Palavra do leitor
- 27 de agosto de 2007
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Adoradores: louvor "made in Brazil"
Aconteceu em Munique na semana passada uma conferência de louvor. Vieram músicos brasileiros famosos para a terceira maior cidade da Alemanha e encontraram algumas centenas de evangélicos, a maioria daqui mesmo, e alguns poucos de fora: Holanda, Inglaterra, Estados Unidos, Itália e etc.
Talvez seja difícil para alguém envolvido ler o que vou escrever. Mas sei que receberam muito feed back positivo, por isso coloco alguns pontos que merecem ser repensados. O evento foi bom, já digo logo, antes que alguém pense que só estou querendo denegrir tudo. Como sempre o "mister imigrante" se sente lembrado, importante e participante de algo maior. Vira que mexe aparecem aqui bandas nacionais seculares que trazem os ventos tropicais para levarem embora momentaneamente a saudade e as frentes frias vindas do pólo norte. Quem não gosta destas coisas?
Espero que se repita ano que vem e por isso faço algumas ponderações. Escrevo com base naquela razão citada por Paul Tournier, a de se criar um mundo, em que se possa viver. Nesse mundo, penso, há que se ter mais respeito pelo Europeu e sua cultura, quando o tema é missões na Europa.
Outro dia estava vendo um desses típicos filmes de Hollywood, cujo auge é atingido quando o personagem principal faz um discurso "lindo" defendendo valores como liberdade e o patriotismo e depois todo mundo o aplaude num clima emocionado. Como eu odeio isso! Comentei com minha esposa que assistia comigo. Por quê? - Disse ela. Porque isso não corresponde em nada à realidade!
A mesma coisa é o discurso das igrejas brasileiras de imigrantes na Europa. Elas têm uma fala belíssima de alcançar o europeu. Mas isso não corresponde em nada à realidade - com quase 10 anos de Europa eu sei muito bem do que estou falando. Não só as brasileiras cometem esse erro típico dos imigrantes, mas as latinas, as africanas e etc. Existem em Munique, por exemplo, igrejas russas. Qual alemão vai ir a um culto russo?
A tese que defendi no meu mestrado aqui foi relacionada aos produtos made in Brazil. A imagem brasileira é de fato muito boa entre os alemães. Sem dúvida a marca "Brasil" tem que ser explorada, se possível até em missões. Mas o erro clássico é justamente a total negligência e o desrespeito à cultura do país alvo. Os organizadores, pessoas de respeito e com bagagem de missões não cometeram nenhuma gafe imperdoável. Não é nada disso. Mas são questões que qualquer crente em qualquer lugar do Brasil entende: você está fiel em sua igreja e de repente ouve que irá ocorrer na vizinhança um evento cristão, só que já está tudo arranjado e ninguém te procurou anteriormente para falar sobre o assunto. Você foi desprezado. O evento, organizado por outro grupo, apesar de ter a mesma bandeira que o seu, tem outra dinâmica e tônica que não eram bem as mesmas que as suas. Além de tudo te tacham nas entrelinhas de inexperiente, sem falar dos adjetivos negativos da área espiritual. No fundo parece que todo o evento faz parte de uma estratégia de Marketing muito bem elaborada. Afinal o made in Europe tem mais peso que o made in Brazil...
Se o evento tivesse como objetivo único o apoiar as igrejas de imigrantes, teria sido um sucesso absoluto. Mas existe um objetivo fictício, mas explícito, de se fazer missões na Europa, então ficou aí uma lacuna que pode, quem sabe, nos próximos ser preenchida. Se o próximo for mesmo em Londres, por que não procurar primeiro os ingleses e depois as 47 igrejas brasileiras da cidade que nem sempre estão de acordo uma com as outras? Aprendamos com a lição de Munique.
Existe em Munique uma aliança evangélica, da qual, estranhamente, a igreja brasileira que sediou a conferência não faz parte. Essa aliança poderia também ter apoiado o evento. Já que houve bem menos participantes que o previsto. Poderia ter se envolvido bons músicos alemães ou de outras nações. Ano passado antes da copa houve um evento belíssimo com milhares de evangélicos em Munique, organizado pela aliança.
