Palavra do leitor
- 20 de agosto de 2010
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Até Deus já gostou de mim!
"No amor não existe receio; antes, o verdadeiro amor lança fora todo o medo." 1 João 4: 18a KJA
"Eu não fui assim a vida inteira..." Foi esta a frase que ouvi ao parar pra dar atenção a um mendigo, próximo à igreja.
Por todo o dia fiquei pensando nas palavras daquele homem; atingiram-me. Ele continuou o seu desabafo e o curioso era o fato de se dirigir a mim que passei um longo período afirmando a mesma coisa (“eu não fui assim a vida inteira, eu já prestei!”), desesperado tentando provar a mim mesmo que em outro tempo as coisas foram diferentes.
"Cê pode até duvidar, mas já teve gente que gostava de mim!" Gritava ele a um metro e meio de distância, "Se bobear, 'irmão', até Deus já gostou de mim, eu já prestei, eu já tive casa e tudo, emprego bom tive uns cinco e amigo era pra todo lado, cê tem que ver a lindeza da princesa que deixei em casa!”. Uma foto amarrotada surge nas mãos encardidas, um bebê.
Fiquei calado esperando o fim do dolorido discurso. Transtornado pelo álcool e por drogas as chances de uma conversa decente eram nulas; entreguei-lhe uma cédula de dois reais sem ao menos tecer as recomendações que nós os crentes temos o péssimo hábito de fazer; não obstante, meu pensamento saiu dali encharcado com as imagens que as palavras daquele mendigo fizeram brotar.
“Eu não fui assim a vida inteira...” Eu também não... Andei desconfortável por vários quarteirões; pregaria em instantes e todo o meu entusiasmo se desvanecera; deprimi. Sem vontade pra nada, além da vontade de chorar.
Gente assim! Gente que de uma hora pra outra abre os olhos e descobre que o seu passado virou fumaça e o seu presente é o resumo do caos; lixo e roupas sujas e comida velha e moedas de pequeno valor e pontas de cigarro e cachaça ruim e cheiro de urina e gente limpa que se desvia e gente limpa que lança moedas de pequeno valor. Nenhum valor.
Esqueci-me do sermão e do compromisso na “igreja grande” e percebi o universo rasteiro que me rodeia e que muitas vezes nem noto; mendigos pra todo lado. Aspirei e senti o cheiro característico e até pouco tempo comum, cheiro de gente de rua. Gente assim.
Imagens de um passado não muito distante, cenas de dias vazios, ruins de lembrar; difíceis de acreditar e difíceis de esquecer.
Naquela conversa o homem por detrás daquela derrota recordava as vezes que tentou e até conseguiu ficar limpo por um tempo, mas contava também todas as vezes que de uma hora pra outra se descobria ali, no lixo, rodeado de dias ruins de viver ruins de suportar.
Tenho a sensação desagradável de estar fazendo as coisas pela metade, fazendo de um jeito que não acaba bem; as pessoas saem dos centros de recuperação e nem mesmo estréiam seus documentos novos e suas vidas novas e já estão de volta; um olhar inexpressivo e uma história repetida; sobrou isso.
Identifico isso tudo nas conversas do reincidente, ele saiu do centro de recuperação onde ficou meses e meses sem drogas, sem álcool, sem roubar, e com sorte ouviu sobre o amor de Deus, até mesmo, com muita sorte experimentou esse amor; agora é ele e a rua e o placar já começa contrário. Ser ex é sempre um drama.
Quando não encontra acolhida em casa, nem na igreja, sequer trabalho arruma, vai rondar e rodear velhos companheiros, velhos lugares e sente-se confortável, aceito e seguro; por um tempo é assim.
Quando a sensação de conforto se torna inquietação, a aceitação vira cobrança e a segurança não é mais tão segura assim, volta pro centro de recuperação, único lugar seguro e familiar e onde ele sabe que mesmo que por um pouco de tempo será cuidado e amado, mais um pouco. Amado.
