Palavra do leitor
- 11 de dezembro de 2008
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Cabeça presbiteriana, coração pentecostal
Os iluministas e muitos dos seus seguidores, confiando no progresso da ciência, previram que haveria um tempo em que a religião desapareceria. O final do século XX e o início do século XXI têm colocado a religião no centro das principais questões mundiais e pelos motivos mais tristes: a violência e a intolerância.
Aquilo que acontece de forma mais intensa entre religiões, pode acontecer de forma menos intensa, mas, não menos dramática, dentro das religiões ou, trazendo isto para o nosso contexto, dentro das igrejas locais.
Sei que há questões relevantes no que diz respeito à fé das quais não podemos arredar o pé um milímetro, para não negarmos a essência da fé. Ironicamente, essas questões essenciais, que foram tema das grandes discussões teológicas ficaram no passado e muito crentes nem chegaram sequer a conhecê-las com clareza razoável. Nessas questões as fronteiras já estão delimitadas.
É impressionante, como por conta de doutrinas secundárias, abandonamos a essência do cristianismo que é o amor. Em nome de Cristo, chegamos a rejeitar irmãos porque em alguns aspectos de sua fé são diferentes de nós. O mais triste é que isso acontece em qualquer vertente do protestantismo. Os históricos olham com desdém para os pentecostais como pessoas ignorantes; os pentecostais olham para os históricos com indiferença por considerá-los frios.
O pior é que para podermos fustigar os outros, costumamos rotulá-los, pois assim fica mais fácil destilar a nossa indignação e às vezes, até o ódio.
Até agora, eu mesmo não consegui me enquadrar em uma categoria específica, tenho uma cabeça presbiteriana, mas um coração pentecostal.
A minha cabeça é presbiteriana porque tenho uma profunda identidade com a teologia reformada, com o seu sistema de governo, com a sua história. Penso que a fé embora não seja racional, se expressa de forma lógica, com argumentos, com estrutura, usando a mente para a glória do nosso Criador. Gosto de livros, de um sermão que procura expor o texto bíblico e que leva a sério o contexto histórico no qual o texto está inserido.
Por outro lado, tenho um coração pentecostal. Sou um grande admirador de como o pentecostalismo trouxe um sopro de renovação ao protestantismo. Admiro o seu entusiasmo evangelístico, a ênfase na oração, o resgate que fez da pessoa do Espírito Santo, sempre a mais esquecida da Trindade Santa. Admiro como para eles o milagre de Deus não é apenas uma palavra inserida no texto bíblico, mas uma possibilidade iminente em suas vidas diárias.
Não consigo ficar em um pólo ou noutro. Gosto de tudo ao mesmo tempo. Gosto dos hinos por conta de sua poesia, teologia e tradição. Gosto dos cânticos modernos, pelos seus ritmos, seus versos e a maneira contemporânea de expressar a fé. Gosto de grupos corais, da maneira bela como harmonizam as vozes. Gosto também dos solistas que conseguem expressar a riqueza de uma música de forma solitária. E ainda gosto de ver a igreja cantando, as mãos levantadas, os olhos fechados, a adoração se expressando com emoção, com gestos, com danças, com coreografias e toda a arte que for usada para a glória de Deus.
É provável que com isso eu seja muito presbiteriano para os pentecostais e muito pentecostal para os presbiterianos, contudo, para mim, não é tudo uma questão de ser branco ou preto ou, misturando os dois, chegar a um tom cinza, mas, de viver uma tensão contínua dentro de realidades diferentes. O cristianismo é policromático, é profusão de cores, de sons, de ritmos, de melodias, de danças e gestos.
Não podemos reduzir a riqueza da revelação e das manifestações de Deus na história e no meio do seu povo a meros conceitos academicistas e escolásticos. O grande exemplo dessa riqueza de abordagens do fenômeno da revelação divina está na biografia de Cristo, os Evangelhos, que embora sem contradições apresentam em pelo menos quatro abordagens diferentes, a mesma história vista de quatro perspectivas. A questão da fé e das obras em Paulo e Tiago, por exemplo, em que uma coisa não exclui a outra, nem a contradiz. É apenas o exemplo dessa riqueza da Palavra de Deus que se expressa às vezes em forma de tensão.
Não estou preocupado com rótulos, nem estereótipos, nem tampouco em agradar a homens. Estou preocupado em ser fiel a Deus, em viver em santidade de vida, em ser íntegro diante de Deus. Estou preocupado em amar e respeitar os meus irmãos que em alguns aspectos de sua fé são diferentes de mim.
