Afinal de contas, confessamos para sair bem na foto? - Parte II

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Abro um parêntese e realço o presente texto com a correspondente poesia:

"O pastor
enuncia suas verdades
não a ovelhas
mas sim, a pedras
e, estranhamente,
adestradas dizem
um sonoro amém!"

Ora, mas cadê o conjuminar do texto – "afinal de contas, confessamos para sair bem na fita?".

Presumidamente, tenho observado um abandono, sem precedentes, da confissão interrelacional, da confissão do recomeçar, da confissão do ouvir, da confissão do tolerar, da confissão do servir, da confissão da interdependência e da influência recíproca (sem solapar a individualidade, a liberdade, a afetuosidade, o lúdico, o cognitivo, o volitivo e demais idiossincrasias do outro).

Para agravar ainda mais o cenário, muitos aceitam uma forma alternativa de catarse coletiva maquiada em sessões de descarrego, em cultos de regressões, em simpósios sobre maldições hereditárias, em encontros de orações regressivas para perdoar antepassados e por aí vai todo um enxame de aberrações colocadas ao redor da Cruz de Cristo.

Deveras, a saga efetuada por Jesus, enquanto percorria pela história de ateus, crédulos, gnósticos, falidos, excluídos, vitimados pelas mazelas da pobreza, da ignorância, da opressão e da espoliação dos próprios irmãos, dos perseguidos por serem de Samaria, dos condenados por não se amoldarem aos cubículos da lei inexorável do outro e, obviamente, não de si mesmo, de déspotas, de interesseiros, de pedófilos, de homossexuais, de heterossexuais, de bons, de condenados e etceres, sempre decidiu arregaçar as mangas, afundar os pés na lama e carregar no ombro o outro.

Para isso, ouviu, antes de justificar; novamente, depois de ouvir, ouviu, antes de falar; teimosamente, ouviu e permitiu a Graça permear e plasmar imaginários, inconscientes, almas, espíritos, gente de carne e osso, gente de idéias e ideais, gente de lágrimas e expectativas.

Tão somente assim, o que queres que te faça; mulher, nem eu te condeno e outras linhas desse universo intenso, incisivo e íntimo personificado pelo evangelho libertário de Cristo.

Destarte, bato na mesma tecla, pela terceira vez:

-Afinal de contas, confessamos para sair bem na foto?

Ou, quem sabe, somente nos confessamos para não sermos atingidos por alguma represália divina, ou externamos um arrependimento de conveniências?

Lá no âmago do texto de Thiago 5. 16, consigo extrair a confissão da reconciliação firmada em Cristo Jesus e isto não nos entorpece com relação ao fato de estarmos sujeitos as inclemências da vida.

Sem titubear, no debulhar da vida, iremos encontrar prantos, risos, corajosos, cisões, gente que morre inesperadamente, gente que prevalece indecentemente, gente injustiçada, gente vitoriosa.

Mormente a dialética da vida seja inevitável, a Igreja de Cristo, no despontar do séc. XXI, tem sido comissionada para conspícua decisão de ouvir a palavra, de ouvir a si mesma (isto implica ouvir ao próximo, a começar no âmbito da comunhão de gente não perfeita, graças a Deus!).

Enfim, ouvir o próximo desnudado das armaduras do certo e do errado. Enquanto permanecemos numa patética confissão voltada a atenuar situações e, lá no fundo, com a intenção de lograrmos o contra – cheque das bênçãos divinas, ainda continuaremos a viver uma graça faz de conta, um evangelho covarde, um cristo sem cruz, sem ressurreição, sem inspiração, sem humanidade, sem liberdade, sem inocência, sem dignidade, sem pulsar vida e respeito ao outro.

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Opinião do leitor