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Palavra do leitor

Até que ponto vale a pena o sucesso ministerial?

‘’Aquilo que apregoamos, com tamanha ênfase, é o reflexo do que vivemos ou, simplesmente, não passa de ideias elaboradas?’’

A notícia da morte do filho de Rich Warren abre uma saudável e inadiável reflexão sobre até que ponto a trajetória ministerial deve ser uma referência e não um espelho enganoso, em nossas vidas. Sem sombra de dúvida, muitos jovens interrompem suas vidas abruptamente, mas o episódio, em questão, chamará a atenção, por causa de seu pai (‘’o autor de uma igreja com propósitos’’).

Vou adiante, ao ler o depoimento de seu pai, quando definiu seu filho como uma pessoa voltada para os outros, veio – me a indagação:
- Alguém se voltou para suas incertezas, dúvidas, inseguranças e transitoriedades?
Aliás, prossigo:
- Será que, lá no fundo, não buscava a aceitação, não por ser filho de Warren, mas, simplesmente, um jovem de vinte e sete anos, com sonhos, projetos e intenções?
Novamente ressalto, longe de qualquer sensacionalismo, lanço o trecho da entrevista concedido pelo seu pai:

''Warren descreveu o filho mais novo como “um homem incrivelmente bondoso, gentil e compassivo, com uma grande capacidade de detectar quando alguém precisava de ajuda. Por isso, sempre tentava se aproximar dessas pessoas e incentivá-las.

Parto dessas colocações e abordo a relevância e urgência para pararmos e levarmos em consideração o quanto o evangelho sem a comunhão da participação e da convivência pode acarretar resultados trágicos no seio de uma família, de uma comunidade e de um cristão. Vejo a situação, como a relatada, como a vivenciada por Davi (como a dilaceração de sua família, devido a mais completa ausência do pai, do amigo e do companheiro). Evidentemente, respeito a dor da família; mas deveríamos repensar na importância de não nos esquecermos de que podemos transmitir ideias e não experimentarmos nenhuma vida; pude observar na entrevista, os comentários de que esse jovem conseguia detectar os problemas dos outros; no entanto, alguém percebeu os seus? Quem sabe o abraço de um pai e não o autor de uma igreja com propósitos, de um ouvido aberto para suas dúvidas e incertezas, de um discipulado fora das prateleiras (sem sistemas, métodos, persuasões, técnicas de crescimento exponencial, a todo e qualquer custo)? Não sei!

Tão somente, especulo quantos momentos nos desperdiçamos, de bater uma bola com o filho, de estar com os amigos, de sentar na varanda e ouvir o próximo, de partilhar os momentos simples da vida, de assistir um filme, de ir ao teatro, de participar da formatura dos mais próximos, de abraçar diante dos medos e receios, de reconhecer e sem nenhuma vergonha que não somos perfeitos, de mostrar para as pessoas que também falhamos, pisamos na bola, erramos e por ai vai? Quantas vezes incorremos na coqueluche dos compromissos a serem cumpridos, das agendas de palestras, das conferências, dos aconselhamentos, das intercessões, de sermos uma indispensável presença, diante de outros. Hoje não posso, meu filho, meu amigo, minha querida! Deixe para amanhã! Vamos marcar! Ah, me desculpe, não poderei comemorar seu aniversário, mas vou levar uma lembrança e por ai vai.Ultimamente, somos inundados pelo discurso do sucesso, diga – se de passagem, marcado pela abundância de ícones pastorais e não de gente normal (que tem resfriado, que tem fome, que tem desejos, que tem falhas, que tem conquistas, que tem sono, que não quer jejuar, que se depara com as interrogações, que quer chutar o balde, que se diverti, que quer dançar, que quer mudar de hábitos e eteceres). Opostamente, o evangelho de Cristo nos chama para o serviço do amor fraternal, misericordioso, justo, alegre e vivaz. Quantas risadas nós anulamos, quantos abraços, quantos momentos de irreverência, quantas oportunidades para deixarmos marcas de uma esperança que nos faz chorar, nos faz sermos nós mesmos, nos faz ir a direção de aconchego e animo (independentemente de nossa posição, dentro da Igreja). O evangelho sem a comunhão da participação e da convivência pode acarretar resultados trágicos no seio de uma família; vejo a situação, como vivenciada por Davi. Eis o quão fundamental se torna partirmos para uma submersão no amor inspirador de Cristo e isto faz com que venhamos nos despir de toda essa ditadura de provar, comprovar e demonstrar nossa utilidade, diante de Deus. Verdadeiramente, riscamos das nossas páginas de cada dia, a oportunidade de desfrutarmos a ressurreição e os recomeços dos vínculos, das parcerias, da comunhão, não segundo minhas tendências egoístas e de preferência, mas sim, sempre voltado para os acertos. As vezes, pego – me numa tresloucada corrida do mais, de mais bênçãos, de mais poder, de mais isso, aquilo e acolá e deixo de atentar para o olhar singelo, para as palavras inocentes, para ser livre e aberto, conforme o sacrifício da Cruz efetuou. Por fim, devemos orar, sim e sim, pela família do irmão, do ser humano, Warren.
São Paulo - SP
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