Palavra do leitor
- 09 de agosto de 2021
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Amor-próprio: cegueira, modismo ou autorrespeito?
Anos atrás, várias reportagens sobre cerimônias de sologamia (autocasamento) em alguns países da Europa e Ásia chamaram muito atenção. Nesses eventos, alguns solteirões celebravam o que chamavam de "amor-próprio" - embora isso pudesse ser visto psicanaliticamente como uma possível "negação", implicando algum grau de mecanismo de defesa do psiquismo de alguém emocionalmente inconformado, mas compensando sua "infelicidade" pela autoafirmação.
Em nosso tempo, tem sido recorrente o uso da expressão "amor-próprio", bem como a preconização dos conceitos de autovalorização, autoimagem, autoestima etc. Porém, esse "amor-próprio" enquanto defesa da honra ou valor de si mesmo, logo se revela como algo mais direcionado ao ego do indivíduo do que aquilo que se poderia perceber como amor ou essência do seu ser.
No entanto, isso não quer dizer que "ser" e "ego" não coexistam. Muito menos que o amor humano não seja capaz de expressar-se por meio de seres imperfeitos, isto é, pecadores e egocêntricos por natureza.
Assim como não caberia aqui debater se é possível o amor ser pecaminoso, de igual modo não há intenção de se conceituar profundamente o termo "ego" (eu) como nas correntes psicológicas ou psicanalíticas, onde segundo uma delas (Freud) o ego é o cavaleiro segurando as rédeas do cavalo (id), simbolizando freios necessários aos desejos humanos.
Mas retomando o contexto inicial, em relação à defesa do ego, um exemplo curioso a se observar nas redes sociais são as frases juvenis de pessoas não correspondidas no amor como deveriam, bem como os apaixonados orgulhosos: "Não valorizou, perdeu!", "A fila anda", "Teve a chance e desperdiçou", "Ele que lute!", "Não vou correr atrás!".
Sendo os exemplos supramencionados variações no senso-comum do chamado "amor-próprio", em certo sentido, mesmo com argumentos bem elaborados em defesa desse suposto "auto-amor" (diferenciando-o de egoísmo), percebe-se que até mesmo o respeito próprio de alguém não é invulnerável quando a questão é amar.
Por outro lado, frases como "Você é a pessoa mais importante do mundo", "cuide-se", "valorize-se", "pense primeiro em você" etc., ainda que tenham contexto e importância, favorecem presunção pela premissa do ego e a tentativa de mimá-lo ou melhorá-lo como se fosse o centro de tudo.
Desde que o pecado contaminou a humanidade, o egocentrismo passou a ser um falso centro de referência dos indivíduos. Consequentemente, a maldita herança do egoísmo infectou as relações humanas, fazendo com que indivíduos buscassem dominar ou manipular os outros para seus próprios fins.
Embora corrompida em sua natureza, a humanidade não perdeu a capacidade de amar, pois foi criada à imagem e semelhança de Deus, que é o próprio Amor (1Jo 4.8). No entanto, enquanto o amor Ágape é incondicional e perfeito, o amor humano é condicionado à reciprocidade e interesses, ainda que o amor de mãe fuja a essa tendência por refletir o amor sacrifical de Deus.
O maior desafio diário do cristão é a rendição completa do "eu" ao senhorio de Cristo. Inflado ou desinflado, regenerado ou degenerado, o ego precisa estar diariamente cravado na cruz. Por essa razão, mais urgente isso se torna para quem acreditar que o mundo gira em torno de si - ainda que essa crença enganosa se disfarce em orações, músicas e até pregações antropocêntricas sob a justificativa teológica do cuidado e amor de Deus por seus filhos.
Alguns escritores, professores, influenciadores digitais, psicoterapeutas etc., afirmam que devemos nos amar como somos e nos aceitar indiscriminadamente. Contudo, isso se mostra um notório autoengano. Não é necessário subestimação nem superestimação de si mesmo para perceber que nosso valor precisa estar fora de nós (acima de nós) mesmos.
O termo "amor-próprio" é tão vago e confuso quanto o termo "amor-impróprio". Sendo o amor em si mesmo inseparável da renúncia, abnegação, sacrifício, entrega e desprendimento, não seria inconciliável com a ideia de ressentimento, bem como a atribuição de um amor não correspondido definido como algum tipo de "amor-impróprio"? Nesses casos, ainda que os termos "amor apropriado" e "amor inapropriado" fossem mais próximos da definição pretendida, agravaria ainda mais a confusão.
Segundo C. S. Lewis, amar é ser vulnerável e o único lugar em que poderíamos estar livre dos possíveis males do amor seria no céu (onde o amor é perfeito) ou no inferno (onde não existe amor). Assim como Deus nos amou correndo o risco de rejeitarmos Seu amor, não é possível amarmos sem o risco do desapontamento. Logo, independentemente de autorrespeito, amar sempre é ser vulnerável.
