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Palavra do leitor

Cachorrice

Cachorrice é uma expressão que traduz a atitude de indivíduo de índole má, e é esse sentido que as pessoas dão para qualificar aqueles que fazem maldades, malandragens.

Voltarei, adiante, a essa infeliz conceituação.

Um ministro de um governo passado, há mais de 20 anos, tinha um belo cão e se gabava disso. Em um determinado dia, falando com a mídia, saiu o assunto do animal, ao que ele disse “cachorro também é humano” (sic).

Tenho duas amigas, ex-colegas de trabalho, que também demonstram um carinho muito grande pelos chamados animais irracionais; sim porque nós, os chamados humanos, somos classificados como racionais; e se não fôssemos então? Quantas maldades, quantos crimes hediondos têm acontecido recentemente!

A Palavra de Deus afirma, há milênios, que “o coração do homem é enganoso, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?” (Jr 17 9).

Então as suas maldades deveriam ser designadas “humanices”, não cachorrice ou cachorrada, pois os animais não fazem o mal aos da sua própria espécie, são dóceis, amáveis, fiéis aos seus donos, e inteligentes!

Melhor seria “humanites”, que "seriam humanices infectadas".

Voltemos, todavia, às duas amigas, elas recolhem animais de rua, maldosamente abandonados por seus donos, e os levam para casa.

Uma delas chegou a ter cerca de 9 animais em seu apartamento. A outra, com mais espaço, recentemente estava com 145 cachorros, fora os gatos, todos pegos no abandono das ruas.

Suas, dos animais, feridas são saradas, recebem vacinas, todas as necessárias, submetidos são à castração e, também, à vermifugação.

Depois de tudo isso: carinho e cura, esta segunda amiga procura por quem queira adotá-los. É difícil!

As pessoas procuram locais que vendem filhotes de raça, custam muito caro!

Nós mesmos, eu e minha esposa, temos um Yorkshire Terrier, mas a história dele com sua fêmea é muito triste. Foram usados, por sua dona, para darem crias; depois de 7 anos dando lucros financeiros, já não podiam mais ter filhotes; passaram a ser maltratados, apanhavam, levavam vassouradas.

Alguém denunciou às autoridades, o casal de cães foi apreendido e deixado com outra amiga nossa, para doação.

A fêmea ficou com a irmã dessa amiga, e a nós foi oferecido o macho, gratuitamente.

Apesar de ser de raça tem uma história de sofrimento, talvez igual, ou pior, à dos que são abandonados nas ruas.

Recente prestação de contas, março, dessa moça que tem um abrigo para pegar um número mais elevado de animais, mostra que teve um gasto no mês de R$ 15.5 mil, recebendo doações de amigos de R$ 3.9 mil!

Como dar continuidade a essa missão de acolher tantos animais abandonados e sofridos?
Vide http://www.amigosde4patas.com.br/

É um trabalho fantástico, maravilhoso, misericordioso, amoroso. Há uma convicção delas de que estão servindo e agradando a Deus. Afinal, também são criaturas dEle!

Dou-lhes razão com base no Gênesis: o Criador incumbiu o ser chamado “humano” de escolher o nome de cada espécie (Gn 2 19-20) e o designou para administrar, cuidar, zelar pelo Jardim do Éden (Gn 2 15); o Jardim era tudo o que havia ali, toda a criação de Deus: árvores, flores, frutas, animais domésticos, aves dos céus e também os selváticos.

Deus deu dons, talentos, missões a cada um de nós; elas têm esse sublime amor pelos animais, principalmente os abandonados, maltratados, deixados à fome e às intempéries do tempo, tendo que buscar alimentos, outrora nas latas de lixo. Daí o nome de “vira-latas”.

O Senhor Jesus nos comissionou, os seus seguidores, para cuidar, também, dos nossos semelhantes, levando-lhes a Palavra de Deus, o ensino, a pregação, o testemunho; poucos são, todavia, os que criam instituições para retirar do abandono os considerados em condição de rua, moradores de sub-viadutos, os que se encontram em situação de mendicância buscando o alimento de cada dia, também no lixo dos ricos.

No entanto, ainda não ouvimos falar de pessoas físicas que, independentes, entregam seus recursos próprios [dinheiro e trabalho] para resgatar, sarar, regenerar, alimentar e cuidar dos seres humanos em situação de plena miséria; aquelas que cuidam dessas criaturas, geralmente, o fazem em instituições organizadas para essa finalidade, com verbas governamentais, com convênios firmados com o Poder Público; mas, reiteramos, se existem, são poucos os que o fazem na condição de pessoas físicas, com recursos próprios e de poucos amigos simpatizantes com a causa do socorro ao próximo.

Diz-nos a Sagrada Escritura:

“A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1 27);

“Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não faz, nisso está pecando” (Tg 4 17).

Que o amor, digno dom dessas nossas [minhas e dos animais] amigas, que cuidam desses seres abandonados, seja por nós praticado, com a adição dos dons de misericórdia e socorro.
São Paulo - SP
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