Palavra do leitor
- 03 de fevereiro de 2017
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A Igreja se comove, mas a Igreja não se compadece.
Dias atrás saí de uma igreja, na qual realizamos o Impacto Missionário e estava com excelentes expectativas quanto à adesão das pessoas à causa missionária de evangelismo, recuperação e assistência, entretanto a igreja foi se esvaziando, se esvaziando, sem que ninguém esboçasse qualquer reação referente ao que viram e ouviram; neste evento apresentamos nosso trabalho de recuperação de mendigos, que consta de um vídeo, uma palestra/pregação, além do testemunho de um ex-mendigo. Sim eles aplaudiram o vídeo; sim, eles aplaudiram o testemunho e, ao final, sim aplaudiram a pregação ou o conjunto da obra, não sei ao certo, mas não houve uma alma sequer a preencher nem mesmo o compromisso de oração diária por nós; dirigindo de volta para casa, matutei sobre o que anda acontecendo com esse nosso povo chamado igreja.
Nós da Missão Vida, especificamente nós que participamos do Impacto Missionário, andamos por aí, de púlpito em púlpito relembrando amorosamente a história da viúva pobre, do samaritano (que alguns chamam de bom) e outros tantos exemplos de almas compassivas, caridosas e dispostas a estenderem as mãos; vamos de altar em altar apresentando a luta diária para tirarmos o pobre da pobreza, o miserável da miséria, o triste da tristeza e o faminto da escassez.
E quando fazemos isso, com imagens, palavras e exemplos vivos do poder do Evangelho através do programa de recuperação para tirar o mendigo da situação em que se encontra e levá-lo até outro lugar social, a igreja se comove, às lágrimas, e aplaude a mais não poder, a ponto mesmo de nos deixar constrangidos; só que, a mesma igreja que se comove e aplaude e vai às lágrimas, não se compadece, ela enxuga as lágrimas, apertam nossas mãos e nos despedem com mãos vazias e um olhar entristecido.
A igreja não tem dificuldade alguma em aplaudir, não se embaraça com isso, a igreja tem é uma absurda dificuldade de "ser um com o outro", de sentir a dor e o abandono do próximo, uma vez que "o outro, é apenas o outro" e a "outrofobia" instalada no coração das pessoas nos faz invisíveis, muitas vezes.
Que igreja é essa, meu Deus!
Igreja que tem seu melhor momento no culto a si, no louvor a si, inatingível, inalcançável; que fala de si para si mesma, e vê a compaixão como uma parte interessante a ser incluída em algum ponto obscuro da liturgia. É certo que o amor esfria, e Jesus, o Cristo de Deus nos avisou, mas nem na mais pessimista projeção eu imaginaria algo assim, pois que trocaram a compaixão pelo crescimento a qualquer custo, crescimento horizontal, linearmente proporcional aos sonhos e planos.
A crítica à falta de amor da igreja pelos pobres de Deus passa pela obcecada procura por relevância naquilo que pode ser visto, avaliado e aplaudido (olha os aplausos aí do novo); ao competirmos por relevância, de igual para igual com o sistema vigente a que chamamos de mundo, nos perdemos em nós mesmos, vibramos com os fogos de artifício, que tão bem fazem aos nossos egos, mas não sabemos o que fazer depois que o último brilho deixa de existir e deixa atrás de si um breu calunioso e frustrante; isso é verdade, viver de aplausos é calunioso e frustrante.
Nós, a Missão Vida, temos na igreja evangélica brasileira a nossa maior e mais fiel companheira de caminhada; o alimento, a roupa, as construções, o medicamento, e o sustento material e espiritual vem da Igreja, e em mais de tres décadas a igreja tem tornado possível que milhares de mendigos deixem os becos, calçadas, enfim, a vida pelas ruas e voltem para suas famílias, ou comecem uma família, com dignidade, alegria e amor no coração; cada vez que um ex-mendigo em recuperação volta para contar aos seus o que Deus fez por ele e como se compadeceu dele, eu sinto profunda alegria, mas também um certo aperto no coração, ao perceber que nós, a Igreja, estamos nos distanciando da alegria do serviço do Reino, estamos perdendo a capacidade de nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram.
