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Palavra do leitor

Antoine de Saint-Exupéry: 80 anos da partida do piloto poeta

"Era uma vez um piloto cujo avião teve uma pane no deserto do Saara. Ele acorda de manhã, depois de sua primeira noite no distante deserto, e ouve uma "vozinha estranha". É a voz de uma criança que pede para o homem desenhar um carneiro para ela. O aviador então desenha uma caixa, que agrada ao menino, pois o carneiro está dentro dela. O piloto passa a chamar esse menino de "pequeno príncipe". A criança faz várias perguntas, mas não responde às perguntas do homem. Mais tarde, ele descobre que o principezinho vem de um longínquo e misterioso asteroide perdido no Espaço".

Assim se inicia uma das histórias mais lidas das últimas décadas. Trata-se do livro "O Pequeno Príncipe", de Antoine de Saint-Exupéry, conhecido como o "poeta da aviação" por ter tornado a carreira de piloto matéria-prima de sua literatura. Mais de 200 milhões de exemplares já foram vendidos em todo o mundo, o que faz dele um dos maiores "best-sellers" da Literatura mundial.

Exupéry teve uma vida curta. Porém, uma vida muito bem vivida, desbravadora, aventureira, alvissareira. Conheceu vários países, tendo até morado na Argentina onde conheceu a salvadorenha Consuelo, que também era escritora e com quem se casaria em 1931. Além desta, Antoine fora influenciado, desde cedo, por pessoas ligadas ao mundo da literatura. DE pais nobres, teve uma educação de qualidade e devido a mudanças na dinâmica familiar, como a morte do seu pai, em 1918, foi morar com uma prima, casada com um conde de Paris. Esta possuía um salão literário, onde Saint-Exupéry teve a oportunidade de conhecer vários escritores famosos. Seu interesse por aviões também começou na tenra infância e em 1912 fez seu primeiro voo. A intenção do escritor sempre foi ingressar na Força Aérea.

Aos 18 anos foi reprovado no exame para entrar na Escola Naval. Porém, em 1921 ingressou no serviço militar como mecânico assistente, em Estrasburgo. Meses depois, foi transferido para o Marrocos. No fim do ano, conseguiu a licença de piloto militar. Com a invasão dos nazistas na França, Exupéry fugiu para os Estados Unidos. Nesse período, escreveu "Carta a Um Refém" e, incentivado por editores americanos que viram sua habilidade como desenhista amador, começou a fazer uma obra para crianças. Foi quando em 1943, escreveu a obra que se tornaria sua mais importante: "O Pequeno Príncipe", uma fábula infantil para adultos, cuja obra é rica em simbolismo, com personagens como a serpente, a rosa, o adulto solitário e a raposa. Quem já leu se lembra muito bem deles.

Em 2024 completa-se oitenta anos da partida ou do desaparecimento deste que é considerado um piloto poeta por excelência. Suas duas grandes paixões, voar e escrever, fizeram de Exupéry um ícone tanto para a Aviação como para a Literatura universal. O relato oficial diz que durante uma missão de reconhecimento para a Força Aérea dos Aliados, após uma decolagem de algum ponto do norte da África, fora abatido por um caça alemão. Tal como o pequeno príncipe, no final do seu livro, Saint-Exupéry parece ter apenas desaparecido da terra, pois seu corpo nunca foi encontrado.

O piloto e escritor francês foi um homem muito à frente do seu tempo, um apaixonado pelos ares. Fez travessias pelo atlântico correndo risco de vida, ajudando a impulsionar as rotas aéreas entre Europa, África e América. Chegou a pousar no Brasil. Deixou-nos como legado uma rica obra que ainda hoje conquista os corações tanto de crianças como de adultos. Além de tudo isso, ainda tornou-se um herói de guerra ao dar sua vida defendendo os países aliados na ferrenha luta contra as forças nazistas durante o triste episódio da Segunda Guerra Mundial. Certamente, ele tem sido um grande exemplo para muitas gerações que vieram a partir dele.

Exupéry conseguiu, como poucos, transitar de maneira única entre duas áreas aparentemente opostas. Não apenas transitar, mas uni-las. Enquanto na Aviação exige-se perícia técnica e um raciocínio analítico, a Literatura, principalmente a ficcionista, atua com os sentimentos, com a poesia, alcança o íntimo do coração. Por isso sua originalidade e excepcionalidade fizeram dele uma figura sem–par, alguém que, como o pequeno príncipe, parecia vir de algum outro lugar distante e utópico.

Em 31 julho de 1944, o aviador francês fez sua última decolagem e sumiu no mar Mediterrâneo. O mundo perdia um grande piloto e um notável poeta, porém, seu amor e abnegação por voar e unir povos, bem como sua maestria em nos elevar a lugares nunca antes visitados por meio da arte de escrever, ficaram entre nós convidando-nos a sonharmos com um mundo mais inocente, mais humano, como fazem, tão bem, as crianças.

Exupéry nos ensina a enxergar mais longe, a ver "o carneiro dentro da caixa" e a voarmos nas asas da imaginação, afinal, como declarou seu pequeno amigo naquele distante e imaginário deserto, o menino príncipe: "o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração".

Tony Oliveira
Para outros textos do autor: https://pingosdagraca.wordpress.com/
Brasília - DF
Textos publicados: 78 [ver]
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