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Palavra do leitor

A que Deus eu sigo e sirvo?

"O evangelho para muitos se converteu num passa tempo, destinado a discussões e defesas de convicções e não um meio para ir ao coração do ser humano’’.

Se Deus é bom, por qual motivo, então, encontramos ao folhear as páginas da história humana, como também de situações próximas de nossas realidades, tantas marcas de aflições, de sofrimentos, de injustiças e de impiedades? Se Jesus, o Cristo, se estabelece e é o Messias, por qual motivo não se observa uma mudança significativa, em prol da humanidade? Se os cristãos são os porta-vozes das boas notícias, então, por qual motivo nada se observa de ser a igreja e o cristianismo uma esperança ativa, uma dinâmica criativa da salvação?

Sem sombra de dúvida, o calcanhar de aquiles, um assunto a qual inquieta a todo cristão ocupado com o evangelho, porque os opositores do cristianismo se valem dessas questões. Afinal de contas, pensadores como David Hume, em seus Diálogos sobre a Religião Natural, como Epicuro, Spinoza, os Iluministas e os denominados novos ateus, indiscutivelmente, descartam, por completo, um Deus pessoal, participativo, voltado a se relacionar com o ser humano. Vou adiante, todos esses ecos defendem um Deus como expressão máxima da natureza, impessoal, distante, indiferente, logo, não há nenhum problema com os deuses mitológicos, porque são, lá no fundo, o espelho de nós mesmos.

Anota-se, quando lancei o título, com relação a qual Deus sigo e sirvo, refere-se a constatação de, em muitas situações, na mais estampada realidade, seguimos e vivenciamos uma versão de Deus desafeito a intervir e influenciar, um Deus desencarnado, despersonalizado e desvencilhado de qualquer proximidade conosco. Aliás, apesar de toda uma aparente efusão espiritual e mística, tudo não passa de máscaras e de meras ilusões, porque não se encontra nos seguidores e servos desse Deus a coragem para não se desumanizar, a coragem para não renunciar a doação da vida, a coragem para ser compassivo e chorar diante dos abatidos pelos desajustes da vida, a coragem para discernir o pecado como o estado de alienação do ser humano, a coragem para ser um portador de misericórdia e justiça, de benevolência e recomeço. Nada disso, são os apologistas até de um Deus onipresente, onisciente, onipotente, onividente e onibenevolente, entretato, os seus atos retratam o oposto, porque descrevem algo distante da vida, um Deus hipotético, distante da vida crua e nua (como os amigos de Jó, autênticos ecos de uma divindade hipotética e desencarnada). Não por menos, apregoam, em seus cânticos e orações, em suas doutrinas e teologias, uma versão de amor vaga e evasiva, mais parecida com uma ideia impessoal, indiferente e inócua ou sem efeito.

Diametralmente oposto, o amor do Deus Ser Humano Jesus Cristo, desceu pelas ladeiras de gente, andou pelas vielas de gente, parou para escutar gente, estendeu as mãos para gente, acarretou milagres para gente, enfim, o amor como uma vivacidade que fez a criação e não arredou o pé de entrar nela. Muitos perguntam, onde está o Deus de Gênesis e Apocalipse e, em parte, isto deveria incomodar aos cristãos, porque este mesmo Deus Ser Humano Jesus Cristo, o interpela e me interpela: onde você está? Onde você está, diante dos desesperançados, bem ao seu lado, em todos os domingos? Onde você está, quando pessoas encerram suas vidas, através do suicídio? Onde você está, diante de uma geração de jovens imersos na ilusão das substancias alucinógenas? Onde você está, diante de pessoas violentadas, abusadas, vítimas das mais sórdidas arbitrariedades? Onde você está, quando o abandonado clama por dignidade? Onde você está, quando a verdade, a lealdade e a integridade são rasgadas? Deveras, a qual Deus sigo e sirvo? Será o Deus Ser Humano Jesus Cristo, o Cristo salvador e criador de tudo e de todos? Será o Deus dos fariseus, destilador de vinganças? Indo ao texto de Lucas 22. 39 a 46, encontramos um Deus que responde com intensidade e insistência por nós, um Deus que não foge da realidade, reconhece os efeitos de pessoas afetadas e atingidas pela dor, pelo sofrimento, pela aflição, pela solidão mórbida e, honestamente, será que seguimos e servirmos esse Deus? Quem sabe seguimos e servirmos ao Deus da theosis, expressão grega a qual aponta de o quanto Deus, o Deus da criação ex nihilo, a partir do nada, se tornou como nós, através do Jesus encarnado, dentro da realidade e não uma ideia hipotética e abstrata, para que, por consequência, tornássemos como Ele, não como deuses, mas manifestações da sua maravilhosa graça?
São Paulo - SP
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