Nós vamos continuar por aí, de igreja em igreja, de altar em altar falando sobre o amor de Deus através da Missão Vida, contando boas histórias de homens que viram suas vidas viradas pelo avesso a partir da singeleza de um prato de sopa quente, de um abraço e um convite para saírem das ruas.
Nós vamos continuar por aí, nós iremos à sua igreja se você quiser nos receber, e receberemos com alegria cada aplauso, cada gesto comovido, mas esperamos ver também, seu gesto de compaixão, sua mão se abrindo e se estendendo em direção aos que estão por aí, na esquina da igreja, ou mesmo na calçada ali em frente. Deus é Bom.
Alexandre Magno Aquino Duarte (ex-morador de rua) – Diretor da Missão Vida do Paraná
Nós da Missão Vida, especificamente nós que participamos do Impacto Missionário, andamos por aí, de púlpito em púlpito relembrando amorosamente a história da viúva pobre, do samaritano (que alguns chamam de bom) e outros tantos exemplos de almas compassivas, caridosas e dispostas a estenderem as mãos; vamos de altar em altar apresentando a luta diária para tirarmos o pobre da pobreza, o miserável da miséria, o triste da tristeza e o faminto da escassez.
E quando fazemos isso, com imagens, palavras e exemplos vivos do poder do Evangelho através do programa de recuperação para tirar o mendigo da situação em que se encontra e levá-lo até outro lugar social, a igreja se comove, às lágrimas, e aplaude a mais não poder, a ponto mesmo de nos deixar constrangidos; só que, a mesma igreja que se comove e aplaude e vai às lágrimas, não se compadece, ela enxuga as lágrimas, apertam nossas mãos e nos despedem com mãos vazias e um olhar entristecido.
A igreja não tem dificuldade alguma em aplaudir, não se embaraça com isso, a igreja tem é uma absurda dificuldade de "ser um com o outro", de sentir a dor e o abandono do próximo, uma vez que "o outro, é apenas o outro" e a "outrofobia" instalada no coração das pessoas nos faz invisíveis, muitas vezes.
Que igreja é essa, meu Deus!
Igreja que tem seu melhor momento no culto a si, no louvor a si, inatingível, inalcançável; que fala de si para si mesma, e vê a compaixão como uma parte interessante a ser incluída em algum ponto obscuro da liturgia. É certo que o amor esfria, e Jesus, o Cristo de Deus nos avisou, mas nem na mais pessimista projeção eu imaginaria algo assim, pois que trocaram a compaixão pelo crescimento a qualquer custo, crescimento horizontal, linearmente proporcional aos sonhos e planos.
A crítica à falta de amor da igreja pelos pobres de Deus passa pela obcecada procura por relevância naquilo que pode ser visto, avaliado e aplaudido (olha os aplausos aí do novo); ao competirmos por relevância, de igual para igual com o sistema vigente a que chamamos de mundo, nos perdemos em nós mesmos, vibramos com os fogos de artifício, que tão bem fazem aos nossos egos, mas não sabemos o que fazer depois que o último brilho deixa de existir e deixa atrás de si um breu calunioso e frustrante; isso é verdade, viver de aplausos é calunioso e frustrante.
Nós, a Missão Vida, temos na igreja evangélica brasileira a nossa maior e mais fiel companheira de caminhada; o alimento, a roupa, as construções, o medicamento, e o sustento material e espiritual vem da Igreja, e em mais de tres décadas a igreja tem tornado possível que milhares de mendigos deixem os becos, calçadas, enfim, a vida pelas ruas e voltem para suas famílias, ou comecem uma família, com dignidade, alegria e amor no coração; cada vez que um ex-mendigo em recuperação volta para contar aos seus o que Deus fez por ele e como se compadeceu dele, eu sinto profunda alegria, mas também um certo aperto no coração, ao perceber que nós, a Igreja, estamos nos distanciando da alegria do serviço do Reino, estamos perdendo a capacidade de nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram.
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Nós vamos continuar por aí, nós iremos à sua igreja se você quiser nos receber, e receberemos com alegria cada aplauso, cada gesto comovido, mas esperamos ver também, seu gesto de compaixão, sua mão se abrindo e se estendendo em direção aos que estão por aí, na esquina da igreja, ou mesmo na calçada ali em frente. Deus é Bom.
Alexandre Magno Aquino Duarte (ex-morador de rua) – Diretor da Missão Vida do Paraná
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