Palavra do leitor
- 17 de outubro de 2012
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"Atirei o pau no gato-to..."
Nessa hora minha nora cortou o cântico e disse que não era assim. A versão politicamente correta abolia a maldade contra os animais. E entoou outra coisa, ‘sem sal’:
Não atire o pau no gato-to
Porque isso-so
Não se faz-faz-faz
O gatinho-nho
É nosso amigo-go
Não devemos maltratar os animais
Miau!
Rápida busca e descobri que nem “escravos de Jó jogavam caxangá” pode mais. Com cotas raciais nas universidades agora, a menção de uma cantiga dessas resultaria em processo judicial por racismo.
“Cai, cai, balão”, nem pensar, leis municipais proíbem balões; “olha o macaco na roda” também não pode, imaginem a criançada abusando sadísticamente de macacos!
Empobreceram o repertório musical das crianças? Não. Há muita coisa nova por aí e com certeza as coisas têm que mudar mesmo.
Só não faz sentido, porém, a ‘releitura’ da história. O perigo mora justamente aí. A ‘releitura’ é sempre um negócio perigoso. “Pau no gato” e outros são releituras da história.
Para brasileiros abestalhados, até o passado é discutível nessa república bananeira!
Anos atrás não existia bulling, mexer com os mais fracos a molecada ‘tirava no braço’ mesmo. O irmão mais velho resolvia rapidinho: “Quem foi que te xingou?”, perguntava, e pronto, o assunto era resolvido na hora. Não existia internet, portanto, cyberbulling era coisa que nem constava do imaginário.
Pecado era pecado, beber e fumar eram expressões mais visíveis do comportamento pecaminoso. Imaginar a Santa Ceia servida com vinho cheirando a álcool podia ser um sonho para o futuro, mas era suco de uva da ‘Superbom’ dos adventistas e pronto.
Muito embora fosse difícil mesmo explicar para nós àquela época que tipo de vinho sem álcool Jesus produziu nas bodas de Caná da Galileia.
Pastor era Reverendo, e nem se imaginava cumprimentar aquela figura quase profética e chamando-o de ‘amigão da fé’. Reverendo usava terno e gravata, com ou sem calor, e a melhor roupa do crente era para o domingo. Bermuda? Sandálias havaianas? Tome juízo!
Púlpito era lugar da Palavra. Desconhecia-se o uso da ‘psicologização das emoções’ (Carlos ‘Catito’ e Timóteo Carriker). O sermão era preparado com muita antecedência. Avisos corriam de boca em boca e não existia boletim nem blog para fazer propaganda de modelos teológicos (Guilherme Carvalho).
Igreja era igreja, comunidade era coisa de Maçon. Célula só no microscópio e 'café teológico’, se alguém aparecesse com uma ideia dessas, o indigitado seria disciplinado pelo Conselho da igreja (Caio Fábio).
Cheque dado por Presbítero era pago e não ‘voador’. Contratos eram feitos com o ‘fio do bigode’.
Desejo a volta disso? Nunca! Jamais. História não é para ser ‘revista’. Quiçá, lembrada e aprendida.
‘Releitura’ foi o que o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa fez com Dalton Trevisan, “Violetas e Pavões”, retirando-o da listra de leitura obrigatória.
Evidentemente que muitas coisas modernas, se levadas ao passado teriam melhorado em muito a contribuição histórica daquela época. O inverso também é verdadeiro.
Por exemplo, a cara de pau de se pedir dinheiro nas igrejas hoje seria algo impensável naqueles dias e nem se sonhava com ‘pastor’ dono de propriedades, jatinhos, TV, além de sua casa e um carro, sobretudo porque o salário pastoral tinha que ser compatível com um Reverendo. Aliás, Reverendo era o padrão de referência na cidade.
À mesa, minha nora contou que o estudo bíblico dado pelo ‘pastor fora sobre as ‘Pragas do Egito’.
“Pragas do Egito?”, perguntei! E, como todo sogro, perguntando de mansinho para não cair na ira das noras.
“Como é que voce explica” perguntei, como quem não quer ofender, “que um país seja objeto de ‘pragas’ quando ‘pau no gato-to’ não pode mais?”.
“Que tal”, sugeri, em vez de ‘praga’, fosse “desequilíbrio ecológico em razão do aquecimento global sobre o rio Nilo”. ‘Sangue’ poderia ser “aglutinação de algas rosáceas” e ‘primogênito’, “cria primípara”.
Percebi que a coisa ia caminhando para um final não muito feliz e resolvi mudar de assunto.
Ainda à mesa, como o politicamente correto é coisa ‘sem sal’ mesmo, pedi que ela passasse o “saleiro”.
De pronto ela rebateu, “Cloreto de sódio, meu sogro?” Devolvi, “Não. A ‘releitura da história’ pelo politicamente correto só fica bom com ‘sal grosso’ mesmo!”.
