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Palavra do leitor

A vida tem copos quebrados

A vida tem copos quebrados


‘’travessia


ao envelhecer

deixem-me
deixo – me
envelhecer:

como um deserdado
ao folhear poesias desalinhadas
e remexer nas fantasias da gaveta;

ao envelhecer

não se lembrem
não me lembro
não me lembrarei:

quando me tornar parte da nostalgia,
diluída nas águas do passado,
soterrado na incerteza do porvir;

ao envelhecer

deixar – me - ei

lembrar – me – ei

na e da travessia
em páginas solitárias. ’’


A nossa vida pode ser comparada a apresentar na sua trajetória, na narrativa que fazemos, nas palavras fincadas, em nossa biografia, copos quebrados.

Deixo ser mais claro, até o consumar da nossa existência, aqui, neste oikos, vamos vacilar, cometer erros e equívocos, nem sempre seremos dez em tudo, nem sempre estaremos no topo, nem sempre sempre focos de aplausos.

Sem hesitar, embora venhamos não reconhecer, procurarmos fugir disso, assumirmos uma roupagem de tudo beleza, ou seja, de nada nos abala, nos incomoda, nos assusta, nos importuna e no considerado cenário evangélico tal situação se constitui num problema sério.

Digo isso, porque ouvimos uma proposta de fé, como se as personalidades das histórias bíblicas, como Abraão, Davi, Moisés e outros fossem figuras desprovidas de momentos de crises, de querer chutar o balde, de renunciar e de abandonar.

Via de regra, evitamos enfrentar uma realidade incontestável e contundente, porque há muitos copos quebrados que deveriam ter sido removidos dos tapetes para um recomeçar profundo e coerente.

Em outras palavras, a caminhada de Jesus por realidades tangivelmente envolta por tensões, por ambiguidades, por dicotomias, por por que tudo isso, pelo cadê (as promessas, Deus, a verdade, a justiça, a liberdade) abordou esses copos quebrados e não os fez numa auto – promoção de sua santidade, de sua divindade e de sua messianidade.

Vou adiante, a mulher levada para um apedrejamento público, por ter praticado adultério; o centurião Cornélio, a mulher sírio fenícia, Maria Madalena, o coletor de imposto (caricatura de repulsa para o povo), o cergo bartmeu e toda uma constelação de copos quebrados.

É bem verdade, esses as claras e não nos esquecer dos por debaixo dos panos, Nicodemos, os fariseus, os sauduceus e por ai vai. Em meio a tudo isso, Jesus andou diante de todas essas peculiaridades e as tratou, sem submeter as pessoas ao descaso, sem as explorar, como já dito, para obter interesses próprios.

Vá e não peques mais e por que não dizer:

- Vá e permita a remoção dos copos quebrados, olhe para trás e não se remoa, visualize o presente, não como uma penitência e desfrute de cada ciclo da existência, da vida, das inter – relações!

Grosso modo, ria e sorria, brinque nessa ciranda de mudanças e alterações, não veja tudo como um jogo de cartas marcadas, muito menos faça do evangelho um fardo. Deveras, a nossa vida tem e terá copos quebrados, mesmo assim, muitos possam estar debaixo do tapete, escondido e há aquela sensação de vergonha, de deixar lá, de um temor de caso venha a tona – o que vão pensar, vão dizer e vão considerar?

Sinceramente, vá e permita ao Deus ser humano Jesus Cristo remover os copos quebrados, ajudá – ló a tirar lições desses momentos e não fazer da vida uma maldição.

Afinal de contas, vinde a mim todos os que estais cansados e eu os aliviarei, ou seja, os copos quebrados serão tirados para um prosseguir efetivo da vida.

Sabe, muitas vezes, perdemos a oportunidade para tirar os copos quebrados, pedir desculpas e como faz bem essa palavra, dizer obrigado, e como acrescenta, estou contigo, não tenho a nada a dizer e vou ficar ao seu lado, eis aqui pontos cardeais do evangelho de gente para gente, de humanidade, de espiritualidade, de criatividade, de inspiração, de lágrimas, de abraços, de lenitivos, de aconhego, de candura, de transcendência que leva ao próximo, de arte, de vida e viver.

Por ora, Jesus não camuflou nada, jogou limpo e demonstrou o quanto há copos quebrados e, como igreja, também, ao qual não podemos virar as costas para essas constatações e isto implica evitar as caças as bruxas, levantar esconderijos e fingir que tudo se encontra certo, quando não.
São Paulo - SP
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