A narrativa dos anos dourados

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Existe um novo gênero literário entre os evangélicos, desculpe "evangeliCAIS" brasileiros, já que precisam de outro termo para se separarem do povão que jaz em profunda ignorância. Nessa narrativa os neo-pentecostais (na maioria das vezes o uso do termo neo aqui significa apenas que o narrador não sabe muita coisa de quem ele está falando apenas que não gosta deles) estragaram o movimento evangélico.

Antigamente ser crente era ser sinônimo de ser honesto, trabalhador um modelo para a sociedade, o tipo de pessoa que qualquer descrente contrataria para trabalhar na sua empresa, mas jamais convidaria para uma festa. Nas igrejas os pianos tocavam melodias em perfeita harmonia para os crentes cantarem hinos com letras doutrinariamente ortodoxas antes de sentarem para ouvir um belo sermão expositivo.

Existe uma certa verdade nessa narrativa, mas os anos dourados não eram tão dourados assim. Eram também anos em que enquanto a tortura rolava solta nos porões da ditadura, os líderes eclesiais competiam entre si para ver quem concedia mais apoio aos generais. Eram anos em que qualquer preocupação social fazia do indivíduo ou comunista, ou espírita ou os dois juntos. Qualquer expressão cultural brasileira era rejeitada, e qualquer movimento corporal fazia você correr perigo de ser condenado à parte do inferno reservada aos adúlteros e lascívios. Os protestante históricos consideravam os pentecostais hereges e até mesmo possuídos pelo demônio, e os pentecostais negavam que os históricos tivessem recebido o Espírito Santo.

Sim, existem muitos problemas hoje e escândalos, e o nosso crescimento numérico nos causa problemas. Mas ao focar nos líderes famosos, nas igrejas que estão presentes na mídia, ignoramos muito que está acontecendo. Para cada pastor que ganha um salário exorbitante, dezenas exercem empregos seculares para financiar a sua paixão ministerial. Para cada charlatão, dezenas que passam a noite em oração.

Os "evangelicais" gostam de suas citações de Calvino, Lutero, e etc... Mas foi Lutero quem disse que o cristão é ao mesmo tempo Santo e pecador, a igreja composta de santos pecadores, tanto na Era dourada que nunca foi, como na atual era corrompida.

Vendo algumas notícias, confesso ter vergonha às vezes de ser evangélico, mas partir para um saudosismo...vai ver se eu estou com aquele monte de brasileiro, neo-pentecostais incluídos, querendo ser missionário na China.

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Opinião do leitor