A conversa daquele moço me trouxe essa questão e agora só penso nisso: “O que a Igreja tem feito a respeito de gente assim?” 1 João 4: 18a
Letra Santa! Toda a Palavra é boa!
Missão Vida. Ajudar faz bem!
"Eu não fui assim a vida inteira..." Foi esta a frase que ouvi ao parar pra dar atenção a um mendigo, próximo à igreja.
Por todo o dia fiquei pensando nas palavras daquele homem; atingiram-me. Ele continuou o seu desabafo e o curioso era o fato de se dirigir a mim que passei um longo período afirmando a mesma coisa (“eu não fui assim a vida inteira, eu já prestei!”), desesperado tentando provar a mim mesmo que em outro tempo as coisas foram diferentes.
"Cê pode até duvidar, mas já teve gente que gostava de mim!" Gritava ele a um metro e meio de distância, "Se bobear, 'irmão', até Deus já gostou de mim, eu já prestei, eu já tive casa e tudo, emprego bom tive uns cinco e amigo era pra todo lado, cê tem que ver a lindeza da princesa que deixei em casa!”. Uma foto amarrotada surge nas mãos encardidas, um bebê.
Fiquei calado esperando o fim do dolorido discurso. Transtornado pelo álcool e por drogas as chances de uma conversa decente eram nulas; entreguei-lhe uma cédula de dois reais sem ao menos tecer as recomendações que nós os crentes temos o péssimo hábito de fazer; não obstante, meu pensamento saiu dali encharcado com as imagens que as palavras daquele mendigo fizeram brotar.
“Eu não fui assim a vida inteira...” Eu também não... Andei desconfortável por vários quarteirões; pregaria em instantes e todo o meu entusiasmo se desvanecera; deprimi. Sem vontade pra nada, além da vontade de chorar.
Gente assim! Gente que de uma hora pra outra abre os olhos e descobre que o seu passado virou fumaça e o seu presente é o resumo do caos; lixo e roupas sujas e comida velha e moedas de pequeno valor e pontas de cigarro e cachaça ruim e cheiro de urina e gente limpa que se desvia e gente limpa que lança moedas de pequeno valor. Nenhum valor.
Esqueci-me do sermão e do compromisso na “igreja grande” e percebi o universo rasteiro que me rodeia e que muitas vezes nem noto; mendigos pra todo lado. Aspirei e senti o cheiro característico e até pouco tempo comum, cheiro de gente de rua. Gente assim.
Imagens de um passado não muito distante, cenas de dias vazios, ruins de lembrar; difíceis de acreditar e difíceis de esquecer.
Naquela conversa o homem por detrás daquela derrota recordava as vezes que tentou e até conseguiu ficar limpo por um tempo, mas contava também todas as vezes que de uma hora pra outra se descobria ali, no lixo, rodeado de dias ruins de viver ruins de suportar.
Tenho a sensação desagradável de estar fazendo as coisas pela metade, fazendo de um jeito que não acaba bem; as pessoas saem dos centros de recuperação e nem mesmo estréiam seus documentos novos e suas vidas novas e já estão de volta; um olhar inexpressivo e uma história repetida; sobrou isso.
Identifico isso tudo nas conversas do reincidente, ele saiu do centro de recuperação onde ficou meses e meses sem drogas, sem álcool, sem roubar, e com sorte ouviu sobre o amor de Deus, até mesmo, com muita sorte experimentou esse amor; agora é ele e a rua e o placar já começa contrário. Ser ex é sempre um drama.
Quando não encontra acolhida em casa, nem na igreja, sequer trabalho arruma, vai rondar e rodear velhos companheiros, velhos lugares e sente-se confortável, aceito e seguro; por um tempo é assim.
Quando a sensação de conforto se torna inquietação, a aceitação vira cobrança e a segurança não é mais tão segura assim, volta pro centro de recuperação, único lugar seguro e familiar e onde ele sabe que mesmo que por um pouco de tempo será cuidado e amado, mais um pouco. Amado.
A conversa daquele moço me trouxe essa questão e agora só penso nisso: “O que a Igreja tem feito a respeito de gente assim?” 1 João 4: 18a
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