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Palavra do leitor

Afinal de contas, confessamos para sair bem na foto? - Parte I

Afinal de contas, confessamos para sair bem na foto?

‘"Muito embora o ar que respiramos não possa ser contido por nossas mãos, o quão vital e incontestável representa para a mantença da vida. De modo semelhante, a manifestação da palavra - viva, ou seja, da Graça do Deus - ser humano Jesus Cristo, no sentido e na existência do Cristianismo".

O póstumo apresentador Chacrinha dizia, com todas as letras, a saber: "Quem não se comunica, se estrubica!"

Parto, então, dessa frase antológica no cenário cultural do qual fazemos parte a fim de costurar algumas elucubrações. Aliás, esse peculiar jargão utilizado pelo velho guerreiro ressoa como uma verdade inquestionável e premente. Não há como rechaçar: a capacidade para intercambiamos se torna um diferencial. Faz-se notar como damos ênfase e destaque a partir do momento de uma lapidar observação sobre o dinamismo de uma sociedade estigmatizada pelo pluralismo e pela pletora de informações.

Dia a dia, mediante os nominados instrumentos da considerada colossal era da tecnologia, encabeçada pela internet e seus acessos ao mundo virtual, percebemos, expressamente, acontecimentos triviais, pueris, revolucionários, bombásticos e rotineiros, bem à nossa frente.

Vale pontuar, o mundo e suas contingências, suas ambigüidades, suas tensões, suas aberrações e suas repugnâncias parecem migrar das telas dos computadores, dos celulares e de outras ferramentas representadoras dessa profusa invasão do mundo, seja uma catástrofe no extremo-oriente, seja a morte do outrora tido maior terrorista, seja os homicídios banais e estúpidos nas periferias, seja na violência deliberada e sádica em face de minorias, seja na indiferença de todos os dias! Seja numa contextualidade regida por conjunturas sociais, econômicas, políticas, ideológicas e até espirituais, cujas pessoas são peças dentro de uma engrenagem narcisista e hedonista.

Agora, ao vasculhar as páginas desse mundo refratário, chegamos a uma induvidosa postura, adotada por muitos voltados a evitar toda e qualquer situação de diálogo, a interação de idéias e valores para, efetiva e consolidadamente, construir um espaço de interdependência, de tolerância, de justiça, de esperança e humanidade. Por conseqüência, assumimos, afanosamente, uma espécie de política da boa coexistência.

A grosso modo, nem sequer podemos mais aludir ‘’a convivência’’, em função de essa expressão abarcar os aspectos de ouvir, de comprometimento, de compromisso e responsabilidade pelo outro, pelo próximo, pelo coletivo, pelo comunitário. Tristemente, nada disso apresenta e é visto com relevância, senão entoarmos um amém sonoro às esfinges do individualismo, do utilitarismo, de uma pedagogia inclinada a conceber um progresso acéfalo no respeito aos discordantes de sua sistemática e cínico.

Ah, não posso me olvidar, um progresso travestido com uma roupagem de felicidade, ao qual as pessoas aceitam interpretarem o outro como um objeto a ser consumido e, depois, descartado. Eis as facetas de maior sordidez, movidas por uma retórica de desenvolvimento, de sustentabilidade, de crescimento exponencial e outras nomenclaturas numa esquipática forma de interpretar a vida, segundo as leis da mais valia.

Nisto, aceitamos, de bom grado, a marcha galopante de uma realidade funesta, de uma autonomia e liberdade hipócrita, porque delimita a vida ao ventre, aos fetiches da aceitação, ao caudilho de uma beleza ditatorial (no qual os adeptos da fonte da juventude, dizem amém!).

Neste emaranhado de alienações ou, numa linguagem utilizada pelos cristãos, dos efeitos de pecado, ponho em pauta, em argüição, em indagação a Epístola de Tiago 5.16, para traçarmos o papel de uma Igreja confessante, de cristãos suscetíveis à confissão dialogal e de uma comunhão pelo qual a confissão preconiza e testifica um convite destinado a desaguar na liberdade, na humanidade, no discipulado da vida resgatada pela Cruz de Cristo.

No entanto, quando folheamos os meandros da cristandade, ultimamente, tenho captado e constatado vertentes evangélicas compromissadas e comprometidas a atender as diretrizes, as coqueluches, as aspirações e anseios de fiéis adestrados a cultuarem um Deus de recompensas. Vamos adiante, na ótica desse evangelho, nada sobra de profundidade, de transcendência, de existencial, de centelhas inspiradoras na história de todos os dias (de tantos porquês).

Opostamente, percebo uma idolatria deslavada e descarada em prol de uma espiritualidade mais alinhada a ser uma válvula de escape para as decisões equivocadas, os comportamentos a léguas de distâncias do bom senso, as ações e reações destemperadas efetuadas lá atrás.

Deve ser dito, as anomalias confluentes neste evangelho, fragmento de uma humanidade sem o pulsar da esperança ativa e desafiadora de Eclesiastes 4.1, protagonizado por um Messias de arremedos.
São Paulo - SP
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