Palavra do leitor
- 24 de maio de 2023
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Caldo de cana
Gosto de escrever sobre temas vários, talvez seja por isto que eu me rendi à poesia. Durante muito tempo eu não me considerava poeta, achava uma palavra muito vaga para se referir a uma função tão linda, rara e importante. Não sou poeta de um verso só, ou de apenas um ritmo, ou uma rima, ou um tema. Procuro obedecer a inspiração que jorra da minha mente e do meu coração. Ser poeta é diferente de ser escritor. A poesia pode ser um gesto, um olhar, uma frase, um pensamento, um poema (breve ou extenso), um soneto, ou apenas uma quadra. O importante, sobretudo, é ser poesia. Alguém pode estar se perguntando; o que o título tem a ver com isto? Por que "Caldo de cana?". Eu respondo: isto me remete à minha infância e adolescência vivendo na roça onde a gente chupava cana e às vezes até estragava os dentes que eram forçados e acabavam sendo prejudicados na sua raiz. Mas a gente gostava, mais do que gostava: precisava chupar para se alimentar considerando que esse caldo é rico em vitamina e, portanto, nos ajuda em nossa carência. Mas, enfim, tudo começou assim, se não pra você, com certeza pra mim. Tomei muita garapa, um de meus tios tinha um engenho e fazia rapadura. Comi muita rapadura naquele tempo e onde eu ia as pessoas me ofereciam esse doce de cana que eu não dispensava. Hoje estava pensando nisto quando passei num local e comprei Caldo de cana, ou garapa de cana moída hora. Isto me fez lembrar daquele tempo bom lá no interior de Minas. Essas lembranças são comuns e muita gente, além de lembrar, acaba repartindo a sua experiência com alguém. São fatos distantes que continuam presentes na vida da gente sempre no nosso inconsciente. Caldo de cana é alimento, é remédio, é vitamina e é muito gostoso. Faço parte de um grupo de pessoas que viveram naquele tempo. Muita coisa mudou, mas as lembranças, o sentimento, o nosso subconsciente ainda recorda e, de certa forma, traz para os dias de hoje. Muita gente se lembra, mas nem todos conseguem escrever, materializar e trazer para os dias de hoje. Faço aqui um paralelo com a Bíblia: quantas coisas que acontecem hoje já aconteciam naquele tempo! A alimentação, os costumes tantos, a vivência, as desavenças, as discussões, o dia a dia... Enfim, quanta coisa que vivemos hoje estão narradas na Bíblia! O ser humano é uma sequência com algumas mudanças que variam, mas que na sua essência se parecem, ou até se confundem. O ser humano sempre foi humano, carente, preso às suas necessidades. Não podemos dissociar o cidadão de hoje com o daquele que viveu a séculos passado. Se Jesus vivesse na terra hoje provavelmente ia acontecer com Ele o mesmo que aconteceu. As pessoas que hoje perseguem os cristãos agem pelo mesmo espírito que agiam aquelas pessoas. O mesmo ódio que muitos tem hoje dos cristãos também nutriam naquele tempo. Jesus hoje seria morto, talvez não crucificado entre dois ladrões, mas de forma, possivelmente, ainda mais cruel. A igreja que hoje é perseguida em vários países é a mesma que foi perseguida naquele tempo. Paulo e Silas foram presos e hoje muitos ainda são presos, ou proibidos de viver e praticar a sua fé e a sua religião. Portanto, quando eu falo sobre o caldo de cana parece uma brincadeira, mas, de fato, estou falando de algo que existia no meu tempo de criança e adolescente e ainda existe hoje. Da mesma forma, tudo que existe hoje já existia naquele tempo, pois a essência é a mesma, mudam apenas o jeito, a cor, a forma, mas o gosto é o mesmo. Fico imaginando como deveria ser a vida naquele tempo e chego à conclusão que é praticamente como é hoje. O homem foi criado para trabalhar e lavrar a terra e até hoje existe essa profissão. E assim tudo se sucede praticamente igual e da mesma forma. E viva o Caldo de cana!
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