Palavra do leitor
- 19 de junho de 2011
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A volta de Deus na teologia contemporânea
Deus é o encanto da teologia. Mas, a despeito do interesse que a teologia tem por Deus, nem sempre conseguiu manter homens atentos para com a realidade de Deus. Em diversos momentos da história a realidade de Deus foi questionada e o centro onde Ele reinava foi desejado. Vejamos neste breve ensaio como isto aconteceu e como o interesse pela realidade divina retornou em épocas recentes.
Antes da modernidade se inserir como uma lente com a qual a realidade seria compreendida, esta era discernida como tendo o seu ponto de partida em Deus. Ou seja, Deus era a base da realidade. Destarte, a teologia, que se propunha a explicar a relação entre Deus e a realidade, dominava o discurso. Não apenas o discurso religioso, mas também os demais campos do conhecimento, pois estes, embora seculares, também estavam sujeito à análise teológica. A Teologia, portanto, buscava encontrar o elo de encadeamento entre Deus e as expressões do conhecimento humano. Este conhecimento estava influenciado e até mesmo aprisionado pelo dogma religioso. A autoridade religiosa falava em nome de Deus como seu porta-voz . A idéia de representação no mundo pré-moderno era intensa. A monarquia absolutista, por exemplo, era a expressão política da compreensão pré-moderna de representação. O soberano rei era ordenado por Deus e esta doutrinação política era resultado do discurso dogmático da religião no que tange este campo de ação . Assim, Deus, era a causa e explicação de tudo quanto existia. O discurso teológico lastreava todas as tentativas de compreensão e descobertas. Assim Deus era a explicação, o encanto, o assombro e “a medida perfeita de todas as coisas” .
Como na pré-modernidade Deus era o fundamento da realidade, o conhecimento sobre Ele era estimulado e para, de fato conhecê-LO, o acesso era a revelação. As Escrituras Sagradas conferiam este acesso, pois suas páginas apresentavam Deus, revelando-se em Cristo. Era desta forma que os teólogos patrísticos e medievais, personagens da era pré -moderna, entendiam. Deus era o Mistério Último .
Este cenário dominou o pensamento ocidental por séculos. Houve, sem dúvida, questionamentos e alternativas, mas a tese sobreviveu até a René Descartes, quando então, um novo paradigma foi apresentado e novas lentes passaram a fazer a leitura acerca da realidade. A razão entre em cena, enquanto que Deus, isto é, o discurso que o tinha como fundamento da verdade, sai.
A Ausência de Deus na Modernidade
Em 1637, em Leiden, na França, René Descartes, publica seu tratado matemático e filosófico, conhecido como "O Discurso do Método". Obra que celebra a razão como critério da verdade. O discurso teológico (e a autoridade eclesiástica) passou a ser questionado. O Cartesianismo foi uma proposta epistemológica, isto é, uma doutrina do conhecimento, porquanto o discernimento da realidade dependeria tão somente do crivo da razão.
A razão passou a ser a autoridade. Para se conhecer era necessário empregar métodos, onde a experiência, a observação científica (empirismo), estabeleceria o que deveria ser crido e o que deveria ser descartado como falso. Este método influenciou profundamente a cosmovisão da sociedade ocidental, até então marcada pelos axiomas do cristianismo. Os campos de saber foram marcados pela ênfase do cartesianismo. A própria teologia foi influenciada, pois, sendo uma área de conhecimento, a razão deveria também ser utilizada na teologia como critério da verdade teológica. A observação cientifica também seria convocada para julgar o discurso religioso.
A própria existência de Deus passou a ser analisada sob o viés do racionalismo. Como os métodos científicos não podiam satisfatoriamente responder as questões levantadas quanto à realidade de Deus, o agnosticismo (a impossibilidade de se conhecer conclusivamente), o deísmo (um Deus existente, mas distante), o panteísmo (um Deus imanente), o panenteísmo (um Deus em que todas as coisas estão contidas), e até mesmo o ateísmo (Deus inexistente) foram confirmados como propostas para explicar tal realidade. David Tracy afirma que “a realidade de Deus foi reformulada a fim de ser adequadamente entendida por uma mente moderna” . Ou seja, como na era moderna o homem se emancipou da religião e a razão tornou — se senhora e juíza de tudo e de todos, as afirmações teológicas precisariam convencer esta razão. Deus, então, que está contido no discurso teológico, semelhantemente, precisava ser analisado sob a perspectiva racionalista.
