Palavra do leitor
- 10 de fevereiro de 2010
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Aqui jaz o amor
O amor acabou. Ainda pode se sentir seu perfume deixado pelo caminho que percorreu, pelas vidas que perfumou. Suas pétalas murchas ainda repousam nas mãos de poucos que ainda teimam em segurá-las. Jesus, profeta maior deste mundo mau, já havia dito que seria assim. Corações gelados, entorpecidos pela indiferença. De dentro dos salões enfeitados, das casas iluminadas, ruídos e gargalhadas sem vida, sem amor. Sepultaram-no e poucos choram em seu túmulo. Mas ficou-nos seu pobre e infeliz bastardo, parido por nós. Príncipe dos insolentes, o afeto. Por afeto abraçamos e beijamos, mas só o amor pode dar o braço para aquele que não tem. Só pelo amor podemos doar nossa voz pelos mudos. Por afeto sorrimos e aconselhamos, mas só amor é capaz de nos fazer doar nossos dentes e língua. Por amor, e só por ele, somos capazes de carregar no colo aqueles que não tem mais pés para andar. Pelo caminho encontramos a nudez de um ninguém, por afeto nos dispusemos a chorá-lo, mas somente pelo amor somos capazes de nos despir por tal. Na chuva gelada de inverno vemos um infante sem sapatos, o afeto nos move os olhos e uma prece em seu favor nos abre os lábios, mas somente o amor pode arrancar de nossos pés aquecidos aquilo que pode aquecer até a alma do pequenino.
Pelos quatro cantos de nossas cidades, amontoam-se cadáveres vivos, ainda respiram, mas se movimentam como marionetes da sociedade purulenta. Em lugares escuros escondem-se pobres almas, olhos perdidos na imensidão de suas dores. Corações quebrados, partidos, esperando não um bocado de pão. Não apenas um copo d'água. Não um sorriso forçado ou uma admoestação retórica vazia. Suas almas almejam não mais que uma palavra simples e tão tumular como suas próprias almas, amor. O amor que nos deixa nu para que outros possam se vestir. O amor que nos deixa a boca vazia para que outros possam enchê-la. O amor que nos faz perder o emprego para que outros possam se sentir empregados, assalariados em nossos corações. Este amor mais belo que a própria natureza. Que nos faz galgar quilômetros sob sol escaldante, com nossos pés descalços, consumidos pelos calos de um chão pedregoso em favor de uma única e mais importante vida que a nossa própria. Pelo amor somos capazes de escalar penhascos, de subir montanhas abismais, de mergulhar em profundezas sem fim. Pelo amor de uma única e mais valiosa pedra preciosa lapidada por Deus, o homem. O homem que mata e odeia, o homem que ama a criatura e despreza o Criador. Homem que faz de seu braço e de sua sabedoria sua força. O mesmo homem que lhe fere o rosto, este homem lhe pede o outro lado, mas ninguém jamais lhe dará.
Pois por amor o bom pastor deixou suas ovelhas protegidas entre muradas, e descendo penhascos e lacerando sua carne foi através de desfiladeiros em busca não de cem, mas de uma única e perdida ovelha. Sua branca lã manchada de carmesim, deitada sobre suas dores, sobre si mesma aguardando o seu fim. Pois em sua mente, quem poderia percorrer tal caminho por sua inútil vida? Mas eis que o bom homem, aquele que espelha o desejo em nós, surge. Seus ferimentos além do que sua ovelha poderia supor. Em seu rosto não um semblante de desagrado, repreensivo. Um sorriso, pois aquele que havia se partido e entre cardos repousava foi achado. Não são necessárias palavras, o amor não se escora em falatório. Não flerta com dialética forçada e insossa. Em seu rosto olhos lacrimejantes, em ambos a saudade que se finda. Desce a cortina, fim do espetáculo? Não, apenas o primeiro ato. Apenas o diretor demarcando as marcas no piso arroxeado pelo tempo, tempo perdido por nós. No palco centenas de ovelhas não em seu seguro aprisco, mas amontoadas como lixo que se chuta pelas ruas enlameadas e frias. O afeto tem esse poder, de nos fazer amontoar a beira do penhasco milhares de almas. Como produto de nossos grandes feitos! Almas jogadas, todos os dias solapadas pelo nosso afeto... afinal o amor está morto. Jaz aqui diante de nós, e o afeto ri de si mesmo, em profuso brado de vitória, ele usa nossa garganta para alçar ao céu seu contentamento. O amor não grita, não fere ouvidos alheios, pois o amor não ressoa, ele age. Porquanto o afeto canta, o amor geme. Se o afeto se torna um sentimento estático e substantivo, o amor se eleva em ação e vivacidade. O amor não repousa, não se enche de delícias e reclinado sobre seus feitos acaba por adormecer como o afeto. O amor está correndo, enquanto o afeto caminha apoiado em muletas de vergonha. Pois Deus ama, não “afeta”. O bom samaritano amou, não “afetou”. O verbo que se fez carne, nos deixou o maior de todos os verbos. Aquele que habitava a eternidade nãos se substanciou, mas verbalizou em nossos ouvidos com sussurros doces como o barulho de águas caindo de altas pedras. Nos declarou seu amor que age, que anda, que se despe, que passa fome para outros comerem, que sente frio para outros se aquecerem. Amor que eleva um simples e pequeno animal que o mundo chama de racional para as alturas infinitas de Deus.
