Palavra do leitor
- 09 de abril de 2009
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Além da obediência: a rebeldia pascoal
Se você já se questionou sobre o que o futuro lhe reserva terá uma leve ideia da angústia que se abateu na alma daquele palestino às vésperas do domingo de páscoa.
"A Paixão de Cristo", o filme premiado de Mel Gibson, inicia-se naquele momento crucial, onde a vontade do Filho se dobra definitivamente à vontade do Pai, no Getsêmani, quando a angústia atinge seu ponto mais fundo e o suor de Jesus se converte em sangue.
O autor da epístola aos Hebreus expõe esse episódio de forma paradoxal: Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu (Hb 5:8). Por que o "ainda" ou o "embora"? Não deveria estar ali um “porque” ou “pois”? Não são justamente os filhos que aprendem a obedecer?
Obediência... Palavra cultivada nos quartéis ou pátios escolares, nas salas e nos escritórios, nos chãos de fábricas ou nos campos agrícolas. “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, diz a sabedoria popular. A definição mais simples e precisa do termo encontra-se no Aurélio: Submissão à vontade de alguém. O Filho se submete à vontade do Pai.
Mas obediência significa desobediência. Para obedecer ao Pai, o Filho teve que desobedecer outras autoridades. Por isso mesmo foi penalizado.
Não é de se estranhar que Satanás ao tentar o Mestre no deserto lhe impõe ordens: Transforme! Se atire! Adore-me!
O cientista Stanley Milgram(1) deixou claro em seu famoso experimento os perigos da obediência cega. A sétima arte nos mostra essa verdade várias vezes, das quais a preferida minha é o filme “Uma questão de Honra”, onde Tom Cruise e Demi Moore fazem o papel de advogados da Marinha Americana que desmascaram um general autoritário encenado por Jack Nicholson, que por abuso de poder causa a morte de um oficial inocente. Também as páginas da história nos trazem períodos negros como o nazismo que se sustentava no senso de responsabilidade e obediência cega às autoridades.
É mais do que comum pensar-se que temos um Deus que exige de nós, suas criaturas, obediência incondicional. Afinal não seria esse, o tropeço inicial de Adão e Eva? Não teria Deus testado nosso pai na fé, Abraão, justamente nesse quesito, ao pedir-lhe seu único filho, Isaac? Não. Deus nunca solicitou isso de suas criaturas.
Se não fosse por sua rebeldia Jesus jamais seria crucificado. Teria levado uma vida fácil, teria gozado de prestígio e poder. E nós estaríamos condenados eternamente. Mas Jesus desobedeceu. Ele não satisfez os caprichos da legislação romana e nem do legalismo judeu. E muito mais do que isso, Ele foi além da obediência à lei Mosaica.
Fomos ensinados, ou no mínimo acostumados, a pensar que Deus tinha um plano estabelecido e detalhado para seu Filho que culminaria com sua crucificação. Pensamos que Jesus ciente deste futuro tenebroso fazia os movimentos precisos de forma a se encaixar perfeitamente nesse plano. Tudo regado com muito jejum, muita oração e muita espiritualidade. O fato, porém, é que se nossa teologia diz isso, ela deveria afirmar também que Deus tinha um robô espiritual e não um Filho de carne e osso.
Não estou negando com isso que Deus tivesse um plano, ou que houvesse um futuro predeterminado. Não. Obviamente havia pontos fixos, tais como a traição de um amigo, a crucificação entre bandidos, o sorteio das vestes ou a sepultura de um rico. Tais fatos, porém se apresentavam como profecias que se cumpriam para nos sinalizar a identidade do Messias e não como alvos a serem atingidos ou compromisso agendados dos quais Jesus não pudesse fugir.
O fato que tentamos evitar, mas que temos que encarar de frente é que a obediência que Deus requereu do Cristo, Ele requer de nós também. E não se deu através de provinhas do tipo faça ou não faça, mas sim em questões mais amplas de caráter, do tipo humildade, mansidão, misericórdia e perdão para com indivíduos caídos. Essa é a obediência, que o levou à cruz, da qual Paulo fala, “pela obediência de um muitos serão feitos justos”.
