Palavra do leitor
- 26 de fevereiro de 2011
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"Ankniipfungspunkt" - Uma breve avaliação da antropologia de Emil Brunner
INTRODUÇÃO:
Nesta reflexão tentaremos, de uma forma breve e resumida, compreender e interagir com as idéias do teólogo suíço Emil Brunner que, à semelhança de Karl Barth, se posicionou a favor da conhecida Teologia Dialética, movimento que criticou a Teologia Liberal e propôs uma recondução da teologia em direção ao pensamento dos reformadores. Entretanto, apesar da concordância com alguns postulados de Barth, Brunner estabeleceu seu próprio caminho em algumas de suas formulações e que o levou a ser criticado pelo próprio Karl Barth. Nosso objetivo é sintetizar o centro das idéias brunnerianas e tentar identificar sua relevância para o presente da teologia.
Podemos dizer que, à semelhança de Karl Barth, Emil Brunner se manteve na fronteira teológica que caracterizou o século 20, pois com sua abordagem criticou o liberalismo que julgava a razão como critério de avaliação da verdade. Ao mesmo tempo Brunner também não agradou os conservadores protestantes, pois com sua "Imago Dei", negou os efeitos mais drásticos do pecado no homem, considerando este com um ser que ainda é dotado de inclinações espirituais que o aproximem de Deus. Portanto, em sua Dialética, Brunner encoleriza os liberais, sem, contudo, agradar aos conservadores, que esperavam uma dogmática mais calvinista em sua antropologia e hamartiologia.
A DIALÉTICA
Para Brunner, há uma tensão entre a Palavra de Deus e o pensamento do homem. Enquanto que para os liberais, a Revelação pode ser conhecida através das faculdades naturais da razão, Brunner declara que tal evento só é possível não em função da razão, mas sim da contradição entre razão e revelação, Deus e o homem, lei e Evangelho, ou seja, é através desta contradição que a verdade sobre Deus pode ser captada, pois Deus, sendo eterno e santo, entra no tempo em busca do homem pecador. É sob esta perspectiva que a teologia deve ser feita. Portanto, teologia dialética é a reflexão que respeita as fronteira da religião e a da razão, porque são paradoxais entre si. Com este posicionamento, Brunner acentua que a Revelação, sendo transcendental, não pode ser domesticada pelo pensamento, pois este se conforma em apenas compreender ou “possuir”, e não em crer.
Desta forma então, podemos discernir em alinhamento das idéias de Brunner com as de Barth, pois para o teólogo da Basiléia a contradição entre Deus e o homem, significava a limitação do segundo em alcançar o primeiro. Deus sendo “o totalmente outro”, não pode ser alcançado pela razão em função desta ter sido prejudicada por causa da queda. No entanto, há uma trincheira entre os dois teólogos, pois para Emil Brunner esta “incapacidade” não é total e plena. O homem, segundo ele, é capaz de voltar-se para Deus e compreendê-lo, pois a queda não destruiu completamente esta possibilidade. Ainda há no homem as condições que permitam seu contato com o Sagrado. Portanto, Brunner diz que a contradição entre Deus e homem age no mesmo como uma “força de atração”. São opostos e, logo, se atraem. Com esta compreensão, fica então patente que Emil Brunner, é claro, não concorda com a depravação total tão defendida pelos calvinistas e de quem Barth sentia-se alinhado. Para Karl Barth não há nada no homem que o torne em condições naturais de receber a Revelação de Deus, pois o mesmo se encontra em total estado de queda e depravação. Ainda que seja possível para este a realização de boas obras, que visem minorar os sofrimentos humanos, tais inclinações não são intensas a ponto de nos colocar favoravelmente diante do Criador. Destarte, a contradição entre Deus e o homem é incongruente. Deus é pura transcendência e não pode ser objeto da razão, pois esta está aprisionada pelo pecado. Já a insistência de Brunner em enxergar no homem uma capacidade inerente, o levou a ser fortemente criticado por Barth. Brunner, aliás, passaria o resto de sua vida tentando se explicar e se defender das acusações de Karl Barth, que via em suas formulações uma reaproximação com a teologia católica da apreensão natural do homem sobre a revelação.