Pelos quatro cantos de nossas cidades, amontoam-se cadáveres vivos, ainda respiram, mas se movimentam como marionetes da sociedade purulenta. Em lugares escuros escondem-se pobres almas, olhos perdidos na imensidão de suas dores. Corações quebrados, partidos, esperando não um bocado de pão. Não apenas um copo d'água. Não um sorriso forçado ou uma admoestação retórica vazia. Suas almas almejam não mais que uma palavra simples e tão tumular como suas próprias almas, amor. O amor que nos deixa nu para que outros possam se vestir. O amor que nos deixa a boca vazia para que outros possam enchê-la. O amor que nos faz perder o emprego para que outros possam se sentir empregados, assalariados em nossos corações. Este amor mais belo que a própria natureza. Que nos faz galgar quilômetros sob sol escaldante, com nossos pés descalços, consumidos pelos calos de um chão pedregoso em favor de uma única e mais importante vida que a nossa própria. Pelo amor somos capazes de escalar penhascos, de subir montanhas abismais, de mergulhar em profundezas sem fim. Pelo amor de uma única e mais valiosa pedra preciosa lapidada por Deus, o homem. O homem que mata e odeia, o homem que ama a criatura e despreza o Criador. Homem que faz de seu braço e de sua sabedoria sua força. O mesmo homem que lhe fere o rosto, este homem lhe pede o outro lado, mas ninguém jamais lhe dará.
Pois por amor o bom pastor deixou suas ovelhas protegidas entre muradas, e descendo penhascos e lacerando sua carne foi através de desfiladeiros em busca não de cem, mas de uma única e perdida ovelha. Sua branca lã manchada de carmesim, deitada sobre suas dores, sobre si mesma aguardando o seu fim. Pois em sua mente, quem poderia percorrer tal caminho por sua inútil vida? Mas eis que o bom homem, aquele que espelha o desejo em nós, surge. Seus ferimentos além do que sua ovelha poderia supor. Em seu rosto não um semblante de desagrado, repreensivo. Um sorriso, pois aquele que havia se partido e entre cardos repousava foi achado. Não são necessárias palavras, o amor não se escora em falatório. Não flerta com dialética forçada e insossa. Em seu rosto olhos lacrimejantes, em ambos a saudade que se finda. Desce a cortina, fim do espetáculo? Não, apenas o primeiro ato. Apenas o diretor demarcando as marcas no piso arroxeado pelo tempo, tempo perdido por nós. No palco centenas de ovelhas não em seu seguro aprisco, mas amontoadas como lixo que se chuta pelas ruas enlameadas e frias. O afeto tem esse poder, de nos fazer amontoar a beira do penhasco milhares de almas. Como produto de nossos grandes feitos! Almas jogadas, todos os dias solapadas pelo nosso afeto... afinal o amor está morto. Jaz aqui diante de nós, e o afeto ri de si mesmo, em profuso brado de vitória, ele usa nossa garganta para alçar ao céu seu contentamento. O amor não grita, não fere ouvidos alheios, pois o amor não ressoa, ele age. Porquanto o afeto canta, o amor geme. Se o afeto se torna um sentimento estático e substantivo, o amor se eleva em ação e vivacidade. O amor não repousa, não se enche de delícias e reclinado sobre seus feitos acaba por adormecer como o afeto. O amor está correndo, enquanto o afeto caminha apoiado em muletas de vergonha. Pois Deus ama, não “afeta”. O bom samaritano amou, não “afetou”. O verbo que se fez carne, nos deixou o maior de todos os verbos. Aquele que habitava a eternidade nãos se substanciou, mas verbalizou em nossos ouvidos com sussurros doces como o barulho de águas caindo de altas pedras. Nos declarou seu amor que age, que anda, que se despe, que passa fome para outros comerem, que sente frio para outros se aquecerem. Amor que eleva um simples e pequeno animal que o mundo chama de racional para as alturas infinitas de Deus.
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