Séculos atrás, Padre Antonio Vieira escreveu que "A cegueira do amor-próprio é muito maior que a cegueira dos olhos." Em nosso contexto, vivendo no tempo da deificação do ego e deslumbramento da cultura selfie pelo excesso de reflexo de luz de nosso espelho narcisista, seria essa cegueira fruto de mentiras contadas pelos outros ao nosso respeito ou imaginadas por nós mesmos?
Em nosso tempo, tem sido recorrente o uso da expressão "amor-próprio", bem como a preconização dos conceitos de autovalorização, autoimagem, autoestima etc. Porém, esse "amor-próprio" enquanto defesa da honra ou valor de si mesmo, logo se revela como algo mais direcionado ao ego do indivíduo do que aquilo que se poderia perceber como amor ou essência do seu ser.
No entanto, isso não quer dizer que "ser" e "ego" não coexistam. Muito menos que o amor humano não seja capaz de expressar-se por meio de seres imperfeitos, isto é, pecadores e egocêntricos por natureza.
Assim como não caberia aqui debater se é possível o amor ser pecaminoso, de igual modo não há intenção de se conceituar profundamente o termo "ego" (eu) como nas correntes psicológicas ou psicanalíticas, onde segundo uma delas (Freud) o ego é o cavaleiro segurando as rédeas do cavalo (id), simbolizando freios necessários aos desejos humanos.
Mas retomando o contexto inicial, em relação à defesa do ego, um exemplo curioso a se observar nas redes sociais são as frases juvenis de pessoas não correspondidas no amor como deveriam, bem como os apaixonados orgulhosos: "Não valorizou, perdeu!", "A fila anda", "Teve a chance e desperdiçou", "Ele que lute!", "Não vou correr atrás!".
Sendo os exemplos supramencionados variações no senso-comum do chamado "amor-próprio", em certo sentido, mesmo com argumentos bem elaborados em defesa desse suposto "auto-amor" (diferenciando-o de egoísmo), percebe-se que até mesmo o respeito próprio de alguém não é invulnerável quando a questão é amar.
Por outro lado, frases como "Você é a pessoa mais importante do mundo", "cuide-se", "valorize-se", "pense primeiro em você" etc., ainda que tenham contexto e importância, favorecem presunção pela premissa do ego e a tentativa de mimá-lo ou melhorá-lo como se fosse o centro de tudo.
Desde que o pecado contaminou a humanidade, o egocentrismo passou a ser um falso centro de referência dos indivíduos. Consequentemente, a maldita herança do egoísmo infectou as relações humanas, fazendo com que indivíduos buscassem dominar ou manipular os outros para seus próprios fins.
Embora corrompida em sua natureza, a humanidade não perdeu a capacidade de amar, pois foi criada à imagem e semelhança de Deus, que é o próprio Amor (1Jo 4.8). No entanto, enquanto o amor Ágape é incondicional e perfeito, o amor humano é condicionado à reciprocidade e interesses, ainda que o amor de mãe fuja a essa tendência por refletir o amor sacrifical de Deus.
O maior desafio diário do cristão é a rendição completa do "eu" ao senhorio de Cristo. Inflado ou desinflado, regenerado ou degenerado, o ego precisa estar diariamente cravado na cruz. Por essa razão, mais urgente isso se torna para quem acreditar que o mundo gira em torno de si - ainda que essa crença enganosa se disfarce em orações, músicas e até pregações antropocêntricas sob a justificativa teológica do cuidado e amor de Deus por seus filhos.
Alguns escritores, professores, influenciadores digitais, psicoterapeutas etc., afirmam que devemos nos amar como somos e nos aceitar indiscriminadamente. Contudo, isso se mostra um notório autoengano. Não é necessário subestimação nem superestimação de si mesmo para perceber que nosso valor precisa estar fora de nós (acima de nós) mesmos.
O termo "amor-próprio" é tão vago e confuso quanto o termo "amor-impróprio". Sendo o amor em si mesmo inseparável da renúncia, abnegação, sacrifício, entrega e desprendimento, não seria inconciliável com a ideia de ressentimento, bem como a atribuição de um amor não correspondido definido como algum tipo de "amor-impróprio"? Nesses casos, ainda que os termos "amor apropriado" e "amor inapropriado" fossem mais próximos da definição pretendida, agravaria ainda mais a confusão.
Segundo C. S. Lewis, amar é ser vulnerável e o único lugar em que poderíamos estar livre dos possíveis males do amor seria no céu (onde o amor é perfeito) ou no inferno (onde não existe amor). Assim como Deus nos amou correndo o risco de rejeitarmos Seu amor, não é possível amarmos sem o risco do desapontamento. Logo, independentemente de autorrespeito, amar sempre é ser vulnerável.
Séculos atrás, Padre Antonio Vieira escreveu que "A cegueira do amor-próprio é muito maior que a cegueira dos olhos." Em nosso contexto, vivendo no tempo da deificação do ego e deslumbramento da cultura selfie pelo excesso de reflexo de luz de nosso espelho narcisista, seria essa cegueira fruto de mentiras contadas pelos outros ao nosso respeito ou imaginadas por nós mesmos?
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dos seus autores e não representam a opinião da Editora ULTIMATO.
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