Palavra do leitor
- 15 de janeiro de 2019
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A igreja e a responsabilidade social
Um dos temas mais difíceis e espinhosos que a igreja tem enfrentado ao longo de sua história é sua relação e sua responsabilidade com as demandas e questões sociais. Como e por que se envolver na Política enquanto ferramenta de transformação social de uma comunidade, cidade ou país? Vemos nos Evangelhos vários momentos em que Jesus se envolvia diretamente e com muito amor com os desafios e necessidades da sociedade onde Ele havia se encarnado. Certo dia, "percorrendo cidades e povoados, vendo as multidões, ‘compadeceu-se delas’, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor". (Mt 9.35-36). No Velho Testamento, Deus, através do profeta Jeremias, convida o povo a "procurar a paz da cidade, para onde vos fiz transportar em cativeiro, e orar por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz." Jr 29.7. Vemos nestes dois textos um ensino que nos leva a entender a importância e urgência da missão da igreja militante, aquela formada por aqueles que foram remidos por Cristo, mas que ainda estão no mundo e são convidados a não se moldarem por ele, mas a serem transformados e, portanto, agentes de transformação (Rm 12.2).
Lançado recentemente em Brasília, o livro "Porque Deus amou o mundo – Igreja e os ODS" - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, analisa a participação do Terceiro Setor e das comunidades e organizações cristãs com a AGENDA 2030 – um plano de ação das Nações Unidas estabelecido em setembro de 2015 com o objetivo de erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade (http://www.agenda2030.com.br/). Embora muitos critiquem a atuação da ONU (ou sua inércia, em alguns casos) diante dos milhares de desafios em todas as partes do mundo, esta organização tem sido, muitas vezes, a última trincheira para desatar os nós que dividem pessoas, etnias, religiões. A proposta, embora muito difícil de ter todos seus objetivos alcançados em pouco mais de uma década, é, na verdade, como um grito de alerta para uma humanidade que tem falhado em cuidar de si e de sua casa, o planeta Terra. Planeta este que, de tão belo, diz o autor de Gênesis: "E viu Deus que isso era bom".
Um dos maiores pensadores da história da igreja cristã, o reformador João Calvino, diante dos graves problemas sociais que afligiam Genebra e a Europa no século XVI, tais como impostos pesados, baixos salários e jornadas extensas de trabalho, analfabetismo, ignorância, falta de assistência social por parte do Estado, embriaguez e prostituição, dizia que "a restauração inaugurada por Cristo ocorre inicialmente no seio da Igreja. É na Igreja que a ordem primitiva da sociedade, tal qual Deus havia estabelecido, tende a ser restaurada." Fundamental para entendermos o pensamento do teólogo francês nesta área é termos em mente que para ele as causas da pobreza, miséria e a opressão, bem como da perversão e da corrupção da sociedade humana, estavam enraizadas na natureza decaída do homem, que por sua vez, remonta-se à Queda no Éden. No processo de restauração da sociedade, Calvino resumiu seu ensino em três aspectos fundamentais. Segundo ele, a Igreja tinha um ministério didático, um político, e um social.
Nesse diapasão, várias organizações e ONGs cristãs têm desenvolvido um trabalho hercúlio e impactante na vida de milhões de pessoas no Brasil e no mundo numa jornada constante de construção e reconstrução da cidadania e da dignidade humanas, não competindo com o Estado, mas concomitante a este, auxiliando-o diante das infinitas demandas. Cito aqui: Visão Mundial, Tearfund, Childfund, RENAS, Exército de Salvação, Missão Vida, Desafio Jovem, Rede Miqueias, entre outras.
