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Palavra do leitor

As muitas Teologias

Todos nascemos teólogos. Fazemos Teologia enquanto refletimos sobre os fatos que nos cercam e formulamos perguntas existenciais que parecem sempre sem respostas satisfatórias. Porém, numa época cada vez mais encharcada de virtualidade e instantaneidade, a ciência que um dia foi considerada a mãe de todas as ciências vai sumindo aos poucos da academia e até, pasmem, das igrejas, lugar em que ela, por séculos, ousou explicar o inexplicável.

O século XX certamente foi o que mais "produziu" teologias, as chamadas "teologias radicais", muitas delas influenciadas por filosofias humanistas. Numa busca incansável de formular explicações às idiossincracias dos homens e de suas intervenções, muitos se dedicaram de maneira mais profícua a entender a mente de Deus e a fazer a ponte entre ela e o coração humano, ou seja, fazer a "religare", fazer a religião. Terão estas mentes elevadas alcançado tal objetivo? Ou, ao contrário, complicaram mais ainda o "psiquê" do homem moderno deixando-o mais distante do Criador? A seguir, veremos algumas delas,

Teologia da Crise ou Dialética – Seus principais representantes, Karl Barth e Emil Brunner, viam na revelação geral de Deus o apropriado e necessário ponto de contato entre o ser humano caído e a graça divina. Rejeitando completamente qualquer possibilidade humana de chegar naturalmente ao conhecimento de Deus, defendiam a necessidade de uma decisão pessoal contra ou a favor de Jesus Cristo. Brunner contestava tendências da velha ortodoxia que corria o risco de privilegiar a doutrina em detrimento do encontro pessoal com Deus em Jesus Cristo, algo que ele denomina de "teologismo";

Teologia da Libertação - Corrente nascida na América Latina depois do Concílio Vaticano II que parte da premissa de que o Evangelho exige a opção preferencial pelos pobres e especifica que a teologia, para concretar essa opção, deve usar também as ciências humanas e sociais. Teve no padre católico Leonardo Boff seu grande expoente e veio a influenciar o mundo protestante que acabou por criar sua própria vertente conhecida como Teologia da Missão Integral;

Teologia Negra - Surgiu entre cristãos ecumênicos que lutavam pela igualdade dos negros nos Estados Unidos na conturbada década de 60, à época do pastor batista Martin Luther King. Ela combatia a forte tendência europeizante e de embranquecimento na teologia, defendendo que é preciso uma espiritualidade integrada aos corpos, aos corpos negros violentados e mortos nas periferias;

Teologia do Processo – Desenvolvida por Charles Hartshorne, filósofo americano que fora influenciado por Alfred Whitehead, que por sua vez, desenvolveu a Filosofia do Processo, cuja ideia principal era que o mundo é dinâmico, estando sempre em constante processo de transformação. Segundo ele, até Deus está sujeito ao porvir. Deus "não é um ser, e sim uma força dinâmica por detrás da evolução, emergindo sempre em tudo, tanto na história como na natureza". Tal sistema foi bastante influenciado pelo evolucionismo de Charles Darwin;

Teologia da Cultura
- Segundo Paul Tillic, nascido na Prússia, "a religião, considerada preocupação suprema, é a substância que dá sentido à cultura, e a cultura, por sua vez, é a totalidade das formas que expressam as preocupações básicas da religião". Neste contexto, encontramos sua célebre citação: "Religião é a substância da cultura e a cultura é a forma da religião". Sustentava que tudo que o homem faz, até o ateu, é para Deus, portanto, ninguém pode fugir de Deus;

Teologia da Esperança - Para Jürgen Moltmann, seu fundador, a esperança cristã é criativa: "Nós não somos só interpretes do futuro, mas já os colaboradores do futuro, cuja força, na esperança como na realização, é Deus". De inclinação marxista e com forte ênfase escatológica, esse teólogo alemão falava, de maneira confusa, de um futuro que vem de Deus e que era conhecido por antecipação em Cristo;

Todas essas teologias foram tentativas de explicar a ação de Deus na história do homem, principalmente diante das tragédias e fracassos do século ora citado. Diante desse grande "mercado", fico com a Teologia da Cruz. Para Lutero, "no Cristo crucificado é que estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento de Deus." A cruz de Cristo continua sendo ofensiva, como foi na época em que os primeiros cristãos começaram a falar dela como o caminho de Deus para a salvação. E nossa função, como a de João Batista, é apontar para Jesus Cristo crucificado – "Olhem o cordeiro de Deus!". Finaliza o reformador alemão: "É a teologia que propõe que a cruz é a única fonte de conhecimento sobre quem é Deus e como Ele salva em contraste com a teologia da glória, que enfatiza as habilidades e a razão humanas". Fico com Hebreus quando afirmou: "Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o Universo" (Hb 1.1-2).

Tony
faos.ead@gmail.com
Brasília - DF
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