A influência do racionalismo soprou sobre a teologia. O Liberalismo Teológico Alemão, movimento do final do século XVIII e que chegou ao seu auge no século XIX, empregava elementos do racionalismo para questionar doutrinas históricas do cristianismo.
Continua no próximo artigo...
Antes da modernidade se inserir como uma lente com a qual a realidade seria compreendida, esta era discernida como tendo o seu ponto de partida em Deus. Ou seja, Deus era a base da realidade. Destarte, a teologia, que se propunha a explicar a relação entre Deus e a realidade, dominava o discurso. Não apenas o discurso religioso, mas também os demais campos do conhecimento, pois estes, embora seculares, também estavam sujeito à análise teológica. A Teologia, portanto, buscava encontrar o elo de encadeamento entre Deus e as expressões do conhecimento humano. Este conhecimento estava influenciado e até mesmo aprisionado pelo dogma religioso. A autoridade religiosa falava em nome de Deus como seu porta-voz . A idéia de representação no mundo pré-moderno era intensa. A monarquia absolutista, por exemplo, era a expressão política da compreensão pré-moderna de representação. O soberano rei era ordenado por Deus e esta doutrinação política era resultado do discurso dogmático da religião no que tange este campo de ação . Assim, Deus, era a causa e explicação de tudo quanto existia. O discurso teológico lastreava todas as tentativas de compreensão e descobertas. Assim Deus era a explicação, o encanto, o assombro e “a medida perfeita de todas as coisas” .
Como na pré-modernidade Deus era o fundamento da realidade, o conhecimento sobre Ele era estimulado e para, de fato conhecê-LO, o acesso era a revelação. As Escrituras Sagradas conferiam este acesso, pois suas páginas apresentavam Deus, revelando-se em Cristo. Era desta forma que os teólogos patrísticos e medievais, personagens da era pré -moderna, entendiam. Deus era o Mistério Último .
Este cenário dominou o pensamento ocidental por séculos. Houve, sem dúvida, questionamentos e alternativas, mas a tese sobreviveu até a René Descartes, quando então, um novo paradigma foi apresentado e novas lentes passaram a fazer a leitura acerca da realidade. A razão entre em cena, enquanto que Deus, isto é, o discurso que o tinha como fundamento da verdade, sai.
A Ausência de Deus na Modernidade
Em 1637, em Leiden, na França, René Descartes, publica seu tratado matemático e filosófico, conhecido como "O Discurso do Método". Obra que celebra a razão como critério da verdade. O discurso teológico (e a autoridade eclesiástica) passou a ser questionado. O Cartesianismo foi uma proposta epistemológica, isto é, uma doutrina do conhecimento, porquanto o discernimento da realidade dependeria tão somente do crivo da razão.
A razão passou a ser a autoridade. Para se conhecer era necessário empregar métodos, onde a experiência, a observação científica (empirismo), estabeleceria o que deveria ser crido e o que deveria ser descartado como falso. Este método influenciou profundamente a cosmovisão da sociedade ocidental, até então marcada pelos axiomas do cristianismo. Os campos de saber foram marcados pela ênfase do cartesianismo. A própria teologia foi influenciada, pois, sendo uma área de conhecimento, a razão deveria também ser utilizada na teologia como critério da verdade teológica. A observação cientifica também seria convocada para julgar o discurso religioso.
A própria existência de Deus passou a ser analisada sob o viés do racionalismo. Como os métodos científicos não podiam satisfatoriamente responder as questões levantadas quanto à realidade de Deus, o agnosticismo (a impossibilidade de se conhecer conclusivamente), o deísmo (um Deus existente, mas distante), o panteísmo (um Deus imanente), o panenteísmo (um Deus em que todas as coisas estão contidas), e até mesmo o ateísmo (Deus inexistente) foram confirmados como propostas para explicar tal realidade. David Tracy afirma que “a realidade de Deus foi reformulada a fim de ser adequadamente entendida por uma mente moderna” . Ou seja, como na era moderna o homem se emancipou da religião e a razão tornou — se senhora e juíza de tudo e de todos, as afirmações teológicas precisariam convencer esta razão. Deus, então, que está contido no discurso teológico, semelhantemente, precisava ser analisado sob a perspectiva racionalista.
A influência do racionalismo soprou sobre a teologia. O Liberalismo Teológico Alemão, movimento do final do século XVIII e que chegou ao seu auge no século XIX, empregava elementos do racionalismo para questionar doutrinas históricas do cristianismo.
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