______________
PS. O Supremo Tribunal Federal (STF) discutirá se libera o uso do livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, na rede pública de ensino. A audiência foi convocada pelo ministro Luiz Fux após o STF receber um mandado de segurança, impetrado pelo Instituto de Advocacia Racial, o IARA, e pelo técnico em gestão educacional Antônio Gomes Neto, alegando que a obra possui elementos racistas.
Não atire o pau no gato-to
Porque isso-so
Não se faz-faz-faz
O gatinho-nho
É nosso amigo-go
Não devemos maltratar os animais
Miau!
Rápida busca e descobri que nem “escravos de Jó jogavam caxangá” pode mais. Com cotas raciais nas universidades agora, a menção de uma cantiga dessas resultaria em processo judicial por racismo.
“Cai, cai, balão”, nem pensar, leis municipais proíbem balões; “olha o macaco na roda” também não pode, imaginem a criançada abusando sadísticamente de macacos!
Empobreceram o repertório musical das crianças? Não. Há muita coisa nova por aí e com certeza as coisas têm que mudar mesmo.
Só não faz sentido, porém, a ‘releitura’ da história. O perigo mora justamente aí. A ‘releitura’ é sempre um negócio perigoso. “Pau no gato” e outros são releituras da história.
Para brasileiros abestalhados, até o passado é discutível nessa república bananeira!
Anos atrás não existia bulling, mexer com os mais fracos a molecada ‘tirava no braço’ mesmo. O irmão mais velho resolvia rapidinho: “Quem foi que te xingou?”, perguntava, e pronto, o assunto era resolvido na hora. Não existia internet, portanto, cyberbulling era coisa que nem constava do imaginário.
Pecado era pecado, beber e fumar eram expressões mais visíveis do comportamento pecaminoso. Imaginar a Santa Ceia servida com vinho cheirando a álcool podia ser um sonho para o futuro, mas era suco de uva da ‘Superbom’ dos adventistas e pronto.
Muito embora fosse difícil mesmo explicar para nós àquela época que tipo de vinho sem álcool Jesus produziu nas bodas de Caná da Galileia.
Pastor era Reverendo, e nem se imaginava cumprimentar aquela figura quase profética e chamando-o de ‘amigão da fé’. Reverendo usava terno e gravata, com ou sem calor, e a melhor roupa do crente era para o domingo. Bermuda? Sandálias havaianas? Tome juízo!
Púlpito era lugar da Palavra. Desconhecia-se o uso da ‘psicologização das emoções’ (Carlos ‘Catito’ e Timóteo Carriker). O sermão era preparado com muita antecedência. Avisos corriam de boca em boca e não existia boletim nem blog para fazer propaganda de modelos teológicos (Guilherme Carvalho).
Igreja era igreja, comunidade era coisa de Maçon. Célula só no microscópio e 'café teológico’, se alguém aparecesse com uma ideia dessas, o indigitado seria disciplinado pelo Conselho da igreja (Caio Fábio).
Cheque dado por Presbítero era pago e não ‘voador’. Contratos eram feitos com o ‘fio do bigode’.
Desejo a volta disso? Nunca! Jamais. História não é para ser ‘revista’. Quiçá, lembrada e aprendida.
‘Releitura’ foi o que o Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa fez com Dalton Trevisan, “Violetas e Pavões”, retirando-o da listra de leitura obrigatória.
Evidentemente que muitas coisas modernas, se levadas ao passado teriam melhorado em muito a contribuição histórica daquela época. O inverso também é verdadeiro.
Por exemplo, a cara de pau de se pedir dinheiro nas igrejas hoje seria algo impensável naqueles dias e nem se sonhava com ‘pastor’ dono de propriedades, jatinhos, TV, além de sua casa e um carro, sobretudo porque o salário pastoral tinha que ser compatível com um Reverendo. Aliás, Reverendo era o padrão de referência na cidade.
À mesa, minha nora contou que o estudo bíblico dado pelo ‘pastor fora sobre as ‘Pragas do Egito’.
“Pragas do Egito?”, perguntei! E, como todo sogro, perguntando de mansinho para não cair na ira das noras.
“Como é que voce explica” perguntei, como quem não quer ofender, “que um país seja objeto de ‘pragas’ quando ‘pau no gato-to’ não pode mais?”.
“Que tal”, sugeri, em vez de ‘praga’, fosse “desequilíbrio ecológico em razão do aquecimento global sobre o rio Nilo”. ‘Sangue’ poderia ser “aglutinação de algas rosáceas” e ‘primogênito’, “cria primípara”.
Percebi que a coisa ia caminhando para um final não muito feliz e resolvi mudar de assunto.
Ainda à mesa, como o politicamente correto é coisa ‘sem sal’ mesmo, pedi que ela passasse o “saleiro”.
De pronto ela rebateu, “Cloreto de sódio, meu sogro?” Devolvi, “Não. A ‘releitura da história’ pelo politicamente correto só fica bom com ‘sal grosso’ mesmo!”.
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