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Palavra do leitor

A soberania divina e a evangelização (parte 1)

O assunto a ser tratado neste trabalho é um desdobramento de um assunto maior e mais discutido na teologia: a soberania divina e a responsabilidade humana. Para alguns, essas duas verdades são contraditórias, não podendo existir uma se a outra existir, ou seja, estes querem dizer que, ou Deus é soberano e o homem não tem responsabilidade sobre suas ações, ou Deus não é soberano e o homem tem responsabilidade sobre suas ações. Para outros, no entanto, a existência da soberania divina, anula a responsabilidade humana na evangelização, uma vez que os esforços evangelísticos em nada alteram os desígnios de Deus. Aqui não serão abordadas tais discussões, porém a perspectiva Reformada servirá de pressuposto quanto a soberania divina no aspecto geral e na salvação, assim como a responsabilidade humana geral e na evangelização.

O tema em questão, na verdade, está delimitado mais especificamente na soberania de Deus na salvação do homem e na responsabilidade humana da evangelização, pois se Deus fosse soberano sobre todos os outros aspectos da vida e não sobre a salvação, não haveria esta aparente contradição com a responsabilidade humana na evangelização. Desta maneira, pode-se abordar a questão primeiramente expondo e argumentando a soberania divina na salvação do homem e a responsabilidade humana da evangelização; e por último, como se relacionam estas verdades e quais suas consequências práticas.
Ao pregar um sermão sobre a soberania de Deus na salvação, Jonathan Edwards define a soberania de Deus como "Seu direito absoluto e independente de dispor-Se de todas as criaturas de acordo com Sua própria vontade" (EDWARDS, 2018, p. 5). Assim, segundo Edwards, a soberania de Deus é um direito seu, isto significa que a soberania lhe é própria, devida e adequada. De modo que, ao exercer sua soberania, Deus não é injusto, pois executa nada mais que seu próprio direito como criador e mantenedor de todas as coisas. Ainda sobre este direito de ser soberano, ele é absoluto e independente em Deus, e isto está em total acordo com a Confissão de Fé de Westminster quando esta diz que "desde toda a eternidade e pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade, Deus ordenou livre e inalteravelmente tudo que acontece"(ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER, 2008, p. 33). Ademais, a soberania divina é exercida unicamente de acordo com a vontade de Deus, Ele não é restringido, nem limitado em sua vontade, mas age de modo livre e justo. Por certo, é este o entendimento Reformado da questão: Deus é soberano por direito, por isto sua soberania é justa; este é um direito absoluto e independente em Deus e é exercido de maneira livre e irrestrita.

Visto que, Deus é soberano de maneira livre e absolutamente sobre todas as coisas, essa soberania é exercida também na salvação. A Confissão de Fé de Westminster é clara nesta questão ao dizer:

"III. Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.
V. Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade, Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa." (ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER, 2008, p. 36-37).
Inegavelmente, os reformados entendem que Deus não é somente soberano, mas é soberano em todas as coisas, inclusive na salvação. Assim se diferenciado dos arminianos, pelagianos e romanistas que creem em uma salvação sinergista, na melhor das hipóteses. Portanto, na teologia calvinista os esforços humanos em nada alteram a vontade de Deus na salvação, por melhores e mais bíblicos que estes esforços possam ser, pois Deus unicamente por sua vontade já determinou o numero exato daqueles que serão salvos e não por ter previsto que estes fariam alguma coisa (ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER, 2008).

Neste ponto é conveniente ser feito um breve comentário a respeito da vontade divina. Esta vontade é de dois tipos, a vontade preceptiva ou revelada e a vontade decretatória ou secreta (BERKHOF, 2009). A vontade preceptiva ou revelada é a instrução de Deus ao seu povo, sua revelação, aquilo que Ele torna conhecido; a vontade decretatória ou secreta é aquilo que ele deseja que acontecerá, seu plano para a história e que não foi revelado (BEEKE; SMALLEY, 2020). O conceito de vontade preceptiva e decretatória, serão uteis para compreensão entre a vontade divina e a responsabilidade humana na evangelização mais adiante. (continua - parte 2)
Sao Luis - MA
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