Mais do que um plano maravilhoso para sua vida, o que a Páscoa nos mostra, é que Deus, através de você está ainda a planejar uma nova história de vida marcada pela graça e pela justiça conquistados há mais de 2000 anos por um simples carpinteiro que amou até as últimas conseqüências, de tal forma, que nem a morte conseguiu segurá-lo.
teologia-livre.blogspot.com/
(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Experiência_de_Milgram
"A Paixão de Cristo", o filme premiado de Mel Gibson, inicia-se naquele momento crucial, onde a vontade do Filho se dobra definitivamente à vontade do Pai, no Getsêmani, quando a angústia atinge seu ponto mais fundo e o suor de Jesus se converte em sangue.
O autor da epístola aos Hebreus expõe esse episódio de forma paradoxal: Ainda que era Filho, aprendeu a obediência, por aquilo que padeceu (Hb 5:8). Por que o "ainda" ou o "embora"? Não deveria estar ali um “porque” ou “pois”? Não são justamente os filhos que aprendem a obedecer?
Obediência... Palavra cultivada nos quartéis ou pátios escolares, nas salas e nos escritórios, nos chãos de fábricas ou nos campos agrícolas. “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, diz a sabedoria popular. A definição mais simples e precisa do termo encontra-se no Aurélio: Submissão à vontade de alguém. O Filho se submete à vontade do Pai.
Mas obediência significa desobediência. Para obedecer ao Pai, o Filho teve que desobedecer outras autoridades. Por isso mesmo foi penalizado.
Não é de se estranhar que Satanás ao tentar o Mestre no deserto lhe impõe ordens: Transforme! Se atire! Adore-me!
O cientista Stanley Milgram(1) deixou claro em seu famoso experimento os perigos da obediência cega. A sétima arte nos mostra essa verdade várias vezes, das quais a preferida minha é o filme “Uma questão de Honra”, onde Tom Cruise e Demi Moore fazem o papel de advogados da Marinha Americana que desmascaram um general autoritário encenado por Jack Nicholson, que por abuso de poder causa a morte de um oficial inocente. Também as páginas da história nos trazem períodos negros como o nazismo que se sustentava no senso de responsabilidade e obediência cega às autoridades.
É mais do que comum pensar-se que temos um Deus que exige de nós, suas criaturas, obediência incondicional. Afinal não seria esse, o tropeço inicial de Adão e Eva? Não teria Deus testado nosso pai na fé, Abraão, justamente nesse quesito, ao pedir-lhe seu único filho, Isaac? Não. Deus nunca solicitou isso de suas criaturas.
Se não fosse por sua rebeldia Jesus jamais seria crucificado. Teria levado uma vida fácil, teria gozado de prestígio e poder. E nós estaríamos condenados eternamente. Mas Jesus desobedeceu. Ele não satisfez os caprichos da legislação romana e nem do legalismo judeu. E muito mais do que isso, Ele foi além da obediência à lei Mosaica.
Fomos ensinados, ou no mínimo acostumados, a pensar que Deus tinha um plano estabelecido e detalhado para seu Filho que culminaria com sua crucificação. Pensamos que Jesus ciente deste futuro tenebroso fazia os movimentos precisos de forma a se encaixar perfeitamente nesse plano. Tudo regado com muito jejum, muita oração e muita espiritualidade. O fato, porém, é que se nossa teologia diz isso, ela deveria afirmar também que Deus tinha um robô espiritual e não um Filho de carne e osso.
Não estou negando com isso que Deus tivesse um plano, ou que houvesse um futuro predeterminado. Não. Obviamente havia pontos fixos, tais como a traição de um amigo, a crucificação entre bandidos, o sorteio das vestes ou a sepultura de um rico. Tais fatos, porém se apresentavam como profecias que se cumpriam para nos sinalizar a identidade do Messias e não como alvos a serem atingidos ou compromisso agendados dos quais Jesus não pudesse fugir.
O fato que tentamos evitar, mas que temos que encarar de frente é que a obediência que Deus requereu do Cristo, Ele requer de nós também. E não se deu através de provinhas do tipo faça ou não faça, mas sim em questões mais amplas de caráter, do tipo humildade, mansidão, misericórdia e perdão para com indivíduos caídos. Essa é a obediência, que o levou à cruz, da qual Paulo fala, “pela obediência de um muitos serão feitos justos”.
Mais do que um plano maravilhoso para sua vida, o que a Páscoa nos mostra, é que Deus, através de você está ainda a planejar uma nova história de vida marcada pela graça e pela justiça conquistados há mais de 2000 anos por um simples carpinteiro que amou até as últimas conseqüências, de tal forma, que nem a morte conseguiu segurá-lo.
teologia-livre.blogspot.com/
(1) http://pt.wikipedia.org/wiki/Experiência_de_Milgram
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