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Palavra do leitor

A triste situação do professor

Fico pensando na situação do professor... Ele estuda, se prepara, luta e finalmente consegue alcançar o seu objetivo. Agora ele está habilitado para fazer o que sempre desejou, ou seja, dar aula. Ele sonha com uma classe de alunos interessados e dispostos a aprender. E ele anseia por ensinar transmitindo os seus conhecimentos que adquiriu durante tantos anos. O seu maior sonho agora se concretiza.

Com muita expectativa ele então prepara a aula e até já se vê diante dos alunos que imagina estarem com vivo interesse e muita disposição para aprender a lição. Nem lhe passa pela cabeça que ele terá dificuldade para atrair a atenção desse grupo de pré-adolescentes e adolescentes que agora tem diante de si. A primeira aula foi normal e o professor conseguiu se impor diante da classe que parecia sonolenta, mas chegou a realizar algumas tarefas. Mas isto foi só o começo.

A segunda aula foi mais cansativa, mas valeu a pena e as perspectivas são boas levando-se em conta a falta de experiência. É sempre assim: no começo é apenas para se conhecer e se enturmar. Depois, porém, o caldo engrossa, esquenta, derrama e então aparecem os espinhos próprios da profissão. O professor tem que ter muito autocontrole, mas ele é um ser humano e às vezes não consegue aguentar a carga. E muitos choram diante das dificuldades e outros até desistem do magistério em função das lutas que crescem a cada dia. É preciso ter vocação para enfrentar. É preciso acreditar, mesmo que pareça inacreditável. Enfim, é preciso crer que, apesar de tudo, sempre vale a pena.

O professor se prepara e segue para mais uma aula. Ele ainda não está bem refeito da aula anterior, mas agora vai enfrentar mais uma batalha. É a sua vida, afinal foi profissão que ele escolheu. Ele sabe que terá os mesmos problemas, mas não tem escolha. A classe está muito agitada, "pegando fogo" como se diz. Ninguém quer saber de aula e os alunos nem percebem que o professor já entrou na sala e que a aula já começou. A algazarra pode ser ouvida de longe. alunos correm dentro da sala, se juntam em grupinhos no "fundão" para ficarem bem a vontade. Gritam, gesticulam, esmurram as carteiras, empurram as cadeiras, ouvem músicas em seu "aparelhinhos" e alguns jogam baralho. Esta, infelizmente, é a aula normal numa escola pública estadual.

Quando o professor não está aguentando mais tanta bagunça e até pensa em chamar o Inspetor, eis que o sinal soa anunciando o fim da aula. Foram mais de 40 minutos e o professor não conseguiu falar sequer uma palavra. Bem que ele tentou, mas ninguém deu a menor atenção. Agora este professor vai para outra classe e virá outro que, igualmente, vai tentar dar a sua aula. Mas a classe agora parece ainda mais alvoroçada. Na troca de professores muitos alunos saem para fora da sala e o pátio fica parecendo uma feira livre. O Inspetor e o Coordenador agora fazem o duro trabalho de "enfiar" esses alunos de volta na sala. Afinal, a próxima aula já começou.

Fico pensando na triste situação do professor. Eu nem falo em aumento de salário porque isto hoje é um artigo de luxo. Seria repetir o que se fala e se ouve há décadas. Eu falo em aprendizado, comportamento, educação, respeito, aproveitamento e consciência. Hoje, muitos alunos não têm a menor noção do que seja uma escola, uma instituição de ensino. E quando chamamos a tenção, eles, invariavelmente, dizem: "Para que estudar? Eu vou passar de ano do mesmo jeito!". Depois que inventaram a famigerada Progressão Continuada, a maioria dos alunos perdeu o interesse de estudar e o professor já não sabe mais o que fazer para recuperar esse interesse. Daí o que acontece normalmente é o que todo mundo já sabe, ou seja, alunos passam de ano sem nenhuma condição e muitos deles terminam o Ensino Médio semi-analfabetos. Isto significa que o nível do aprendizado cai a cada ano enquanto a bagunça nas salas aumenta a cada dia. Que futuro podemos esperar de um País que não valoriza a sua educação pública? Certamente não será um futuro brilhante, mas obscuro, triste e sem nenhuma perspectiva. Esse, leitor, é o nosso atual quadro educacional.
Mogi Guaçu - SP
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