Palavra do leitor
- 05 de março de 2011
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"Ankniipfungspunkt" - Uma breve avaliação da antropologia de Emil Brunner
II Parte -
O PONTO DE CONTATO
Para explicar a maneira como seria possível ao homem chegar a Deus por meios inerentes, mesmo admitindo que o mesmo é um ser atingido, manchado e alijado pelo pecado, Emil Brunner desenvolve um conceito que ele chamou de "Ankniipfungspunkt" ou "ponto de contato". Assim, a razão humana é dotada de uma disposição natural para receber a revelação de Deus. Vejamos como ele a define:
"Se o homem fosse apenas um objeto em que Deus faz alguma coisa, um recipiente no qual Ele derrama alguma coisa, então se poderia falar da revelação mesmo sem conhecer nada do ser que sofre a ação. Contudo, já que ela é um encontro pessoal, é necessário aprender a conhecer a pessoa a cujo encontro Deus vai e o modo como essa pessoa se apresenta para tal encontro com Deus... O fato de que Deus se manifesta mediante sua Palavra pressupõe que o homem seja um ser criado para esse gênero de comunicação através da Palavra... Esse fato, já evidente em si mesmo, deve ser tanto mais fortemente ressaltado quando se sabe que uma falsa explicação da sola gratia e o temor de cair na doutrina pelagiana ou na do sinergismo levaram a ponto de trocar a pura receptividade do homem na Revelação por uma passividade objetiva, em que à parte do homem poderia ser geralmente eliminada".
Ou seja, se Deus ao se manifestar não encontra um homem que lhe seja idôneo para corresponder-lhe, tal manifestação seria desnecessária. Ele só o faz porque o homem mantém suas faculdades em condições de atender o Criador. O homem pode receber a Palavra e o Espírito Santo, pois ele tem um “ponto de contato”, uma “imago Dei” formal, que foi mantida a despeito do pecado.
Ao ser duramente criticado por Karl Barth, Brunner se defendeu dizendo que sua formulação não negava a doutrina reformada de “sola gratia”, pois este “ponto de contato” era apenas a capacidade não perdida de receber a Palavra, no entanto, o “crer” e “ouvir” dependeria da própria Palavra de Deus. Ou seja, todo homem é capaz de receber a Palavra de Deus, mas crer nesta Palavra depende da própria Palavra, pois a fé é uma obra divina e é a própria Palavra que a comunica.
Para Emil Brunner há a perfeita coordenação entre a Graça e a Razão, visto que a primeira, sendo de caráter subjetivo, nos fornece um conhecimento de Deus mais eficiente, pois a razão, que é de caráter objetivo e natural, nos fornece também um conhecimento sobre Deus, porém “opaco e incerto”. Portanto, Brunner não exclui o conhecimento natural, porém o considera incompleto, sendo, então, necessária à influência da graça divina. Este conhecimento natural defeituoso e insuficiente é sim fruto do pecado, mas é existente, pois o pecado não aniquilou o conhecimento do homem sobre Deus e sim o fragilizou e, por causa disso, a dependência de Deus continua, apesar do pecado.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Mesmo que inconsciente a teologia de Brunner se faz sentir no evangelicalismo contemporâneo, pois apesar de não se falar em uma “bondade inerente” ou conhecimento próprio, o movimento evangelical no Brasil, na prática, abandonou as doutrinas da depravação total e “sola gratia”. A devida miséria e incapacidade humana em se achegar a Deus não são mais acentuadas. Fala-se muito nas pessoas que estão com “sede de Deus” e “tomar posse”, pela fé, como se esta fé pertencesse ao homem, podendo este, quando bem quiser, depositar em Jesus. Não se fala mais de um pecador perdido, morto espiritualmente em delito e pecado e que se não for pela graça de Deus para regenerá-lo dando-lhe o dom da fé, o mesmo está condenado. A forma como a evangelização é feita não leva em conta a total dependência do homem em relação a Deus para ser salvo. É como se à parte de Deus já estivesse feita e agora quem age é o homem que basta depositar sua fé. Ou seja, há no próprio homem o poder para crer. O seu livre-arbítrio é a faculdade que toma a decisão, ou não, de abraçar o Cristo da fé. Portanto, ainda que não se fale uma “imago Dei” presente no homem, ou, em “ponto de contato”, a forma como o evangelicalismo se desenvolve no Brasil se alinha com as convicções de Emil Brunne.