Continua no próximo artigo...
Nesta reflexão tentaremos, de uma forma breve e resumida, compreender e interagir com as idéias do teólogo suíço Emil Brunner que, à semelhança de Karl Barth, se posicionou a favor da conhecida Teologia Dialética, movimento que criticou a Teologia Liberal e propôs uma recondução da teologia em direção ao pensamento dos reformadores. Entretanto, apesar da concordância com alguns postulados de Barth, Brunner estabeleceu seu próprio caminho em algumas de suas formulações e que o levou a ser criticado pelo próprio Karl Barth. Nosso objetivo é sintetizar o centro das idéias brunnerianas e tentar identificar sua relevância para o presente da teologia.
Podemos dizer que, à semelhança de Karl Barth, Emil Brunner se manteve na fronteira teológica que caracterizou o século 20, pois com sua abordagem criticou o liberalismo que julgava a razão como critério de avaliação da verdade. Ao mesmo tempo Brunner também não agradou os conservadores protestantes, pois com sua "Imago Dei", negou os efeitos mais drásticos do pecado no homem, considerando este com um ser que ainda é dotado de inclinações espirituais que o aproximem de Deus. Portanto, em sua Dialética, Brunner encoleriza os liberais, sem, contudo, agradar aos conservadores, que esperavam uma dogmática mais calvinista em sua antropologia e hamartiologia.
A DIALÉTICA
Para Brunner, há uma tensão entre a Palavra de Deus e o pensamento do homem. Enquanto que para os liberais, a Revelação pode ser conhecida através das faculdades naturais da razão, Brunner declara que tal evento só é possível não em função da razão, mas sim da contradição entre razão e revelação, Deus e o homem, lei e Evangelho, ou seja, é através desta contradição que a verdade sobre Deus pode ser captada, pois Deus, sendo eterno e santo, entra no tempo em busca do homem pecador. É sob esta perspectiva que a teologia deve ser feita. Portanto, teologia dialética é a reflexão que respeita as fronteira da religião e a da razão, porque são paradoxais entre si. Com este posicionamento, Brunner acentua que a Revelação, sendo transcendental, não pode ser domesticada pelo pensamento, pois este se conforma em apenas compreender ou “possuir”, e não em crer.
Desta forma então, podemos discernir em alinhamento das idéias de Brunner com as de Barth, pois para o teólogo da Basiléia a contradição entre Deus e o homem, significava a limitação do segundo em alcançar o primeiro. Deus sendo “o totalmente outro”, não pode ser alcançado pela razão em função desta ter sido prejudicada por causa da queda. No entanto, há uma trincheira entre os dois teólogos, pois para Emil Brunner esta “incapacidade” não é total e plena. O homem, segundo ele, é capaz de voltar-se para Deus e compreendê-lo, pois a queda não destruiu completamente esta possibilidade. Ainda há no homem as condições que permitam seu contato com o Sagrado. Portanto, Brunner diz que a contradição entre Deus e homem age no mesmo como uma “força de atração”. São opostos e, logo, se atraem. Com esta compreensão, fica então patente que Emil Brunner, é claro, não concorda com a depravação total tão defendida pelos calvinistas e de quem Barth sentia-se alinhado. Para Karl Barth não há nada no homem que o torne em condições naturais de receber a Revelação de Deus, pois o mesmo se encontra em total estado de queda e depravação. Ainda que seja possível para este a realização de boas obras, que visem minorar os sofrimentos humanos, tais inclinações não são intensas a ponto de nos colocar favoravelmente diante do Criador. Destarte, a contradição entre Deus e o homem é incongruente. Deus é pura transcendência e não pode ser objeto da razão, pois esta está aprisionada pelo pecado. Já a insistência de Brunner em enxergar no homem uma capacidade inerente, o levou a ser fortemente criticado por Barth. Brunner, aliás, passaria o resto de sua vida tentando se explicar e se defender das acusações de Karl Barth, que via em suas formulações uma reaproximação com a teologia católica da apreensão natural do homem sobre a revelação.
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