antônio Conselheiro foi, aos poucos, se convencendo de que algo estava errado na ordem social estabelecida, porquanto era nítida a desigualdade vivida entre os sertanejos e os latifundiários do sertão.
Outro fator importante na eclosão do fenômeno “Antônio Conselheiro” foi seu contato com o José Antônio Pereira Ibiapina que em determinado momento de sua vida deixou a carreira profissional e dedicou-se ao sacerdócio católico. O clérigo angariava dinheiro e alimentos em prol dos necessitados e arregimentava pessoas para a construção de igrejas, pontes, cemitérios e açudes em Barbalho e Milagres, além de várias casas de caridade. Padre Ibiapina exerceu, com sua vida, ministério e pregações, fortíssima influência sobre Conselheiro, tendo este, inclusive, o acompanhado por um tempo como discípulo. Foi seu treinamento para a concepção de Canudos.
Em 1871 a fase errante e peregrina de Antônio Conselheiro começou, circulando pelos sertões dos Estados do Ceará, Pernambuco, Alagoas e Bahia. Nas peregrinações era acompanhado por adeptos e nas visitas aos lugarejos, além de pregar às populações pobres, procurava também reuni-las para a construção de obras de interesse público, seguindo o exemplo do Padre José Ibiapina.
Continua no próximo artigo...
Canudos é uma a expressão de apocalipsismo ocorrido no Brasil do século XIX. E é uma das mais bem sucedidas manifestações apocalipsistas, pois seu movimento enfatizou tanto uma esperança celestial como também, e principalmente, uma redenção histórica e sociológica, porquanto procurou construir em termos reais e práticos a Cidade de Deus no agreste nordestino que tipificou diante dos olhos dos sertanejos uma esperança que as estruturas sociais injustas em vigência no país à época não conferiam.
Eis, então, o êxito de Canudos! A razão de seu sucesso! A expectativa não era apenas sobre o porvir. A redenção não era apenas para a alma. O Reino de Deus construído em Canudos abarcava a alma, mas também todas as dimensões da vida humana. Era um projeto que estabelecia uma nova ordem. Isto fora, sem dúvida, uma novidade nos movimentos apocalipsistas, pois os moradores de Canudos não almejavam uma vida tranqüila após a morte. Queriam a dignidade de vida ainda em vida. Não queriam uma redenção futura somente. Uma nova vida enquanto presente! Foi isso que Antônio Conselheiro pregou, ensinou, incentivou e lutou. Canudos foi a idealização de um sonho que não precisava ser e estar distante e Antônio Conselheiro e seus discípulos tudo fizeram para realizá-lo.
Nossa proposta nesta breve exposição sobre Canudos é conhecer um pouco de sua história, de seu enigmático líder, seu êxito enquanto proposta de uma nova comunidade, as causas de seu sucesso e os temores que Belo Monte despertou em todo o país.
1 - Antônio Vicente Mendes Maciel: O Conselheiro.
Não podemos começar a falar sobre o fenômeno de Canudos sem partir de seu líder e protagonista. Figura central e enigmática na importante história de Canudos, Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, nasceu em 1828, Quixeramobim, Ceará. Filho de Vicente Mendes Maciel e Maria Joana de Jesus. Ficou órfão de mãe aos seis anos de idade o que acarretou dificuldades, pois seu pai, ao casar-se novamente, o fez com uma mulher que impunha sofrimentos ao pequeno Antônio. Após aprender a ler e escrever foi matriculado em uma escola onde estudou aritmética, geografia, francês e latim.
Sua formação foi fortemente influenciada pela sangrenta história de sua família que rivalizava no sertão a posse da terra, onde moravam, com os Araújos. Das desavenças, vieram, como conseqüência, acusações falsas, traições, emboscadas e assassinatos. Tais experiências impactaram profundamente Antônio Conselheiro, pois percebeu logo cedo em sua vida que os fortes se impõem pela truculência e intimidação e, dependendo de sua posição social e econômica, as autoridades não tomavam partido dos mais fracos. Antes, pelo contrário, os desprestigiavam, não os defendendo.
Ao tornar-se adulto, assumiu o estabelecimento comercial de seu pai e casou-se com uma prima, mas não obteve êxito na vida conjugal, pois foi traído e abandonado por sua esposa.
Antes da separação já havia liquidado o negócio que herdara do pai, o que o levou a trabalhar como empregado no comércio. Sua carreira profissional foi instável, trabalhando como proprietário de escola, professor, caxeiro, advogado provisionado e juiz de paz. Os fracassos profissionais, o insucesso conjugal, as constantes mudanças de endereços que lhe propiciaram conhecer algumas cidades do interior do Nordeste brasileiro e, assim, conhecer a dura realidade que o sertanejo enfrentava, além do senso de injustiça que conhecera desde a infância e que agravara ao trabalhar como advogado provisionado, principalmente pelo fato de que o poder vigente negava a justiça ao pobre, embora discursasse sobre a mesma, Antônio Conselheiro foi, aos poucos, se convencendo de que algo estava errado na ordem social estabelecida, porquanto era nítida a desigualdade vivida entre os sertanejos e os latifundiários do sertão.
Outro fator importante na eclosão do fenômeno “Antônio Conselheiro” foi seu contato com o José Antônio Pereira Ibiapina que em determinado momento de sua vida deixou a carreira profissional e dedicou-se ao sacerdócio católico. O clérigo angariava dinheiro e alimentos em prol dos necessitados e arregimentava pessoas para a construção de igrejas, pontes, cemitérios e açudes em Barbalho e Milagres, além de várias casas de caridade. Padre Ibiapina exerceu, com sua vida, ministério e pregações, fortíssima influência sobre Conselheiro, tendo este, inclusive, o acompanhado por um tempo como discípulo. Foi seu treinamento para a concepção de Canudos.
Em 1871 a fase errante e peregrina de Antônio Conselheiro começou, circulando pelos sertões dos Estados do Ceará, Pernambuco, Alagoas e Bahia. Nas peregrinações era acompanhado por adeptos e nas visitas aos lugarejos, além de pregar às populações pobres, procurava também reuni-las para a construção de obras de interesse público, seguindo o exemplo do Padre José Ibiapina.
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