Continua no próximo artigo...
O PONTO DE CONTATO
Para explicar a maneira como seria possível ao homem chegar a Deus por meios inerentes, mesmo admitindo que o mesmo é um ser atingido, manchado e alijado pelo pecado, Emil Brunner desenvolve um conceito que ele chamou de "Ankniipfungspunkt" ou "ponto de contato". Assim, a razão humana é dotada de uma disposição natural para receber a revelação de Deus. Vejamos como ele a define:
"Se o homem fosse apenas um objeto em que Deus faz alguma coisa, um recipiente no qual Ele derrama alguma coisa, então se poderia falar da revelação mesmo sem conhecer nada do ser que sofre a ação. Contudo, já que ela é um encontro pessoal, é necessário aprender a conhecer a pessoa a cujo encontro Deus vai e o modo como essa pessoa se apresenta para tal encontro com Deus... O fato de que Deus se manifesta mediante sua Palavra pressupõe que o homem seja um ser criado para esse gênero de comunicação através da Palavra... Esse fato, já evidente em si mesmo, deve ser tanto mais fortemente ressaltado quando se sabe que uma falsa explicação da sola gratia e o temor de cair na doutrina pelagiana ou na do sinergismo levaram a ponto de trocar a pura receptividade do homem na Revelação por uma passividade objetiva, em que à parte do homem poderia ser geralmente eliminada".
Ou seja, se Deus ao se manifestar não encontra um homem que lhe seja idôneo para corresponder-lhe, tal manifestação seria desnecessária. Ele só o faz porque o homem mantém suas faculdades em condições de atender o Criador. O homem pode receber a Palavra e o Espírito Santo, pois ele tem um “ponto de contato”, uma “imago Dei” formal, que foi mantida a despeito do pecado.
Ao ser duramente criticado por Karl Barth, Brunner se defendeu dizendo que sua formulação não negava a doutrina reformada de “sola gratia”, pois este “ponto de contato” era apenas a capacidade não perdida de receber a Palavra, no entanto, o “crer” e “ouvir” dependeria da própria Palavra de Deus. Ou seja, todo homem é capaz de receber a Palavra de Deus, mas crer nesta Palavra depende da própria Palavra, pois a fé é uma obra divina e é a própria Palavra que a comunica.
Para Emil Brunner há a perfeita coordenação entre a Graça e a Razão, visto que a primeira, sendo de caráter subjetivo, nos fornece um conhecimento de Deus mais eficiente, pois a razão, que é de caráter objetivo e natural, nos fornece também um conhecimento sobre Deus, porém “opaco e incerto”. Portanto, Brunner não exclui o conhecimento natural, porém o considera incompleto, sendo, então, necessária à influência da graça divina. Este conhecimento natural defeituoso e insuficiente é sim fruto do pecado, mas é existente, pois o pecado não aniquilou o conhecimento do homem sobre Deus e sim o fragilizou e, por causa disso, a dependência de Deus continua, apesar do pecado.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Mesmo que inconsciente a teologia de Brunner se faz sentir no evangelicalismo contemporâneo, pois apesar de não se falar em uma “bondade inerente” ou conhecimento próprio, o movimento evangelical no Brasil, na prática, abandonou as doutrinas da depravação total e “sola gratia”. A devida miséria e incapacidade humana em se achegar a Deus não são mais acentuadas. Fala-se muito nas pessoas que estão com “sede de Deus” e “tomar posse”, pela fé, como se esta fé pertencesse ao homem, podendo este, quando bem quiser, depositar em Jesus. Não se fala mais de um pecador perdido, morto espiritualmente em delito e pecado e que se não for pela graça de Deus para regenerá-lo dando-lhe o dom da fé, o mesmo está condenado. A forma como a evangelização é feita não leva em conta a total dependência do homem em relação a Deus para ser salvo. É como se à parte de Deus já estivesse feita e agora quem age é o homem que basta depositar sua fé. Ou seja, há no próprio homem o poder para crer. O seu livre-arbítrio é a faculdade que toma a decisão, ou não, de abraçar o Cristo da fé. Portanto, ainda que não se fale uma “imago Dei” presente no homem, ou, em “ponto de contato”, a forma como o evangelicalismo se desenvolve no Brasil se alinha com as convicções de Emil Brunne.
Continua no próximo artigo...
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