Para concluir, penso que os pentecostais deveriam admirar o zelo doutrinário e teológico dos históricos e que os históricos deveriam admirar o entusiasmo e a fé viva dos pentecostais. Precisamos aprender uns com os outros naquilo que têm de mais forte em suas vidas com Deus. Vivendo de acordo com o princípio. Unidade nas coisas essenciais; diversidade nas coisas secundárias, acima de tudo, o amor.
www.boletim1ipinblogspot.com
Aquilo que acontece de forma mais intensa entre religiões, pode acontecer de forma menos intensa, mas, não menos dramática, dentro das religiões ou, trazendo isto para o nosso contexto, dentro das igrejas locais.
Sei que há questões relevantes no que diz respeito à fé das quais não podemos arredar o pé um milímetro, para não negarmos a essência da fé. Ironicamente, essas questões essenciais, que foram tema das grandes discussões teológicas ficaram no passado e muito crentes nem chegaram sequer a conhecê-las com clareza razoável. Nessas questões as fronteiras já estão delimitadas.
É impressionante, como por conta de doutrinas secundárias, abandonamos a essência do cristianismo que é o amor. Em nome de Cristo, chegamos a rejeitar irmãos porque em alguns aspectos de sua fé são diferentes de nós. O mais triste é que isso acontece em qualquer vertente do protestantismo. Os históricos olham com desdém para os pentecostais como pessoas ignorantes; os pentecostais olham para os históricos com indiferença por considerá-los frios.
O pior é que para podermos fustigar os outros, costumamos rotulá-los, pois assim fica mais fácil destilar a nossa indignação e às vezes, até o ódio.
Até agora, eu mesmo não consegui me enquadrar em uma categoria específica, tenho uma cabeça presbiteriana, mas um coração pentecostal.
A minha cabeça é presbiteriana porque tenho uma profunda identidade com a teologia reformada, com o seu sistema de governo, com a sua história. Penso que a fé embora não seja racional, se expressa de forma lógica, com argumentos, com estrutura, usando a mente para a glória do nosso Criador. Gosto de livros, de um sermão que procura expor o texto bíblico e que leva a sério o contexto histórico no qual o texto está inserido.
Por outro lado, tenho um coração pentecostal. Sou um grande admirador de como o pentecostalismo trouxe um sopro de renovação ao protestantismo. Admiro o seu entusiasmo evangelístico, a ênfase na oração, o resgate que fez da pessoa do Espírito Santo, sempre a mais esquecida da Trindade Santa. Admiro como para eles o milagre de Deus não é apenas uma palavra inserida no texto bíblico, mas uma possibilidade iminente em suas vidas diárias.
Não consigo ficar em um pólo ou noutro. Gosto de tudo ao mesmo tempo. Gosto dos hinos por conta de sua poesia, teologia e tradição. Gosto dos cânticos modernos, pelos seus ritmos, seus versos e a maneira contemporânea de expressar a fé. Gosto de grupos corais, da maneira bela como harmonizam as vozes. Gosto também dos solistas que conseguem expressar a riqueza de uma música de forma solitária. E ainda gosto de ver a igreja cantando, as mãos levantadas, os olhos fechados, a adoração se expressando com emoção, com gestos, com danças, com coreografias e toda a arte que for usada para a glória de Deus.
É provável que com isso eu seja muito presbiteriano para os pentecostais e muito pentecostal para os presbiterianos, contudo, para mim, não é tudo uma questão de ser branco ou preto ou, misturando os dois, chegar a um tom cinza, mas, de viver uma tensão contínua dentro de realidades diferentes. O cristianismo é policromático, é profusão de cores, de sons, de ritmos, de melodias, de danças e gestos.
Não podemos reduzir a riqueza da revelação e das manifestações de Deus na história e no meio do seu povo a meros conceitos academicistas e escolásticos. O grande exemplo dessa riqueza de abordagens do fenômeno da revelação divina está na biografia de Cristo, os Evangelhos, que embora sem contradições apresentam em pelo menos quatro abordagens diferentes, a mesma história vista de quatro perspectivas. A questão da fé e das obras em Paulo e Tiago, por exemplo, em que uma coisa não exclui a outra, nem a contradiz. É apenas o exemplo dessa riqueza da Palavra de Deus que se expressa às vezes em forma de tensão.
Não estou preocupado com rótulos, nem estereótipos, nem tampouco em agradar a homens. Estou preocupado em ser fiel a Deus, em viver em santidade de vida, em ser íntegro diante de Deus. Estou preocupado em amar e respeitar os meus irmãos que em alguns aspectos de sua fé são diferentes de mim.
Para concluir, penso que os pentecostais deveriam admirar o zelo doutrinário e teológico dos históricos e que os históricos deveriam admirar o entusiasmo e a fé viva dos pentecostais. Precisamos aprender uns com os outros naquilo que têm de mais forte em suas vidas com Deus. Vivendo de acordo com o princípio. Unidade nas coisas essenciais; diversidade nas coisas secundárias, acima de tudo, o amor.
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