Portanto, a obra de restauração realizada por Cristo não se limita apenas à nova vida dada ao indivíduo, mas abrange a restauração de todo o universo — o que inclui a ordem social e econômica. Desta forma, a atenção da igreja e dos cristãos deve se estender para além das questões individuais e "espirituais". Se Cristo é o Senhor de toda a existência humana (Cl 1.16) que cremos e pregamos, é dever da Igreja dar atenção e se engajar nas questões sociais e políticas colaborando com planos e projetos em nível mundial, como os da ONU, bem como com as políticas públicas nacionais e locais que visam à construção de uma sociedade mais inclusiva, justa e sustentável. Mais do que um convite, participar desta grande coalizão é um privilégio e uma responsabilidade dada àqueles que um dia foram alcançados pelo "Ágape" do Verbo divino, o amor que se doa, o amor incondicional, o amor que se entrega.
Presbítero Tony
faos.ead@gmail.com
Graduado em Liderança - Haggai Institute
Lançado recentemente em Brasília, o livro "Porque Deus amou o mundo – Igreja e os ODS" - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, analisa a participação do Terceiro Setor e das comunidades e organizações cristãs com a AGENDA 2030 – um plano de ação das Nações Unidas estabelecido em setembro de 2015 com o objetivo de erradicar a pobreza, proteger o planeta e garantir que as pessoas alcancem a paz e a prosperidade (http://www.agenda2030.com.br/). Embora muitos critiquem a atuação da ONU (ou sua inércia, em alguns casos) diante dos milhares de desafios em todas as partes do mundo, esta organização tem sido, muitas vezes, a última trincheira para desatar os nós que dividem pessoas, etnias, religiões. A proposta, embora muito difícil de ter todos seus objetivos alcançados em pouco mais de uma década, é, na verdade, como um grito de alerta para uma humanidade que tem falhado em cuidar de si e de sua casa, o planeta Terra. Planeta este que, de tão belo, diz o autor de Gênesis: "E viu Deus que isso era bom".
Um dos maiores pensadores da história da igreja cristã, o reformador João Calvino, diante dos graves problemas sociais que afligiam Genebra e a Europa no século XVI, tais como impostos pesados, baixos salários e jornadas extensas de trabalho, analfabetismo, ignorância, falta de assistência social por parte do Estado, embriaguez e prostituição, dizia que "a restauração inaugurada por Cristo ocorre inicialmente no seio da Igreja. É na Igreja que a ordem primitiva da sociedade, tal qual Deus havia estabelecido, tende a ser restaurada." Fundamental para entendermos o pensamento do teólogo francês nesta área é termos em mente que para ele as causas da pobreza, miséria e a opressão, bem como da perversão e da corrupção da sociedade humana, estavam enraizadas na natureza decaída do homem, que por sua vez, remonta-se à Queda no Éden. No processo de restauração da sociedade, Calvino resumiu seu ensino em três aspectos fundamentais. Segundo ele, a Igreja tinha um ministério didático, um político, e um social.
Nesse diapasão, várias organizações e ONGs cristãs têm desenvolvido um trabalho hercúlio e impactante na vida de milhões de pessoas no Brasil e no mundo numa jornada constante de construção e reconstrução da cidadania e da dignidade humanas, não competindo com o Estado, mas concomitante a este, auxiliando-o diante das infinitas demandas. Cito aqui: Visão Mundial, Tearfund, Childfund, RENAS, Exército de Salvação, Missão Vida, Desafio Jovem, Rede Miqueias, entre outras.
Portanto, a obra de restauração realizada por Cristo não se limita apenas à nova vida dada ao indivíduo, mas abrange a restauração de todo o universo — o que inclui a ordem social e econômica. Desta forma, a atenção da igreja e dos cristãos deve se estender para além das questões individuais e "espirituais". Se Cristo é o Senhor de toda a existência humana (Cl 1.16) que cremos e pregamos, é dever da Igreja dar atenção e se engajar nas questões sociais e políticas colaborando com planos e projetos em nível mundial, como os da ONU, bem como com as políticas públicas nacionais e locais que visam à construção de uma sociedade mais inclusiva, justa e sustentável. Mais do que um convite, participar desta grande coalizão é um privilégio e uma responsabilidade dada àqueles que um dia foram alcançados pelo "Ágape" do Verbo divino, o amor que se doa, o amor incondicional, o amor que se entrega.
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