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Palavra do leitor

Amazonas: rios e gente que nos transformam

Acabamos de chegar, eu e um grupo de irmãos da Igreja Presbiteriana de Brasília, de uma viagem missionária pelo rio Amazonas (parceria com a Igreja Presbiteriana de Manaus) visitando e conhecendo algumas comunidades ribeirinhas daquele suntuoso rio que mais parece um grande oceano.

O termo missionário, infelizmente, tomou um sentido negativo pelo grande público devido, em parte, aos desvios ou às disfunções observadas por parte de alguns grupos, muitos deles estrangeiros, cujos objetivos acabaram sendo a produção de um processo de aculturação, onde a cultura “mais forte” acabava sendo absorvida pela “mais fraca”. Quando costumes e visões de mundo foram imputadas forçosamente, provocando uma relação de dominantes e dominados, reflexo do que vemos há séculos na relação injusta entre os hemisférios Norte e Sul. Além disso, as várias missões vindas da Europa ao longo de séculos que dizimaram parte da população indígena contribuíram com essa visão pessimista.

Mas, vamos à viagem. Agora entendo o grande Fernando Pessoa quando disse: “navegar é preciso, viver não é preciso”. Creio que o poeta português queria dizer que explorar o mundo é mais importante do que viver uma vida rotineira, sedentária e monótona. Fazendo um paralelo, a igreja precisa, pois, sair de suas quatro paredes e ir aonde se faz necessário. Precisamos sair dos limites do nosso mundo pessoal e conhecer outros mundos, outras realidades. Não foi o que Jesus disse aos seus discípulos quando os comissionou: “ide até os confins da terra”? (At 1:8). Navegar pelo segundo maior rio do mundo é uma experiência única na vida. Tudo nele é enorme: seus afluentes, suas ilhas, suas matas. Conhecê-lo de perto e in loco é conhecer o Brasil que os brasileiros não conhecem. Conhecer sua gente, seus caboclos e sua histórias é ter a melhor aula de geografia que poderíamos ter. Ver a pobreza e as dificuldades dos ribeirinhos é sentir de perto a grande desigualdade social e regional do nosso País e ver quão grande é a dívida que temos com aquela região.

Todos nós temos dificuldade, e até evitamos, conhecer o próximo. Talvez porque, ao conhecê-lo, passamos a ser responsáveis por ele, passamos a ser personagens de sua história. Talvez seja aquilo que a escritora brasileira Lya Luft diz: “a alma do outro é uma floresta escura”. A qualquer momento podemos nos deparar com algo que nos assusta, que nos desafia, que nos surpreenda. Na maioria das vezes, quando nos deparamos com pessoas mais humildes e menos educadas, segundo os padrões convencionais, nos portamos como professores, como aqueles que têm algo a dizer, a ensinar. Quando nos damos a oportunidade de ir até o outro, como essa viagem ao Amazonas, descobrimos que o outro tem muito a nos ensinar, achamos que ali vamos dar alguma coisa, quando, na verdade, recebemos muito mais que poderíamos imaginar.

Nosso grupo passou cinco dias visitando algumas comunidades. Alguns de nós talvez nunca mais tenha esta oportunidade novamente. Certamente, nunca mais verei o seu Manoel, ou o seu Francisco que nos ofereceu um cafezinho, aquelas famílias acolhedoras que nos receberam com um sorriso no rosto e um olhar de agradecimento, aquelas crianças com seus olhinhos surpresos. Nós dividimos e doamos um pouco do que levamos para eles, e eles dividiram suas esperanças e histórias conosco. Foi uma bela troca. Fomos para falar, mas acabamos ouvindo muito mais. Sim, há muito no rio Amazonas para conhecermos além dos pores do sol, dos botos e suas lendas, dos barcos enormes que transportam grande parte da economia da região, das grandes fazendas de gado etc. Há gente. Há vidas carentes de recursos materiais. E há famílias cheias de amor, de humildade, de corações abertos para dar e receber. Os rios nos levam a viajar até aquela gente, e aquela gente nos leva a viajar até nosso interior. Descobrimos que a alma do outro não é tão escura assim, há nela muito de nós mesmos, há nela muitas respostas para nossas inquietações. O encontro com o outro que está distante pode ser o grande encontro que precisamos ter com nós mesmos.
Obrigado a todos aqueles que nos proporcionaram essa grande oportunidade, esse grande privilégio.

Obrigado rio Amazonas! Que suas águas turvas continuem levando esperança e produzindo grandes encontros.
Brasília - DF
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