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Palavra do leitor

Abraão é lucidez

A história de Abraão levando seu filho para sacrificar num monte é muito comovente e fonte de muitos insights. Uma cena carregada de paixão onde a fé encontra seus limites, mas a vida tem que andar. Um homem, seu filho e seu Deus. Uma voz, a prontidão, o sacrifício... Outra voz! A mesma voz com outro dizer. O inusitado, o vinho novo, uma nova fé! Minha reflexão contempla o diálogo entre Abraão e seu Deus.

Particularmente, creio que Abraão dialoga com ele mesmo (o que não significa que Deus não esteja envolvido. Deus sempre está envolvido!). Abraão tem uma revelação que passa por seu solilóquio-interpretativo-progressivo. Abraão dialoga com a sua cultura, com as crenças ao redor, com os ensinamentos da família, com suas intuições e dúvidas, com as percepções de sua época sobre o sagrado. Um diálogo que pode trazer um pouco mais de lucidez à nossa espiritualidade. Dilema terrível entre uma revelação e outra; entre a tradição e a paternidade; entre a obediência em detrimento do amor e a desobediência por compaixão. Na crise de um paradigma Abraão aprende uma outra fé!

A fé de Abraão acolhe um Deus que muda de idéia, um Deus que se arrepende. Na narrativa bíblica Deus fala a Abraão “tome seu filho, seu único filho, Isaque, a quem você ama, e vá para a região de Moriá. Sacrifique-o ali como holocausto.” Na segunda voz Deus diz (ou Abraão ouve?) “não toque no rapaz. Não lhe faça nada”.

Para Abraão obedecer à segunda voz teria que acolher um Deus que volta atrás. Não foi a última vez que Deus se desdisse. Moisés só continuou sua missão, pois aprendeu esse Deus. Nos profetas, Deus volta atrás um sem número de vezes. E em Jesus Deus desdiz: “vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados..., mas eu lhes digo...”.

Na dialética da revelação, Abraão concebe um Deus que se relativiza por amor. Deus parece dizer “Abraão, tudo o que você ouvir a respeito de mim é relativo, inclusive quando isso for dito por mim, pois quando a vida se impõe as sentenças não bastam!”. Quando a vida está em jogo, Deus volta atrás sem nenhum problema, arrepende-se sem pensar duas vezes, muda de idéia mesmo! Talvez aqui alguns cabelos se arrepiem, mas eu penso Deus assim: um Deus para quem as sentenças teológicas, até mesmo as ditas por Ele (será? Quem determinou?), são flexíveis porque a vida imprevisível e contingente exige que sejam.

Para Abraão obedecer ao segundo “comando” de Deus, teria de desobedecer ao primeiro. Teria que transgredir. Teria que romper com tradições e crenças. Ainda bem que Abraão não foi o único subversivo na História. Graças aos transgressores a revelação se aperfeiçoou, se ampliou e ganhou contornos fora de quaisquer fronteiras. Penso na transgressão não como uma mera desobediência de uma lei, mas como um movimento que vai além da lei. Um movimento que vai além das ordens estabelecidas. Que suspende a lei por ela não fazer mais sentido à lógica de então.

Poderíamos dizer que Deus ensina Abraão a questionar uma idéia sobre Deus, a transgredir, a romper com essa idéia quando a vida estiver em jogo? Penso que sim! Assim viveu o filho de Deus – Jesus – para quem nenhuma idéia a respeito de Deus valia o preço de esquecer o quase morto à beira do caminho, da exclusão dos pequeninos, da guerra, das estruturas de poder e opressão, da banalização da vida. Para Jesus, a vida é maior que a teologia. Sempre. Deus não defende idéias! O ser humano é a única idéia da qual Deus não abre mão! As outras idéias a respeito de Deus, para Ele, são irrelevantes, relativas e submissas à vida!

A fé de Abraão nos ensina que a revelação pode ser virada do avesso. A segunda voz com quem Abraão “conversa” é simplesmente antagônica à primeira voz. É o oposto! Pura heresia! “Não intui Abraão! Não raciocina! Você já viu Deus voltar atrás?”. Provavelmente, a prática da região de Canaã era que o pai oferecesse o seu filho primogênito em sacrifício. No primeiro “comando” Abraão parece ouvir a voz de Deus em ressonância com a sua cultura.

O paradigma era um. “Deus, se for Deus, tem que agir assim!”, pensa a primeira voz de Abraão! Mas a segunda voz de Abraão pensa: “se Deus for esse que exige sacrifício humano, não serve para mim. Esse não é meu Deus”. E Abraão (com Deus?) inventa, ou melhor, descobre o Deus da compaixão!

A revelação é tão progressiva que pode se virar do avesso, se preciso for, para manter a vida. Uma verdade precisa ser maleável para não sufocar a vida. Um dogma que para se perpetuar vale o preço de deformar o ser humano para se encaixar em sua lógica, precisa ser jogado no lixo!

Se a vida está em jogo troca-se a revelação. Entre a revelação e a vida, Abraão fica com a vida – aprende a heresia por amor! Se a ortodoxia estiver por um fio, ameaçada pela compaixão que clama... às favas com a ortodoxia!

Um paradigma foi superado? Deus, com nossa ajuda, proverá outro! Uma revelação foi posta em xeque? Deus, contando com nossa parceria, proverá para si outra revelação! Uma teologia não faz mais sentido? Jeová Jiré!
Fortaleza - CE
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