Em João 4 encontramos a chave para essas missões transculturais: cheguemos aos estrangeiros sabendo nossa identidade e o que Deus tem feito no Brasil, mas com humildade, expondo nossas fraquezas e necessidades. Não atropelemos os processos! Não neguemos a identidade e valores estrangeiros! Não cometamos os mesmos erros que cometeram com a gente!
Talvez seja difícil para alguém envolvido ler o que vou escrever. Mas sei que receberam muito feed back positivo, por isso coloco alguns pontos que merecem ser repensados. O evento foi bom, já digo logo, antes que alguém pense que só estou querendo denegrir tudo. Como sempre o "mister imigrante" se sente lembrado, importante e participante de algo maior. Vira que mexe aparecem aqui bandas nacionais seculares que trazem os ventos tropicais para levarem embora momentaneamente a saudade e as frentes frias vindas do pólo norte. Quem não gosta destas coisas?
Espero que se repita ano que vem e por isso faço algumas ponderações. Escrevo com base naquela razão citada por Paul Tournier, a de se criar um mundo, em que se possa viver. Nesse mundo, penso, há que se ter mais respeito pelo Europeu e sua cultura, quando o tema é missões na Europa.
Outro dia estava vendo um desses típicos filmes de Hollywood, cujo auge é atingido quando o personagem principal faz um discurso "lindo" defendendo valores como liberdade e o patriotismo e depois todo mundo o aplaude num clima emocionado. Como eu odeio isso! Comentei com minha esposa que assistia comigo. Por quê? - Disse ela. Porque isso não corresponde em nada à realidade!
A mesma coisa é o discurso das igrejas brasileiras de imigrantes na Europa. Elas têm uma fala belíssima de alcançar o europeu. Mas isso não corresponde em nada à realidade - com quase 10 anos de Europa eu sei muito bem do que estou falando. Não só as brasileiras cometem esse erro típico dos imigrantes, mas as latinas, as africanas e etc. Existem em Munique, por exemplo, igrejas russas. Qual alemão vai ir a um culto russo?
A tese que defendi no meu mestrado aqui foi relacionada aos produtos made in Brazil. A imagem brasileira é de fato muito boa entre os alemães. Sem dúvida a marca "Brasil" tem que ser explorada, se possível até em missões. Mas o erro clássico é justamente a total negligência e o desrespeito à cultura do país alvo. Os organizadores, pessoas de respeito e com bagagem de missões não cometeram nenhuma gafe imperdoável. Não é nada disso. Mas são questões que qualquer crente em qualquer lugar do Brasil entende: você está fiel em sua igreja e de repente ouve que irá ocorrer na vizinhança um evento cristão, só que já está tudo arranjado e ninguém te procurou anteriormente para falar sobre o assunto. Você foi desprezado. O evento, organizado por outro grupo, apesar de ter a mesma bandeira que o seu, tem outra dinâmica e tônica que não eram bem as mesmas que as suas. Além de tudo te tacham nas entrelinhas de inexperiente, sem falar dos adjetivos negativos da área espiritual. No fundo parece que todo o evento faz parte de uma estratégia de Marketing muito bem elaborada. Afinal o made in Europe tem mais peso que o made in Brazil...
Se o evento tivesse como objetivo único o apoiar as igrejas de imigrantes, teria sido um sucesso absoluto. Mas existe um objetivo fictício, mas explícito, de se fazer missões na Europa, então ficou aí uma lacuna que pode, quem sabe, nos próximos ser preenchida. Se o próximo for mesmo em Londres, por que não procurar primeiro os ingleses e depois as 47 igrejas brasileiras da cidade que nem sempre estão de acordo uma com as outras? Aprendamos com a lição de Munique.
Existe em Munique uma aliança evangélica, da qual, estranhamente, a igreja brasileira que sediou a conferência não faz parte. Essa aliança poderia também ter apoiado o evento. Já que houve bem menos participantes que o previsto. Poderia ter se envolvido bons músicos alemães ou de outras nações. Ano passado antes da copa houve um evento belíssimo com milhares de evangélicos em Munique, organizado pela aliança.
Em João 4 encontramos a chave para essas missões transculturais: cheguemos aos estrangeiros sabendo nossa identidade e o que Deus tem feito no Brasil, mas com humildade, expondo nossas fraquezas e necessidades. Não atropelemos os processos! Não neguemos a identidade e valores estrangeiros! Não cometamos os mesmos erros que cometeram com a gente!
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